No Rio Grande do Sul, Igreja Católica tem mobilizado iniciativas de ajuda humanitária e reforça que é preciso continuar no serviço aos atingidos pelas enchentes
Fernanda Lima,
Da Redação
O Dia Internacional da Solidariedade Cristã, celebrado neste sábado, 10, destaca um dos valores humanos fundamentais para o desenvolvimento adequado das relações entre as pessoas e as nações. Ser solidário é praticar um ato de bondade e compreensão com o próximo. Algo vivenciado recentemente pelos brasileiros diante da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul no mês de maio.
Entre o final do mês de abril e início de maio deste ano, fortes chuvas atingiram o estado gaúcho, causando enchentes que atingiram 447 de seus 497 municípios. A tragédia deixou um rastro de destruição, mortes e milhões de desabrigados. Após três meses desta calamidade, a vida da maioria da população ainda não voltou ao normal. Há pessoas sem moradias que seguem em abrigos, destroços espalhados pelas cidades, pessoas enlutadas após perder parentes e amigos e outras tantas precisando recomeçar do zero.
Empatia de todo o Brasil
“A Igreja do Rio Grande do Sul se sente como um hospital de campanha”, afirma o presidente do Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – correspondente ao estado do Rio Grande do Sul – e arcebispo de Santa Maria (RS), Dom Leomar Antônio Brustolin, parafraseando o Papa Francisco.
O arcebispo destaca que existem “demandas urgentes e concretas”, mas, com esperança, é possível retirar “lições e aprendizados significativos dessa situação”.
“A empatia do povo brasileiro e sua solidariedade nas doações, orações e mensagens revelaram a grandeza de nos sentirmos uma nação de irmãos, na qual a amizade social também se concretiza na hora da dor”, enfatiza.
Dom Leomar disse que os bispos do estado têm consciência de que é hora de “fortalecer a esperança que nasce do Crucificado e remete à condição Pascal”. “Provavelmente nossa maior prioridade seja suscitar uma espiritualidade capaz de superar o desânimo e o cansaço, promovendo a proximidade e o encontro que são expressões da presença de Deus em meio a este calvário”, destaca.
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1940, “a solidariedade se manifesta, em primeiro lugar, na repartição dos bens e na remuneração do trabalho. Implica também o esforço por uma ordem social mais justa, em que as tensões possam ser resolvidas melhor e os conflitos encontrem mais facilmente uma saída negociada”.
É tempo de cuidar do RS
Diante de tamanha tragédia, muitas instituições e entidades se mobilizaram para auxiliar o povo gaúcho. A CNBB intensificou esforços associando a causa do Rio Grande do Sul à já consolidada campanha “É tempo de cuidar”, e tem realizado a iniciativa chamada “É tempo de cuidar do RS”.
“Acrescentando a sigla do estado do Rio Grande do Sul, a iniciativa ganhou especificidade e muitas propostas de eventos que colaboraram com doações para as vítimas das chuvas no estado”, enfatiza Dom Leomar. O presidente do Regional Sul 3 da CNBB, explica que, desde o início desta calamidade, a ajuda da Igreja têm acontecido de diferentes maneiras:
“Durante a emergência climática, os bispos do Rio Grande do Sul se reuniram virtualmente diversas vezes para compartilhar as preocupações e desafios de cada região do estado. Em seguida, formou-se uma comissão somente com os bispos que tinham suas regiões atingidas pelas enchentes. Num terceiro momento, formou-se uma comissão de bispos, profissionais da psicologia, da educação, e da área militar com estratégias em situações de risco, a fim de estabelecer critérios para distribuir os recursos arrecadados por doações na campanha.”
A partir dessa organização, a primeira decisão foi de providenciar equipamentos de proteção individual, especificamente botas e luvas, para a limpeza de milhares de casas, evitando que os voluntários e moradores contraíssem doenças. Na fase atual, prossegue o arcebispo, as doações estão sendo direcionadas para projetos autorizados por bispos das regiões atingidas pelas enchentes. “Esses projetos visam colaborar na reposição de eletrodomésticos e móveis de quem tudo perdeu, especialmente as paróquias e ações caritativas de cada diocese, com sua capilaridade, estão monitorando estas demandas”, esclarece.
Comunidade Filhos da Cruz
Suzana Felber, da Comunidade Filhos da Cruz, atua nos trabalhos voluntários na cidade de Eldorado (RS). Ela comenta que ainda há muito a ser feito e que toda ajuda é bem-vinda. “Já passaram-se três meses, e muitos dos que se colocaram a serviço como voluntários em maio, hoje, já retomaram suas vidas ao seu ritmo normal, o que ocasionou na baixa mão de obra para doar seu tempo a trabalhos mais eficazes nestas mudanças”, observa.
“Além das políticas públicas que deveriam funcionar de forma mais fluida a dar este suporte”, prossegue a missionária. “Hoje, somos poucos em vista de um grande rebanho machucado. Há tantos que podem ainda se levantar em serviço de amor e oração aos que sofrem”, expressa.
O pároco da igreja Nossa Senhora Medianeira em Eldorado, padre Fabiano Glaser, afirma que, apesar de tanto sofrimento causado pelas enchentes, a esperança ainda prevalece. “Por ser uma enchente histórica, que atingiu locais nunca antes atingidos, e porque foi a terceira enchente em nove meses, há pessoas em Eldorado do Sul que perderam tudo pela terceira vez. Apesar disso, há muita resiliência”, sublinha.