2 meses após viagem

Seminário on-line reflete sobre o legado deixado pelo Papa no Iraque

Evento popularmente conhecido como “webinar” aconteceu dois meses após a viagem de Francisco ao país do Oriente Médio

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco acena para os fiéis iraquianos em Erbil, no Iraque, durante visita em março passado/ Foto: REUTERS/Yara Nardi

Dois meses após a visita do Papa Francisco ao Iraque, o Alto Comitê para a Fraternidade Humana (HCHF) realizou um seminário on-line sobre o legado deixado pelo Pontífice ao país do Oriente Médio. O evento, popularmente conhecido como webinar, foi intitulado “Um Momento de Fraternidade Humana: O impacto da histórica visita do Papa Francisco ao Iraque”.

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O webinar reuniu personalidades políticas e líderes religiosos. Entre os convidados estavam os cardeais Raphael Louis Sako e Miguel Angel Ayuso Guixot, respectivamente Patriarca Caldeu de Bagdá e Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Ambos os purpurados estiveram ao lado do Papa durante sua peregrinação ao Iraque.

Atualmente, o país vive resquícios de guerras e lutas fratricidas, além de dificuldades causadas pela pandemia do coronavírus. Francisco visitou o Iraque entre os dias 5 e 8 de março de 2021. A viagem foi definida por unanimidade como “histórica” pelos palestrantes. Isso se deve principalmente aos planos de colaboração entre cristãos e muçulmanos. 

A importância da visita para todo o Oriente Médio

Todos ofereceram um ponto de vista pessoal sobre a natureza humanitária e sobretudo inter-religiosa da primeira viagem de um Pontífice ao Iraque. Foi destacada a importância da visita para todo o Oriente Médio e para a fraternidade humana global. Uma reflexão sobre os próximos passos na reconstrução do país foi realizada. 

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Os palestrantes frisaram a necessidade de começar uma mudança a partir do tecido social. O objetivo é que as mudanças cheguem também às infraestruturas e à esfera cultural. O Iraque apresenta enorme potencial para promover a estabilização, a reconciliação e a esperança de um futuro melhor.

Sako: um plano comum para desenvolver as indicações do Papa

O Patriarca Sako concentrou-se precisamente no futuro. Ele expressou a esperança de uma visão e de um plano de trabalho comum entre Igreja e política, cristãos e muçulmanos. O objetivo é implementar o que o Papa indicou em seus discursos e reuniões durante as 72 horas em solo iraquiano.

O ponto de partida é a consciência de que “nós somos parte de você e você é parte de nós”. Esta mesma expressão se destacou em vários cartazes colocados nas ruas de Bagdá. Eles retratavam o Pontífice e o grande ayatollah dos xiitas Ali al-Sistani.

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“O Papa confirmou que a única maneira de percorrer o caminho da paz, estabilidade, liberdade e dignidade de todo ser humano, como base da coexistência, é através do controle de armas”, disse Sako.

O Pontífice exortou o clero a fazer das religiões “uma fonte de respeito mútuo, reconciliação, paz e estabilidade na região e no mundo”, apontou o cardeal. Também o Santo Padre incentivou educadores a transmitir às novas gerações os fundamentos, os pontos comuns, os valores espirituais e morais dos diferentes credos religiosos.

Os políticos também foram chamados a renovar seu compromisso de servir seus cidadãos. O cardeal agradeceu então aos Emirados Árabes Unidos por seu trabalho no campo da tolerância religiosa, cultural e social e pela criação de um Ministério da Tolerância. 

Ayuso: a viagem, um marco no caminho inter-religioso

Por sua vez, o Cardeal Ayuso concentrou-se nos gestos e palavras do Pontífice. Com destaque para os discursos deixados em Bagdá, Ur, Erbil e Mosul.

“Creio que, sem qualquer retórica, podemos dizer que a visita do Papa Francisco foi outro marco no caminho do diálogo inter-religioso”, disse. Ele relatou sua experiência como “cristão” que sofreu ao ver com seus próprios olhos a devastação do país, mas também como testemunha ocular dos grandes acontecimentos que caracterizaram a viagem do Pontífice.

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A visita privada a al-Sistani, segundo Ayuso, “contribuiu para a construção de uma fraternidade entre cristãos e muçulmanos”. O encontro em Ur, terra na qual Abraão iniciou sua viagem na história, foi também uma ocasião “para redescobrir as razões da convivência entre irmãos, de modo a reconstruir um tecido social além das facções e grupos étnicos”.

Projeto da UNESCO para Mosul reviver

A aplicação prática destes objetivos são os muitos projetos planejados ou já em andamento. Alguns deles foram listadas pelo dominicano padre Poquillon. O sacerdote se concentrou especialmente na iniciativa lançada em fevereiro de 2018 pela diretora geral da UNESCO, Audrey Azoulay, intitulada “Revive the Spirit of Mosul” (“Reavivar o espírito de Mosul”).

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O projeto é uma resposta, explicou o dominicano que faz parte do Comitê Técnico Conjunto, para a recuperação de uma das cidades icônicas do Iraque, devastada pela fúria jihadista. A recuperação entendida não apenas como reconstrução dos locais da cidade, mas também o empoderamento da população como agentes de mudança através da cultura e educação.

“Não existe um destino paralelo para comunidades diferentes”, disse Poquillon, “compartilhamos a mesma origem e, portanto, também as mesmas responsabilidades”.

Abdelsalam: o Papa no Iraque, uma visita significativa para toda a região árabe

Na conclusão do encontro on-line, o Juiz Abdelsalam lembrou da “Fratelli tutti”. O documento foi apresentado por ele mesmo no Vaticano, juntamente com outros oradores, em 4 de outubro de 2020. A encíclica do Papa Francisco nos lembra que “somos todos irmãos”. E como irmãos, “o Iraque está em nossos corações”, acrescentou.

“O país constitui um maravilhoso mosaico para a coexistência humana. Mas este quadro foi ensanguentado pelo sangue de suas crianças inocentes que pagaram o preço de guerras e conflitos que duraram décadas e foram vítimas de um terrorismo negro que destruiu mesquitas e igrejas, deixando uma grande ferida no corpo do Iraque”.

Estes dramas emocionaram o coração do Papa que Abdelsalam – como ele mesmo confiou – tinha encontrado exatamente um mês antes da viagem apostólica: “O Santo Padre me disse que, quaisquer que fossem as dificuldades, ele iria de qualquer modo ao Iraque para a unidade do povo”. É precisamente esta unidade que é o caminho a seguir, dois meses após a visita do Pontífice. “Colaboremos – foi o convite do Secretário do Comitê para a Fraternidade Humana – e pensemos sobre o que fazer no futuro para dar algo a este querido país”.

 

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