Com pandemia, sacerdotes afirmam que Via-Sacra pode ser feita individualmente ou em pequenos grupos, respeitando protocolos de segurança
Julia Beck
Da redação
Na Quaresma, a Via-sacra impulsiona o processo de conversão. É o que afirma o pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida em Lorena (SP), padre Thales Nogueira. “Conversão do coração e da vida não só no aspecto pessoal, mas também comunitário”, acrescenta.
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Antes de tudo, o sacerdote explica que a Via-sacra é um ato de piedade muito comum no tempo da Quaresma. Ela consiste na meditação dos últimos momentos de Jesus e da Sua Paixão.
Padre Thales detalha que a Via-sacra, também popularmente chamada de Via Crucis ou Caminho da Cruz, surgiu por volta do século XI e XII no período das cruzadas. “Em Jerusalém, muitas pessoas, em sinal de penitência, meditavam os últimos momentos de Jesus.”
Pároco da Igreja Cristo Rei, localizada também em Lorena (SP), padre Rafael Beck Ferreira destaca que o ato de percorrer os passos da via dolorosa de Jesus era uma forma de exercício espiritual.
“É uma prática penitencial do Tempo da Quaresma, muito benéfica para o cristão, de contemplação e meditação”, prossegue o sacerdote.
Meditação às sextas-feiras
Padre Rafael explica que a Via-sacra é tradicionalmente realizada às sextas-feiras, por se tratar do dia da Passio Domini – Paixão do Senhor. “Nas dores e chagas de Jesus contemplamos o mistério do sofrimento humano e da morte”, destaca.
As estações
As meditações da Via-sacra são divididas em estações. Atualmente, são 14. “Novas meditações foram sendo incluídas até que no século XVII foram definidas as 14 estações da Via-sacra. Recentemente, foi acrescentada a 15° estação, que é a da Ressurreição de Jesus, mas tradicionalmente são 14”.
Onde e como meditar
A Via-sacra pode ser meditada de vários modos. O mais tradicional, segundo padre Thales, é dentro da Igreja, principalmente no tempo da Quaresma. As pessoas se reúnem na Igreja e, diante de cada estação ou quadro, é feita a meditação da Via-sacra.
“Tradicionalmente, uma pessoa vai levando a cruz em cada estação. Ela pode ser feita na Igreja ou em casa. Em conjunto ou individualmente. Nas comunidades muitas pessoas costumam fazer procissões”, revela o presbítero.
O intuito dela ser feita de modo coletivo é para que a Igreja, na Via-sacra, faça um grande processo de conversão que é o que a Quaresma impulsiona. Conversão do coração e da vida não só no aspecto pessoal, mas também comunitário, comenta o pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida.
“Como as mulheres e o discípulo Amado, que percorreram o caminho com Jesus até o Gólgota, há um sentido comunitário na Via-sacra, que evoca compaixão e solidariedade. Quando acontece nas ruas, nos revela que onde vivemos, hoje, é o lugar da nossa caminhada para o Calvário, com nossos problemas sociais e existenciais” – padre Rafael Ferreira
Via-sacra na pandemia
Com a pandemia, o pároco da Igreja Cristo Rei afirma que os católicos buscam adaptar a vivência da fé. Por isso, sobretudo para aqueles que fazem parte do chamado “grupo de risco” ou impossibilitados de participar na comunidade, o sacerdote afirma ser benéfico rezar a Via-sacra em casa.
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Há bons subsídios para tanto, sublinha. Segundo o sacerdote, é importante, durante a meditação da Via-sacra no domicílio, buscar um local adequado e silencioso, com um crucifixo. “Pode-se rezar com aqueles que convivem na mesma casa, em clima de oração, inclusive caminhando pelo lar durante as estações”.
Pequenos grupos
Padre Thales conta que em sua paróquia acontece a Via-sacra. O presbítero frisa que os fiéis estão seguindo rigorosamente os protocolos: utilizando álcool gel, aferindo temperatura e o distanciamento social.
Durante a Via-sacra, as pessoas não acompanham as estações, elas permanecem nos bancos e somente uma pessoa, portadora da cruz, acompanha os quadros das estações onde fazem as meditações. O sacerdote reforça que o uso de máscara é obrigatório.
Na paróquia Cristo Rei, padre Rafael conta que a Via-sacra acontece toda sexta-feira, às 5h30. “A participação está muito positiva, surpreendendo a própria comunidade!”, revela.
O padre reforça que também a Igreja Cristo Rei segue todos os protocolos de distanciamento e proteção. Na matriz da paróquia, não há locomoção dos fiéis durante a Via-sacra. “Fazemos pequenas meditações em cada estação, entoando trechos de músicas penitenciais, está sendo belo e emocionante”.
Primeira vez meditando a Via Sacra
A fisioterapeuta Juliana Barbosa está fazendo a meditação da Via-sacra pela primeira vez. Paroquiana da Igreja Cristo Rei, ela conta que padre Rafael incentivou a participação segura nesta meditação.
“É uma experiência maravilhosa. A meditação da Via-sacra é um momento de grande proximidade com o Senhor. Podemos sentir com maior intensidade todas as Suas dores, Suas flagelações, Sua obediência a Deus, Seu amor pela humanidade, as dores de Nossa Senhora. O sacrifício de acordar mais cedo para estar junto de Jesus, esse momento de reflexão e muita oração, aumenta nossa fé, nossa esperança e nos faz pessoas melhores”, opina Juliana.
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Além da Via-sacra, Juliana frisa que busca viver mais intensamente os propósitos da Quaresma: o jejum, a oração, a penitência e a caridade. “Aproveito esse tempo para crescer e melhorar como pessoa, tanto para mim quanto para Deus e para os meus próximos.”
Outras ações para viver bem a Quaresma
Padre Thales destaca outras meditações que a Igreja proporciona no tempo quaresmal. Uma delas é a meditação das dores de Nossa Senhora, sempre realizada na Semana Santa. As procissões de piedade, procissão do encontro e do Senhor Morto também foram citadas pelo sacerdote.
A penitência quaresmal (um pequeno sacrifício para a santificação pessoal) é recordada por padre Rafael. “Existem retiros quaresmais diversos, que são um auxílio precioso. A Igreja também recomenda a Confissão em preparação para a Páscoa e a prática mais contundente da esmola para com os mais necessitados”.