Padres destacam riqueza do sacramento da reconciliação em especial na Quaresma; confissão leva fiéis a experimentarem a misericórdia divina
Nathália Cassiano
Da Redação
O período quaresmal é um tempo de aproximar-se mais de Deus, momento que leva os cristãos a refletirem sobre a fidelidade a Cristo, com renovado empenho para um fortalecimento espiritual. Nessa caminhada, os católicos podem contar, em especial neste tempo, com o sacramento da reconciliação ou confissão.
Na reta final rumo à Páscoa, é comum os fiéis buscarem se confessar para bem viver este momento de conversão. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a conversão não é apenas uma obra humana, mas de Deus e se torna concreta através do sacramento da reconciliação (1426).
Confissão: voltar-se para Deus
O doutor em Teologia Bíblica da Comunidade Shalom, padre Thiago de Freitas, diz que o sacramento da confissão acaba sendo uma oportunidade para os fiéis se voltarem para Deus. Assim, como consequência, podem corresponder ao projeto de santidade. Ele ressalta que não é um sacramento simplesmente “como meio para comungar”. “O sacramento da confissão é um momento de reconciliação com Deus, comigo mesmo e com os irmãos”, afirma.
O sacerdote destaca a confissão como um ato que une e leva cada filho a experimentar a misericórdia do Pai, que acolhe e, através do sacerdote, convida para mais perto de Deus. Quando o pecado original entrou na vida de cada homem, a aliança com o Senhor foi quebrada, porém com o sacramento da reconciliação a aliança se constitui novamente.
Nessa lógica, o pecador arrependido pode experimentar, simultaneamente, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja. Quem explica é o assessor da Comissão para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Luiz Henrique Brandão.
“Se faz necessário recorrer a este sacramento, sobretudo neste tempo forte no qual a Igreja faz ressoar mais uma vez o apelo à conversão e a volta para o amor de Deus”, pontua o padre.
Confissões individual e comunitária
A Igreja, no Código de Direito Canônico, ensina que a confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo ordinário, com o qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja. Somente a impossibilidade física ou moral escusa de tal confissão; neste caso, pode haver a reconciliação também por outros modos. (Cân. 960).
Assim, padre Luiz Henrique explica que as confissões comunitárias, pelas quais se dá a absolvição geral para os penitentes, podem ser feitas desde que cumpram algumas exigências postas pelo Código do Direito Canônico:
1º – haja iminente perigo de morte e não terá tempo para que os sacerdotes ouçam a confissão de cada um dos penitentes.
2º – haja grave necessidade, isto é, tendo-se em conta o número de penitentes, não há à disposição abundância de confessores para ouvirem devidamente as confissões de cada um, dentro de um tempo conveniente, de modo que os penitentes, sem culpa própria, seriam forçados a ficar muito tempo sem a graça sacramental ou sem a sagrada comunhão.
Além disso, é interessante lembrar que para um fiel lucrar validamente a absolvição dada simultaneamente a muitos, requer disposição e que ao mesmo tempo a pessoa se proponha a procurar confissão individual no tempo oportuno (Cân. 962 – § 1).
Como se preparar para uma boa confissão
Segundo o padre Luiz Henrique, o melhor modo para se preparar é através da oração. Este é um momento em que o fiel pede a Deus a consciência dos próprios pecados e um verdadeiro arrependimento deles.
Um segundo passo seria se preparar com um breve exame de consciência diante da Palavra de Deus. A proposta deste exercício é conhecer e reconhecer onde não existe correspondência com o devido amor ao Senhor que ama cada um de seus filhos.
Encontro com a misericórdia do Pai
Papa Francisco recorda o sacramento da confissão como o mistério da misericórdia. Quando um fiel recebe o perdão de Deus, é sempre um encontro real de salvação, na qual o abraço do Senhor é capaz de mudar, converter, curar e perdoar.
Francisco destaca a alegria em torno do ato de aproximar-se do Senhor. O Pontífice lembra que se trata de um encontro de amor e misericórdia.
“Rezemos para que vivamos o sacramento da reconciliação com uma profundidade renovada, para saborear o perdão e a infinita misericórdia de Deus”, pede o Papa.
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Padre Luiz destaca, por fim, que a confissão oferece, na fé, a possibilidade de correr para os braços do Pai Misericordioso. Nele, é possível encontrar forças para recomeçar o caminho com o Senhor e com os irmãos.
“É a experiência de um amor mais forte que a morte que, por isso, é capaz de vencê-la com o perdão”, conclui.