Dom Roque Paloschi e padre Alexandre Freitas refletem sobre a Festa da Divina Misericórdia, celebrada neste segundo Domingo da Páscoa, 16
Julia Beck, com colaboração de Huanna Cruz
Da redação
Desde o ano 2000, o segundo Domingo da Páscoa passou a ser marcado pela Festa da Divina Misericórdia. A data, instituída por São João Paulo II (na época Papa), foi escolhida segundo o Diário de Santa Faustina – freira polonesa intimamente ligada à propagação da devoção à Divina Misericórdia.
A partir desta solenidade, o arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, reforçou a figura da Igreja enquanto “Casa da Misericórdia”. “Nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil a Igreja se apresenta como a casa do Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação Missionária. Assim, por dedução lógica, a Igreja não só pode ser considerada, mas ela é, por sua vocação e origem, chamada a ser a encarnação da Misericórdia no mundo”.
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O arcebispo frisou que a Igreja crê no Filho crucificado e ressuscitado e proclama que seu amor está presente no mundo e é mais forte do que toda a espécie de mal em que a humanidade e o mundo estão envolvidos.
“Jesus Cristo revela, por meio de suas palavras e gestos, que o amor é mais forte do que a morte e do que o pecado. Ele revela que o outro nome do amor é a misericórdia, e que a misericórdia de Deus alcança a todos. E, hoje, esse projeto de salvação de Jesus Cristo se torna o programa do seu Povo e da Igreja.”
Instituição da festa
A instituição da festa da Divina Misericórdia tem sua origem na experiência mística de Santa Faustina Kowalska. Dom Roque recorda que, entre os anos de 1931 e 1938, a santa escreveu um diário com mensagens que ela recebia por inspiração divina sobre a misericórdia de Deus. “Aos poucos, essas mensagens foram se tornando mais e mais conhecidas, resultando em práticas de piedades cada vez mais populares”, comentou.
O arcebispo destacou, então, um trecho do diário espiritual em que Jesus diz para Faustina: “Eu desejo que haja a Festa da Misericórdia. Quero que essa Imagem, que pintarás com o pincel, seja benzida solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia” (Diário, 49).
Assim, o missionário da Comunidade Canção Nova, padre Alex Freitas, ressaltou que a imagem de Jesus Misericordioso foi venerada por primeiro na capela do convento da Congregação de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia, onde Santa Faustina era religiosa. Depois a devoção foi crescendo.
“O sentido profundo dessa festa está na misericórdia revelada na Cruz e na Ressurreição de Jesus Cristo”, indicou Dom Roque. De acordo com o arcebispo, o mistério pascal é o ponto culminante da revelação e atuação da misericórdia, porque, ao sofrer, Cristo interpela toda a humanidade a descobrir n’Ele a solidariedade, a verdade e o amor.
Secretária da Misericórdia
Ao comentar sobre Santa Faustina, Dom Roque fomentou o termo atribuído a ela: “secretária da Misericórdia”. “Isso foi dito porque na sua experiência mística, ela ouvia Jesus Misericordioso falar e tomava nota para depois transmitir às pessoas”, disse.
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Segundo o arcebispo, é possível dizer que a santa foi para a Divina Misericórdia aquilo que os primeiros cristãos foram para o Evangelho: arautos, anunciadores da Boa Notícia de Jesus Cristo.
Confissão
Padre Alex lembrou que a festa é enriquecida com indulgências plenárias para aqueles que se confessarem, comungarem, rezarem pelo Santo Padre e invocarem a Divina Misericórdia com alguma oração.
O sacerdote destacou, então, a importância de todos os fiéis receberem a Infinita Misericórdia de Deus por meio do Sacramento da Confissão. “Não há meio melhor para esse perdão, para esse abraço entre Deus e o pecador do que no Sacramento da Confissão”, indicou.
“Pelo Sacramento da Confissão, o penitente restaura a sua comunhão com a Igreja que, como membro dela desde o seu batismo, feriu com seu pecado.”
Jesus Misericordioso
Um símbolo importante desta festa é a imagem de Jesus Misericordioso. Dom Roque comentou que toda arte sacra, seja ela pintura, gravura ou imagem, traz em si uma mensagem e quer comunicar uma experiência mística. “É isto que encontramos no quadro de Jesus Misericordioso. Ele é a representação de como Jesus apareceu à Santa Faustina”, pontuou.
Nessa imagem, o arcebispo afirmou que há alguns gestos comuns nas iconografias do Cristo, por exemplo, a mão direita levantada que tanto pode significar um gesto de autoridade, ou, como, no caso do quadro específico, o gesto de abençoar. Dom Roque explicou que a mão esquerda de Jesus sobre o peito, apontando para o coração, revela que é do Sagrado Coração de Jesus que vem todo amor e misericórdia que se espalha e atinge a todos como em raios, purificando e salvando a humanidade.
Outro simbolismo forte dessa imagem, indicou o arcebispo, é a frase “Jesus, eu confio em vós” que, na verdade, é uma jaculatória, ou seja, uma breve oração, fácil de gravar e possível de ser repetida a qualquer momento.
Desfazendo a imagem de um Deus carrasco
A imagem de Deus como “carrasco” é, geralmente, aplicada a Deus Pai. “A má interpretação de textos do Antigo Testamento onde Deus aparece como um deus vingador, ciumento, castigador e guerreiro; como também a má interpretação do Mistério Pascal, onde Deus aparece como um Pai carrasco que exige a morte sanguinária do Filho como preço da redenção da humanidade, gerou essa ideia”, constatou Dom Roque.
Jesus Misericordioso ajuda a desfazer o erro da imagem de um Deus “carrasco”, afirmou o arcebispo. Ele ressaltou que Deus não é um juiz inflexível. “Ele conhece do que todos são feitos, porque Ele fez todos e todos são seus”.
Pai Rico em Misericórdia
Uma parábola que explica a relação de Deus com a misericórdia é a do “Pai Rico em Misericórdia”. Ao comentar sobre ela, Dom Roque resgata a Carta Encíclica do Papa João Paulo II, Dives in Misericordia, e a reflexão sobre esta passagem.
“Nela, o Papa fala do mistério da misericórdia como um drama profundo que se desenrola entre o amor do pai e o pecado do filho. O filho pródigo somos todos nós, porque a parábola se estende a todas as rupturas da aliança de amor, a toda a perda da graça, e a todo o pecado.”
Na parábola, o arcebispo relembra que o filho pródigo reconhece que o pai é um homem justo e bondoso, que trata bem seus empregados, e isso o encoraja a voltar e pedir para ser tratado como um dos empregados. Na cabeça dele, comentou Dom Roque, isso seria mais do que justo. “Aqui nos damos conta de que há, muitas vezes, no coração humano, uma confusão em relação à justiça e o amor que se manifesta como misericórdia na parábola”, indicou.
“Essa parábola nos mostra que, para Deus Pai, há um primado do amor em relação à justiça, porque o amor de Deus por seus filhos e filhas é imensurável e incondicional”, concluiu.