A relação com Cristo, o zelo apostólico e a coragem criativa foram os três aspectos destacados pelo Santo Padre na audiência aos barnabitas
Da redação, com Vatican News
Por ocasião do 125º aniversário da canonização de Santo Antônio Maria Zaccaria e no contexto da preparação de dois importantes Capítulos Gerais, o Papa recebeu na manhã desta segunda-feira, 29, na Sala do Concistório, cerca de 80 Clérigos Regulares de São Paulo (CRSP), os barnabitas.
Partindo da expressão do fundador: “Vocês devem correr como loucos! Correr para Deus e para os outros”, mas – observou – “não ser loucos que correm, que é outra coisa”, Francisco sublinhou três aspectos desta exortação tipicamente paulina: a relação com Cristo, o zelo apostólico e a coragem criativa.
Relação com Cristo
Uma forte relação com o Senhor Jesus, começou dizendo, marcou a vida de Santo Zaccaria desde sua juventude, “num sério caminho de crescimento, em particular na meditação da Palavra de Deus com a ajuda de dois bons religiosos”, o que “o conduziu primeiro ao empenho catequético, depois ao sacerdócio e finalmente à fundação religiosa”. Uma relação que “é fundamental também para nós” na corrida para a meta, envolvendo nela as pessoas que nos foram confiadas”.
O Santo Padre alertou que “o anúncio não é proselitismo”, mas “partilha de um encontro pessoal (…) que mudou a nossa vida! Sem isso, nada temos a anunciar, nem um destino para o qual caminhar juntos.” E ilustra com uma experiência:
“Eu tive uma experiência ruim com isso em um encontro de jovens alguns anos atrás. Saía da sacristia e havia uma senhora, muito elegante, muito (…), com um menino e uma menina. E esta senhora, que falava espanhol, disse-me: “Padre, estou feliz porque converti estes dois: este vem de tal e esta vem de tal”. Eu fiquei chateado, sabe?, e disse: “Não converteste nada, faltaste com o respeito com essa gente: não os acompanhou, fez proselitismo e isso não é evangelizar”. Ela estava orgulhosa por ter convertido! Tenham o cuidado de distinguir bem a ação apostólica do proselitismo: nós não fazemos proselitismo. O Senhor nunca fez proselitismo”.
Correr em direção aos outros
Então a segunda indicação, também ela essencial: correr em direção aos outros. Com efeito, ressaltou Francisco, se na vida de fé perde-se de vista o horizonte do anúncio, muitos acabam por se fechar em se mesmos e a atrofiar-se nas terras desérticas da autorreferencialidade. Segundo o Papa, é como um atleta que se prepara continuamente para a grande corrida de sua vida sem partir jamais. Assim, cedo ou tarde começa a se deprimir, o entusiasmo desaparece. Nós “não queremos nos tornar discípulos tristes” – afirmou com veemência o Papa, que fez uma pergunta:
“Será que existe dentro de mim aquele verme da tristeza? Às vezes eu, religioso, religiosa, leigo, deixo que aquele verme entre aí? Alguém dizia que um cristão triste é um triste cristão. É verdade! Mas a tristeza não deve entrar em nós, consagrados, e se alguém sentir essa tristeza, dirija-se imediatamente ao Senhor e peça luz e peça a algum irmão ou irmã para ajudá-lo a sair dela”.
O Pontífice recorda então uma determinação de Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Segundo ele a frase coloca nas próprias raízes da Igreja, o que foi confirmado por São Paulo quando diz: “Ai de mim se não evangelizar”, “não havia lugar para tristeza, ele queria continuar (…). Ai de nós se não anunciarmos a Cristo!”:
“Por isso, encorajo-vos a avançar na direção indicada pelo vosso carisma: ‘Levar por toda a parte o Espírito vivo de Cristo”‘. O Espírito ‘vivo’ de Cristo é aquele que conquista o coração, que não te faz permanecer sentado numa poltrona, mas te faz sair ao encontro dos irmãos, com uma mochila leve e um olhar cheio de caridade. Levai este Espírito por toda a parte, não excluindo ninguém e também abrindo-vos a novas formas de apostolado, num mundo em mudança que precisa de mentes flexíveis e abertas, de caminhos de busca compartilhados, para identificar os modos adequados para transmitir sempre o único Evangelho”.
Correr como loucos
Por fim, o terceiro aspecto: “correr como loucos”. “Não se trata tanto de desenvolver sofisticadas técnicas de evangelização”, mas “de não parar diante das dificuldades e olhar além dos horizontes do hábito e da vida tranquila, do “sempre foi feito assim”:
Santo Antônio Maria, recordou o Santo Padre, teve essa coragem, dando vida a instituições novas para o seu tempo: uma congregação de reforma do clero numa época em que muitos eclesiásticos se acostumaram a uma vida confortável e abastada; uma congregação religiosa feminina não enclausurada, dedicada à evangelização, numa época em que a vida consagrada era prevista apenas em clausuras para mulheres; uma congregação de missionários leigos empenhados ativamente no anúncio, numa época em que dominava um certo clericalismo.
“Eram todas realidades novas – ele foi criativo, mas com a fidelidade ao Evangelho – essas realidades não existiam antes. O fundador entendeu que elas poderiam ser úteis para o bem da Igreja e da sociedade, e por isso as inventou e as defendeu diante dos que não compreendiam seu significado e oportunidade, a ponto de vir a Roma prestar contas delas. E também nisso há um ensinamento importante, porque não exerceu a sua criatividade fora da Igreja: fê-lo dentro dela, aceitando correções e advertências, procurando explicar e ilustrar as razões das suas escolhas e guardando a comunhão na obediência”.
Importância do trabalho conjunto
Francisco concluiu recordando um último valor importante para os assim chamados “colégios”, ou seja, as diferentes realidades barnabitas: a importância do trabalho conjunto.
“Fazer junto. Com efeito, a comunhão na vida e no apostolado é de fato o primeiro testemunho que sois chamados a dar, sobretudo num mundo dividido por lutas e egoísmos. Está escrito no DNA da vida cristã e do apostolado: “Para que todos sejam um” (Jo 17,21), como rezou o Senhor. Afinal, a própria palavra “colégio” indica exatamente isso: escolhidos para estar juntos, o colégio para viver, para trabalhar, para rezar, para sofrer e para se alegrar juntos, como uma comunidade. Portanto, queridos irmãos e irmãs: “Corram como loucos, para Deus e para os outros, mas juntos!”.