No Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, religioso fala sobre sua experiência de pobreza e como a Doutrina da Igreja enxerga o tema
Gabriel Fontana
Da Redação
Nesta terça-feira, 17, é celebrado o Dia Internacional para Erradicação da Pobreza. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, após milhares de pessoas se reunirem cinco anos antes em Paris, na França, para proclamar que a pobreza é uma violação aos direitos humanos.
A erradicação da pobreza é, inclusive, um dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que a ONU estabeleceu na Agenda 2030. Afinal, como a pobreza pode ser erradicada? Como a Igreja compreende a pobreza? Como os cristãos devem agir? Diante destas questões, a reportagem do noticias.cancaonova entrou em contato com o Frei Jonas Ribeiro da Silva, OFM, que falou sobre o assunto.
Solidariedade e bem comum
Em relação à data comemorada em 17 de outubro, o franciscano frisou que não é celebrada a pobreza em si, mas o despertar de uma consciência quanto à necessidade de, como cristãos batizados, ajudar e socorrer os irmãos que vivem nesta condição e “não têm realmente escolha a não ser este estado de vida”.
Citando a Doutrina Social da Igreja, o Frei Jonas recorda os números 193 e 194, que falam sobre a solidariedade e sua relação com o bem comum. Primeiramente, a Igreja entende que a solidariedade “deve ser tomada antes de mais nada, no seu valor de princípio social ordenador das instituições, em base ao qual devem ser superadas as ‘estruturas de pecado’ (…) e transformadas em estruturas de solidariedade” (n. 193).
Da mesma forma, a Doutrina compreende que a solidariedade “é também uma verdadeira e própria virtude moral, (…) ‘a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos’” (n. 193).
Chamados a repartir
Fazendo alusão à passagem do Evangelho em que Jesus diz a Judas Iscariotes “sempre tereis pobres entre vós” (cf. Mc 14, 7), indicando que sempre haverá pobres para servir, próximos a quem segue a Jesus., o Frei Jonas confirma o entendimento da Igreja de que “pobres nós sempre vamos ter no mundo”. Contudo, isso não deve impedir a ação dos cristãos. Pelo contrário, deve-se responder à necessidade dos irmãos com compaixão. “Quando nos empenhamos para erradicar a pobreza, nós estamos agindo como filhos de Deus e como irmãos, que ao ver que o outro está passando necessidade, nos compadecemos”, expressou o franciscano.
Ele recordou também outra passagem do Evangelho, na qual Jesus multiplicou cinco pães e dois peixes que lhe foram oferecidos para alimentar uma multidão que O seguia (cf. Mt 14, 13-21). “Quando partilhamos, não falta para nós. Repartindo, partilhando, comendo juntos, nós vamos nos saciar juntos e talvez vai até sobrar”, lembrou o frade, apontando também para as sobras desta refeição, que foram recolhidas em doze cestos.
O voto de pobreza
Se por um lado há aqueles que vivem em situação de pobreza por não ter escolha, há também pessoas que escolhem livremente abraçá-la. É o caso de consagrados religiosos como o próprio Frei Jonas, que emite o voto de pobreza (assim como os votos de castidade e obediência).
“O voto de pobreza, dentro da espiritualidade franciscana, vem ao encontro da experiência que Francisco fez tendo por base a vida de Jesus. Francisco se inspirou na pobreza a partir da experiência de pobreza do próprio Cristo, que foi pobre, casto e obediente ao Senhor”, explicou o frade.
Ele também indicou que, por meio desta experiência de renunciar aos bens, sejam eles materiais ou intelectuais, o ser humano consegue “alargar” o coração para receber os bens de Deus. “A pobreza, para nós, é nos assemelharmos, dia após dia, ao Cristo que foi pobre também, e a partir da pobreza do Cristo, nos enriquecermos com a sua vida dentro de nós”, exprimiu.
Virtude que santifica
Além disso, a vivência da pobreza está relacionada à experiência de São Francisco de Assis, que enxergava nos pobres o próprio Jesus. “Nós precisamos olhar para eles e enxergar neles a pessoa do Cristo”, sinalizou o Frei Jonas, apontando também que, quando um necessitado se apresenta, é o Cristo que vem e deseja precisar de seus filhos para socorrer aqueles que estão vulneráveis e fragilizados.
Neste sentido, o franciscano definiu a pobreza como uma virtude, que também precisa ser cultivada. Para isso, “é preciso ter em vista, como ponto de partida e ponto de chegada, o próprio Cristo”, expressou o frade, completando ainda que a vivência desta virtude ajuda no processo de santificação, na dependência da providência de Deus, “para que o Espírito de Deus ocupe o nosso coração”.
Por fim, o Frei Jonas ainda sinalizou para uma lição deixada a todos pelos pobres. “Eles pobres nos ensinam também como devemos nos relacionar com aquilo que nós temos – a nossa casa, o nosso carro, as nossas roupas, a nossa vida – como algo emprestado por Deus. Nós não temos nada nosso, e são os pobres que nos alertam para isso”, indicou o frade.