Em meio ao agravamento da situação em Mianmar, as Nações Unidas prometeram presença contínua e solidariedade ao povo
Da redação, com Vatican News
Domingo, 1º de agosto, marcará 6 meses desde o golpe militar em Mianmar, que lançou a nação empobrecida em uma crise em espiral com sérias repercussões políticas, socioeconômicas, de direitos humanos e humanitárias sobre o povo, disse a Organização das Nações Unidas (ONU).
O coordenador residente e humanitário em exercício da ONU, Ramanathan Balakrishnan, explicou como as pessoas foram severamente afetadas em todo o país desde que a junta derrubou a líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, eleita em 1º de fevereiro. Desde então, a força de segurança militar vem reprimindo de maneira severa os manifestantes e seus apoiadores. “A situação no país é caracterizada agora por instabilidade e deterioração da situação socioeconômica e de segurança e, para piorar, temos uma terceira onda violenta de Covid-19”, disse Balakrishnan.
Deslocamento crescente
Destacando a natureza contínua da resistência armada às forças de segurança militares “em várias áreas de minorias étnicas”, incluindo nos estados de Shan, Chin e Kachin, o representante da ONU disse que mais de 200 mil pessoas foram expulsas de suas casas até o momento.
De acordo com o Plano de Resposta Humanitária da ONU, antes do golpe, Rakhine já tinha cerca de 1 milhão de pessoas, incluindo deslocados internos (PDI, na sigla em inglês), com necessidade urgente de ajuda. “Este número apenas aumentou”, lamentou Balakrishnan.
De forma mais ampla, “após o golpe, outros dois milhões foram identificados como pessoas com necessidade urgente de ajuda humanitária, principalmente nas áreas urbanas de Yangon e Mandalay”. A intensificação dos confrontos e o agravamento da situação socioeconômica empurraram “dezenas de milhares de pessoas” para um espaço humanitário.
Balakrishnan ecoou as preocupações sobre os abusos de direitos pelo Fundo das Crianças da ONU, UNICEF e outros, e condenou o uso contínuo e generalizado de força letal pelos militares contra manifestantes civis.
Em uma postagem no Twitter, o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários estimou que mais de 220 mil pessoas foram deslocadas por conflitos e insegurança desde o golpe.
Crise alimentar só cresce
Balakrishnan explicou que um aumento no preço dos produtos básicos levou a “uma redução do valor nutricional da cesta de alimentos que as pessoas geralmente tomam ao substituir seus alimentos regulares por itens mais baratos e mais facilmente disponíveis”. Nesse sentido, as prioridades da ONU incluem garantir que milhões de pessoas não caiam mais na fome.
O funcionário da ONU também observou que o sistema de saúde de Mianmar está sob extrema pressão por causa da crise do coronavírus, bem como de ataques ao pessoal e instalações médicas. Além disso, há também um movimento de desobediência civil por parte de alguns profissionais de saúde contra a junta, que Balakrishnan disse ter interrompido até serviços básicos em todo o país.
Fontes dizem que como os hospitais estão vazios e os cuidados de saúde praticamente inexistentes, devido ao movimento de desobediência civil, os voluntários vão de casa em casa para prestar cuidados de saúde e recolher corpos para enterros.
O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) estima que quase metade da população de Mianmar pode cair na pobreza no início de 2022, dobrando a taxa de 2017. A economia deve se contrair 10% em 2021. Perdas de empregos, altos preços de alimentos e combustíveis, além da redução das remessas, estão afetando o acesso das famílias vulneráveis aos alimentos, especialmente as famílias que vivem em assentamentos informais na periferia das cidades. O cenário foi agravado pela terceira onda de infecções por Covid-19 que atualmente assola o país.
Ao lado do povo de Mianmar
Apesar do agravamento da situação, com o acesso limitado da ONU às áreas de crise, problemas no sistema bancário que limita a capacidade de transferir fundos para parceiros humanitários, Balakrishnan prometeu solidariedade e proximidade da ONU com o povo.
“A ONU continuará a denunciar as violações dos direitos humanos e está empenhada em ficar e prestar assistência humanitária que salva vidas ao povo de Mianmar”, prometeu.