Leigos da Igreja

Padre sobre morte de casal católico em queda de avião: perda irreparável

José Clóvis e esposa eram fiéis da Paróquia São Pedro Apóstolo, localizada em Guaratinguetá (SP); pároco recorda o casal e destaca o testemunho de vida e entrega a Deus de Maria Auxiliadora

Julia Beck
Da redação, com informações de agências

Clóvis e Maria Auxiliadora; avião caído na cidade de Vinhedo (SP) /Foto: Paróquia São Pedro Apóstolo; Reprodução Reuters

“Uma perda irreparável”. Foi assim que o pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, localizada em Guaratinguetá (SP), padre Aloísio Mota, definiu a morte de Maria Auxiliadora Vaz de Arruda e José Clóvis Arruda. O casal de aposentados, que faleceu nesta sexta-feira, 9, durante a queda de um avião em uma área residencial na cidade de Vinhedo (SP), frequentava a paróquia administrada pelo sacerdote – ela era também ministra extraordinária da Sagrada Comunhão.

Padre Aloísio afirma que Clóvis era um senhor “distinto, agradável, simpático, respeitoso, discreto e fotógrafo conhecido em Guaratinguetá”. Sobre Maria Auxiliadora, carinhosamente apelidada por todos como Dora, o presbítero lembra que, além de ministra, ela cuidava de toda a parte litúrgica da igreja, desde o zelo com as alfaias até a decoração. Responsável, empenhada e cuidadosa foram alguns dos adjetivos que o sacerdote atribuiu a ela.

Ao receber a notícia da morte do casal, padre Aloísio conta que ele e seus paroquianos ficaram consternados. “Não quisemos acreditar. Como ela (Maria Auxiliadora) era muito próxima a nós, cheguei a ligar em seu telefone, na esperança de que pudesse atender e dizer que estava bem juntamente do marido. Infelizmente, não foi o que aconteceu, para a nossa tristeza”.

Testemunho de vida

Padre Aloísio Mota /Foto: Paróquia São Pedro Apóstolo

“Dona Dora era o rosto dos leigos da Igreja no Brasil, dos leigos da Igreja Católica aqui no Vale do Paraíba. Ela era devota de Nossa Senhora Aparecida, amava a sua Igreja, amava o nosso catolicismo, amava os sacerdotes – era amiga de muitos padres de nossa arquidiocese e seminaristas. Também era querida por tantas famílias e tantas pessoas. Ela tinha o rosto de nossa paróquia. A primeira a chegar e a última a sair, dedicava-se e ficava feliz ‘nos bastidores’”, recorda.

A guaratinguetaense ajudava na formação dos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão, acompanhava crianças na preparação para a Primeira Eucaristia, inclusive as portadoras de deficiência mental. Padre Aloísio destaca que Dora cativou a todos com seu exemplo e com seu testemunho de vida.

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“A igreja católica é feita de ‘donas Doras’ – escondidas, silenciosas, alegres, felizes, que preparam tudo para que todos nós, em nossas missas, tenhamos um encontro com Deus. Que ela descanse em paz ao lado de seu esposo”.

O presbítero frisa que a última mensagem de Dora, que ele teve conhecimento, foi na madrugada antes do acidente e foi enviada para uma ministra da Sagrada Comunhão, amiga de Dora, chamada Socorro. No áudio, de forma atenciosa, Maria Auxiliadora se preocupava com os preparativos litúrgicos de uma celebração que seria realizada na paróquia.

 “Essa é a preocupação que norteou toda a sua vida: cuidar da Missa, cuidar do altar. Para a maioria das pessoas era trivial, comum, ou até pequeno, mas para ela era a sua vida, o seu amor”.

Vigília

Vigília pela alma de Dora e Clóvis foi transmitida pelo canal da Paróquia São Pedro Apóstolo no Youtube /Foto: Paróquia São Pedro Apóstolo

Na noite desta sexta-feira, 9, após a confirmação da morte de Maria Auxiliadora e Clóvis, os fiéis da Paróquia São Pedro Apóstolo se reuniram em oração.

“Pessoas trouxeram fotografias com a sua imagem, comovidas pela dor e pela saudade. Nós adoramos Jesus como ela sempre fez aqui na igreja, rezamos o terço em sua memória e de seu esposo”, sublinha o sacerdote.

No final da vigília, padre Aloísio partilha que comentou com os fiéis que, se Dora estivesse fisicamente ali, se a morte não fosse tão inesperada e tão inoportuna, teria lhe dado um abraço e agradecido por tudo que ela foi para a Igreja de Jesus Cristo. “Como não podemos fazer isso, pois a morte nos surpreendeu, precisamos fazer com quem está do nosso lado hoje”, reflete.

Notas de pesar e reflexão sobre a vida

A Paróquia São Pedro Apóstolo também divulgou uma nota de pesar pela morte dos dois fiéis:

“Nossa Paróquia de São Pedro Apóstolo lamenta profundamente o falecimento, nesta tarde, de nossa querida coordenadora do MESC, Dona Maria Auxiliadora Vaz de Arruda (querida Dona Dora) e seu esposo Sr. Clóvis, vítimas do acidente aéreo na cidade de Vinhedo-SP. Estamos todos muito estarrecidos e unidos em oração, aguardando maiores informações sobre os passos seguintes, para comunicar a todos que a amam e a guardarão no coração para sempre! Descanse em Paz, Dona Dora!”

A Arquidiocese de Aparecida (SP) publicou um texto lamentando o ocorrido. “Unidos em preces, rogamos a Deus pelo descanso eterno desses nossos irmãos e pelo conforto dos familiares e amigos. Que Deus os receba na alegria do Seu Reino”, lê-se em um trecho da nota.

Padre Raphael Felipe Silva/ Foto: Arquivo Pessoal

Padre Raphael Felipe Silva, da Arquidiocese de Aparecida, postou uma homenagem em suas redes sociais. Em sua reflexão, ele falou da tristeza diante da tragédia, incentivou um olhar mais profundo sobre a vida e afirmou que “para aqueles que cultivaram Deus em cada detalhe de sua existência, um lugar grandioso está apenas ‘começando’ profundamente”.

Acidente

A Voepass Linhas Aéreas (antiga Passaredo) confirmou a morte das 62 pessoas, entre tripulantes e passageiros, que estavam no turboélice, modelo ATR-72-500, que caiu durante o trajeto que fazia de Cascavel (SC) até o Aeroporto de Guarulhos (SP).

A previsão é de que, até o final deste sábado, 11, seja concluída a remoção dos 62 corpos que estão sendo transportados ao Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo (SP). Na sequência, peritos da Polícia Federal e da Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo trabalharão na identificação dos corpos das vítimas para que eles sejam encaminhados, posteriormente, aos familiares, para o último adeus.

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