Cabo Delgado, em Moçambique, sofre com terrorismo; situação já causou mais de duas mil mortes e deslocamentos internos
Da Redação, com Fundação AIS-ACN Portugal
A ameaça terrorista, nomeadamente por parte de grupos ligados ao extremismo jihadista, está crescendo em várias regiões da África, em especial em Cabo Delgado. A situação estará no centro da atenção da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) ao longo de 2021.
O presidente executivo internacional da AIS, Thomas Heine-Geldern, define como “muito preocupante” a situação em diversos países do Sahel, mas também em Moçambique, onde a região norte do país tem sido palco de ataques violentos por parte de grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, o auto-proclamado Estado Islâmico.
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“O extremismo religioso dos islamitas violentos e radicais está a aumentar e ameaça destruir a coexistência pacífica existente entre Cristãos e Muçulmanos nesses países, à medida que os extremistas lutam pelo poder e pelos recursos econômicos”, diz Heine-Geldern em entrevista na qual aborda as prioridades da instituição para o ano que está começando.
Os ataques em Moçambique começaram em outubro de 2017. Estima-se que, até hoje, tenham morrido mais de duas mil pessoas e mais de 600 mil estejam deslocadas internamente. Ao longo do ano passado, houve um aumento de violência, com pessoas decapitadas, vilas e aldeias que caíram nas mãos dos jihadistas e muitas pessoas sequestradas.
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Perante esse cenário de horror, a Fundação AIS decidiu apoiar, em novembro, as dioceses envolvidas no acolhimento aos deslocados com uma ajuda de emergência no valor de 100 mil euros. É uma ajuda que, como explica a chefe de Departamento de Projetos da Fundação AIS a nível internacional, Regina Lynch, “procura aliviar o sofrimento e trauma” destas populações que têm sido vítimas da violência mais brutal.
Regina recorda o rastro de destruição e medo causado pelos terroristas e lembra a forma tímida com que a comunidade internacional tem lidado com esta situação, apesar das palavras do Papa Francisco, do esforço de alguns eurodeputados portugueses e dos alertas constantes por parte da Igreja local, nomeadamente do bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa.
“Queimaram igrejas e destruíram conventos, e também raptaram duas irmãs religiosas. Mas quase ninguém prestou atenção a este novo foco de terror e violência jihadista em África, o qual está a afetar todos, tanto Cristãos como Muçulmanos. Esperemos que haja finalmente uma resposta a esta crise no norte de Moçambique, em nome dos mais pobres e mais abandonados”, diz Regina Lynch, exprimindo a preocupação da AIS pela situação em Moçambique.