Jovem que atua em projeto para ajudar refugiados destaca: “Enxergar a necessidade do outro passa pela experiência de abandonar nossos egoísmos e excessos”
Ronnaldh Oliveira
Da Redação
A personagem de hoje do quadro “Rosto da Ressurreição” reside em Pindamonhangaba (SP). É advogado, Mestrando em Desenvolvimento Humano e pós-graduando em Advocacia Consultiva. Pedro Brígido têm 24 anos, possui três irmãos. Perdeu seu pais aos 18 anos, vítimas de reumatismo. Dentre tantos trabalhos que realiza em prol de uma sociedade melhor, dedica-se com entusiasmo na inserção social de refugiados venezuelanos que chegam ao Brasil diariamente.
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O jovem participa efetivamente como líder de um projeto de extensão universitária que tem como foco auxiliar venezuelanos na língua portuguesa e na introdução ao mercado de trabalho, no novo país.
A missão de Ressurreição
O público atendido é variado. Há aqueles que já concluíram o ensino superior, mas também outros que não conseguiram terminar o ensino básico em seu país. “Há crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Possuem uma sede muito grande pelo aprender”, relata Pedro.
“Colaboro introduzindo-os na cultura de nosso país. Falamos das leis trabalhistas, de educação e saúde. Faço exercícios de vocabulário, facilitando-os com o idioma brasileiro.”
Pedro e os demais jovens que participam do projeto empaticamente adentram a realidade que os refugiados ocupam. “Tudo isso precisa ser refletido. Eles são pessoas de direito. Se não entendermos isso, acabamos por rotular essas pessoas. Não merecem mais esse sofrimento. É um processo duplo de consciência deles e nossa. Não são imigrantes ou refugiados, mas estão nesta condição. Não podem se resumir a isso”, afirma o jovem.
“Essas pessoas não tinham alguém para abraçar, para conversar. Gosto muito de sorrir com elas, tomar café, ouvir música, saber de suas culturas. Isso também é promover vida”, acredita o advogado.
A motivação
Para responder sobre o que o motiva, Brígido olha para a sua vida: “O que me motiva é ser justamente a mão que ninguém me estendeu. Sabe quando você passa por ‘perrengues’ e você olha para o lado e não encontra ninguém? Senti-me assim várias vezes. Quando meu pai faleceu, foi muito doloroso pra mim. Foi uma perda muito grande, e eu me senti muito sozinho. Antes dele falecer, me disse: ‘Quando alguém precisar de você, sempre esteja ali. Ajude sua mãe e quem mais precisar!’. Assumi esse pedido pra minha vida”, partilhou Pedro emocionado.
As pedras encontradas no Sepulcro
Ao pensar sobre a pergunta, o jovem de 24 anos respondeu que não retira as pedras encontradas no caminho. “Há pedras que não conseguimos retirar. São pesadas demais e somos seres limitados. O que eu faço é olhar a pedra com novos olhos. Atribuo a elas uma nova visão. Eu digo à população que atendo: ‘Ali está a pedra, mas não temos força para retirar agora. Vamos entendê-la para ver o que podemos fazer agora! ’”.
O que o jovem executa junto dos refugiados não é a sua especialização, mas entende que o amor e a compreensão é a chave para todo o processo. “Eu contribuo com o auxílio da língua portuguesa, mas eu mesmo tenho dificuldades com ela. Sou de família simples e tive muita defasagem no ensino público básico. Ensino e passo a eles aquilo que fui aprendendo ao longo da vida. Se eu estou onde estou, posso começar a saber onde quero chegar. O amor aliado ao foco é o que carrego comigo”.
Os questionamentos
Ao encarar o que faz, ele se pergunta muitas vezes se o que faz é de fato um bom serviço e se é efetivo na vida das pessoas que atende. Mesmo diante dos costumeiros questionamentos, encontra ressurreições no que faz. “Eu noto que há ressurreição. Vou descobrindo a cada encontro com essa população; percebo na multidão de pequenos atos e vou assim, paulatinamente, me tornando mais humano” ressalta.
Marcos da Ressurreição
O jovem conta que, certa vez, realizou uma viagem com um motorista de aplicativo. Entrando no automóvel, reconheceu ser seu aluno, que tinha conseguido responder os requisitos do empreendimento por seguir os cronogramas apresentados por Pedro.
Partilhou também sobre uma aluna sua que havia conhecido no cursinho e que havia sido expulsa de casa pela família. Sofria de violências. “Ela, em uma conversa, me disse que tinha sido eu uma das únicas pessoas que a havia acolhido. Tempo depois ela faleceu. Sofri muito com isso, mas foi uma das pessoas que motivou a continuar nessa missão de acolher e integrar as pessoas.”
Pedro, durante a entrevista, pediu socorro: “ Eu peço socorro! Chega uma hora que estamos cansados e precisamos de ajuda. Peço ajuda por nós e pelos outros. Sinto constantemente que preciso ajudar as pessoas. Pelos que fazem e pelos que não fazem. Eu sou por vezes impotente, mas o pouco que faço pode ser muito na vida das pessoas, sobretudo dessas que chegam em um novo território. Procuro ouvir o grito de cada um dos que atendo, mesmo quando estão no silêncio. Este é o grande segredo de quem se envolve com os vulneráveis.”, acredita Pedro.
É preciso morrer para dar frutos
No final da entrevista, Pedro refletiu que é preciso passar cotidianamente pela experiência da morte para darmos frutos em nós e nos outros. O jovem fez alusão à passagem bíblica contida em João 12, 24: “Em verdade, verdade, vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muitos frutos”.
Assim, Pedro destacou que preciso humildade para morrer constantemente para dar valor àquilo que somos e àquilo que o outro é. “Só assim nos desprendemos de nossos egoísmos, futilidades e tudo o mais. Quando nos desvestimos disso, enxergamos o outro e o que ele precisa”, finalizou.