EM BUSCA DA PAZ

Núncio da Ucrânia afirma: a Páscoa rompe a corrente de ódio

O arcebispo Visvaldas Kulbokas agradece novamente ao Papa Francisco por sua proximidade e reafirma: os líderes políticos deixem-se questionar em consciência sobre as consequências de suas ações para com o povo

Da redação, com Vatican News

O núncio apostólico em Kiev, dom Visvaldas Kulbokas / Foto: Reprodução Youtube

Francisco disse isso como um apelo no Domingo de Ramos, no final da missa: “Deponham as armas! Inicie-se uma trégua pascal, mas não para recarregar armas e retomar a luta. Não! Uma trégua para chegar à paz, através de uma verdadeira negociação, dispostos também a fazer alguns sacrifícios para o bem do povo”.

O apelo, o grito de Francisco teve um grande eco na Ucrânia, levando um vento de confiança. O núncio apostólico em Kiev, dom Visvaldas Kulbokas, estava entre aqueles que escutaram o apelo com emoção, agradecidos pelo enésimo convite do Papa para restaurar a esperança de paz na Ucrânia, enquanto a guerra parece aniquilar tudo.

Vatican News — Excelência, vivemos a Páscoa e a Igreja revive a Paixão de Cristo, enquanto a Europa e outras partes do mundo continuam a viver um calvário de guerra e violência…
Dom Kulbokas — É profundamente impressionante ver como esta terrível guerra continua na Ucrânia, o excesso de vítimas entre os civis, bem como entre os militares, tornando-a se possível ainda mais inaceitável… Mas sempre é: mesmo olhando para a guerra na Síria, no Afeganistão, na Líbia ou aqui, na Ucrânia, toda guerra é sempre inaceitável. E olhando para a Rússia, Ucrânia, outros países europeus, é evidente que o ódio entre as pessoas está aumentando e esta é uma das consequências da guerra: você entra em um estado de espírito maligno no qual a guerra provoca cada vez mais ódio. É por isso que o Papa Francisco pediu uma trégua pascal, pedindo que sejam depostas as armas, e que os políticos estejam dispostos a fazer alguns sacrifícios para o bem do povo. A guerra em si não é admissível e, além disso, do ponto de vista cristão, devemos lembrar que a vida humana e os direitos dos povos estão acima de tudo, acima de nossas ideias políticas, acima de nossas ideias militares. É por isso que o Papa Francisco continua a chamar para negociar e refletir. Neste sentido, a trégua pascal ofereceria mais tempo, especialmente ao coração dos políticos, para refletir sobre estas questões: Que ações estou realizando contra outras pessoas? O que eu estou causando com minhas ações?

Vatican News — Refletindo sobre o valor universal do bem comum, colocando-o acima de qualquer ambição. Dom Kulbokas — Pensemos nisto: a quem pertence a terra? A quem pertencem nossas casas? Compreendemos que não estamos falando apenas do direito internacional, estamos falando daquela antiga tradição humana que diz que se esta é minha casa, se este é meu país, então eu e meu povo devemos ser livres para decidir como queremos viver e que escolhas fazer por nosso país, por nossas vidas… Mesmo somente a partir dessas considerações – que representam uma lei natural na vida de todo ser humano – nasce a condenação da guerra, rejeitada por todas as organizações religiosas e por todas as Igrejas na Ucrânia.

Vatican News — O senhor enfatizou as palavras do Papa Francisco de que a trégua pascal não deve ser usada para recuperar novas armas e retomar os combates. O senhor está confiante de que isso não vai acontecer?
Dom Kulbokas — Não temos escolha, temos que ter confiança. Porque se continuarmos a manter a mentalidade de nossos objetivos políticos e militares, a intensidade da guerra só vai aumentar. Devemos entender, todos nós, que não existe uma solução militar ou política para esta guerra. Devemos deixar a dimensão humana e espiritual entrar em nosso pensamento. E quando o Papa Francisco insiste que deve ser Deus quem vence esta guerra, ele certamente não pensa que isso deve ser feito através de um aumento da ação política ou militar.

Vatican News — O Papa: o mundo escolheu Caim, mas Deus não para de salvá-lo. O senhor é o representante do Papa na Ucrânia. Gostaria de lançar um apelo por meio da mídia do Vaticano?
Dom Kulbokas — Meu desejo e meu apelo é que todos aqueles que acreditam em Deus estejam unidos na condenação desta e de todo tipo de guerra. Devemos estar unidos na condenação de todas as formas de agressão, agora e em qualquer situação, e isto pode oferecer a nós e à humanidade um futuro mais luminoso.

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