Devoção que começou com São Francisco de Assis, prática consiste em um período especial de 40 dias de oração em preparação à Festa dos Santos Arcanjos
Thiago Coutinho
Da redação

Foto: Canção Nova
De 15 de agosto a 28 de setembro, a Igreja celebra um período de oração e penitência dedicado a São Miguel Arcanjo. É comum, nesta época, que os fiéis façam orações e ofereçam jejum e outras formas de penitência, como meio de aprofundarem sua relação com Deus e São Miguel.
Este período dedicado a São Miguel tem início exatamente na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Trata-se de uma tradição franciscana. Explica-se: São Francisco de Assis nutria sua alma com orações e sacrifícios. Costumava realizar outras quaresmas anuais, não só aquela tradicional em preparação para a Páscoa. E foi exatamente na Quaresma de São Miguel Arcanjo que Deus coroou Francisco de graças abundantes, dentre elas a de marcá-lo em seu corpo, pelo profundo desejo de imitar ao seu Filho Jesus Cristo, com os sinais de sua Paixão.
“A Quaresma de São Miguel surgiu por inspiração direta de São Francisco de Assis, por volta de 1224, durante retiro no Monte Alverne, entre os dias 15 de agosto (Assunção de Maria) e 29 de setembro (Festa dos Santos Arcanjos)”, explica Frei Marx Rodrigues, diretor-secretário do Sefras – Ação Social Franciscana. “São Francisco tinha o costume de realizar grandes períodos de oração, meditação e até jejum. Nesse caso específico, está fazendo 40 dias de jejum, oração e penitência, desejando honrar São Miguel Arcanjo. Francisco foi um homem medieval, tinha um relacionamento com o sagrado de forma muito visceral, quando rezava, chorava, se transfigurava”, recorda.
Neste período específico, de acordo com o frade, São Francisco vivia uma grande angústia com o destino da Ordem Franciscana e sua contribuição para o projeto de Deus. Assim sendo, adentrou na Paixão de Jesus para encontrar uma resposta do Senhor. “Foi nesse contexto que recebeu os estigmas, sendo transpassado por uma visão de um Serafim crucificado — um acontecimento central na espiritualidade franciscana”, recorda o Frei Marx.
“Essa devoção reflete profundamente a espiritualidade franciscana: pobreza, contemplação e proximidade com a Paixão de Cristo”, exalta.
Fortalecimento da vida espiritual
São Francisco foi um homem de constante e profunda oração. Costumava dizer, segundo Frei Marx, que os frades (seus seguidores) deveriam sair para anunciar o Evangelho — e, se necessário, usar palavras. “Para ele, fazer oração era uma postura de vida. Há uma forma de acordar, tomar café e sair para trabalhar. Mas há uma forma de fazer tudo isso orando. Ou seja, que seus olhos sejam uma oração, que sua alegria, seus sorriso, suas buscas sejam uma oração. Esse é o real sentido de fazer penitência, não é machucar o corpo ou parecer mais santo ou fervoroso, mas sim ter um exercício da alma que norteia sua existência”, observa.
Estes quarenta dias podem fortalecer a vida espiritual ao proporcionar um tempo especial de conversão interior e busca do Reino de Deus, conforme São Francisco experimentou em sua própria vida. “A prática de oração pessoal motiva o desejo de mudança interior e exterior. Não há uma distinção do interior com exterior, somos todo interior, não há diferença entre seriedade e alegria. Como diz o Senhor, ‘a boca fala do que o coração está cheio’, por isso, esse tempo pode ajudar o coração se plenificar e trazer para boca a profecia de um tempo novo”, reforça Frei Marx.
Práticas espirituais
Algumas práticas espirituais postas em prática neste período podem ajudar a aprofundar o relacionamento com São Miguel e com Deus. Jejum, oração e caridade são os mais comuns. “Mas Francisco não buscou que todos fossem iguais, buscou que todos vissem de Deus um ato de amor”, pontua Frei Marx.
É parte desta entrega de São Francisco contemplar a Criação e a maneira como a vida é organizada. “Para tudo que vive em sua integridade é um louvor ao Senhor. Água, a estrela, os pássaros… todos louvam a Deus enquanto são em sua plenitude e não louvam a Deus quando perdem a sua grandeza. Assim, faz parte da oração para São Francisco cuidar das plantas, dos animais e dos irmãos, das feridas abertas, dos leprosos e isso não é uma figura de linguagem. São Francisco entendia que o cuidado com os sofredores era uma forma de chegar a Deus”, pondera Frei Marx.
Uma iniciativa que se tornou muito conhecida, neste período, é o Rosário da Madrugada, rezado por Frei Gilson, que neste ano é intitulado “40 Dias com São Miguel Arcanjo”. A mesma prática é conduzida pelas religiosas do Instituto Hesed e mobiliza milhares de pessoas em oração na madrugada, como uma das formas de bem viver o período quaresmal em preparação à festa do santo arcanjo. O Sistema Canção Nova de Comunicação transmite a oração com Frei Gilson: às 3h50 da manhã, e, em seguida, o Rosário diante do Santíssimo Sacramento, às 4h, de segunda-feira a sábado.
Ladainha de São Miguel e orações
A Ladainha de São Miguel, muito conhecida entre os fiéis, é uma das orações comuns durante esses quarenta dias dedicados ao santo. Mas existem outras maneiras de honrar esse período forte de oração. “Você sempre é chamado para rezar para propícia conversão, para o Papa, para Igreja e para os irmãos. Também era costume de Francisco orar, às horas (6, 9, 12, 15, 19 etc.), o Pai-Nosso”, explica Frei Marx. “São Francisco rezava inúmeras vezes, devagar e meditando, quem é Deus como pai. Um pai que não é só meu, mas nosso. O que Deus me pede ao entender que ele é pai de todos”.
Independentemente da maneira escolhida para se passar esses quarenta dias, o importante é o vigor dedicado a este período. “O importante é buscar rezar com intensidade e constância”, finaliza.