Advento

Na pandemia, tecnologia ajuda famílias a vivenciarem a Novena de Natal

Arquidioceses como a de Juiz de Fora (MG) prepararam subsídio digital para ajudar as famílias

Denise Claro
Da redação

Na pandemia, famílias e comunidades lançam mão da tecnologia para viver Novena de Natal./ Foto: Patrícia Kunzel

A Novena de Natal é uma tradição que ajuda os cristãos a vivenciarem a preparação para o Natal no tempo do Advento. A prática começou há mais de 50 anos com os Missionários Redentoristas que lançaram o livreto “Natal em Família”. A tradição se estendeu e, há muitos anos, é realizada em todo o país.

Em cada diocese, famílias, vizinhos e comunidades paroquiais se reúnem, ano após ano, para vivenciar os nove encontros que refletem sobre o mistério da encarnação e o nascimento de Jesus.

Neste ano de pandemia, apesar das limitações sanitárias, segue vivo o convite a uma boa preparação para a celebração do Natal.

Arquidiocese de Juiz de Fora preparou subsídio on-line para Novena de Natal./ Foto: Divulgação

Algumas dioceses, como o caso da Arquidiocese de Juiz de Fora (MG), prepararam especialmente um material on-line, para que as famílias possam rezar em casa.

Membro da Comissão Arquidiocesana para a Novena de Natal 2020, Frei Carlos Charles (OFM) diz que há pontos negativos e positivos para a celebração da novena em meio à pandemia. O negativo está justamente nessa impossibilidade de encontrarmos os amigos, confraternizarmos presencialmente no calor humano do encontro fraterno, próximo, envolvente, terapêutico. O positivo centra-se na família, nos membros da mesma casa, sobretudo quando a novena se propõe a usar as imagens das quatro casas ou os pilares da Comunidade:

“Casa da PALAVRA, casa do PÃO, casa da MISSÃO e casa da CARIDADE. Assim, coloca-se em prática as orientações das Diretrizes Gerais da CNBB para a Ação Evangelizadora já no contexto da novena, que é um veículo popular e devocional de evangelização. Ao mesmo tempo, concretiza-se o 2º Sínodo Arquidiocesano: ‘Proclamar pelas ruas e sobre os telhados’, usando os meios digitais para a realização da novena, evitando o papel e explorando os aparelhos celulares, computadores e TVs. Essas tecnologias, cada vez mais presentes, oferecem meios para vídeos, áudios, fotos, filmagens, tornando a novena uma produção doméstica interessante.”

O religioso explica que a ideia é que os fiéis vivenciem a novena em suas próprias casas, com suas famílias, resgatando o encontro familiar para a oração. “O diferente é que, em vez de segurar um livrinho impresso, as pessoas estarão segurando e usando um aparelho celular, onde a novena escrita estará no modo de aplicativo, digital.”

Para Frei Carlos, a importância da oração da Novena está justamente na comunhão: “A Igreja é comunhão! Nosso Deus é Comunhão! A família é a base da Igreja, ou, como se diz, a Igreja em menor escala, a Igreja doméstica. É importante resgatar o encontro familiar como lugar do diálogo fraterno para a expressão comum e familiar da fé. Esta é a grande oportunidade que a pandemia está nos oferecendo: o retorno às origens do lar, onde tudo acontece, também a manifestação, o despertar e o crescimento da fé. O Natal é uma festa familiar. Preparar-se para esta fé em casa, com os seus, é uma forma de reevangelizar a própria família”.

Viver a novena em família é ser missionário dentro da própria casa. Para o religioso, os frutos são rápidos e certos: aproximação, respeito, diálogo, confiança, comunhão, parceria, divisão de tarefas, esperança, partilha da fé, união, fortalecimento dos laços familiares, perdão.

“Devolver a Palavra, o Pão, a Missão e a Caridade às famílias cristãs como possibilidade de replantar e frutificar o Evangelho é uma oportunidade de ouro que a novena encontrou neste tempo de pandemia, para que seja uma Igreja em saída num movimento inverso: para sair e anunciar é preciso, antes, entrar, permanecer, ficar e acolher o anúncio pelo encontro familiar.”

Encontro de Famílias

Patrícia com os filhos e o esposo (on-line), no encontro da Novena de Natal/ Foto: Patrícia Kunzel

A fotógrafa Patrícia Kunzel mora em Niterói (RJ) e vivencia há alguns anos a Novena de Natal com os pais dos colegas de seus filhos. A partir de uma mesma turma de colégio, os pais resolveram se juntar e incentivar uns aos outros a fazer a novena.

“Desde então, a novena existe e sempre entra mais um no grupo. A experiência é enriquecedora, pois o grupo é formado por pessoas engajadas em várias pastorais (encontro de jovens, casais, catequese, Renovação Carismática, ministros da Eucaristia) que acabam acrescentando sempre algo novo na nossa formação espiritual enquanto nos prepararmos para a chegada do Natal.”

O grupo realiza sempre, ao final da novena, um gesto concreto. Ano passado, foram montados vários kits de higiene para serem distribuídos no almoço de Natal que a paróquia promoveu para os moradores de rua. Neste ano, estão sendo arrecadadas caixas de bombons, que serão distribuídas para crianças carentes.

Em meio à pandemia, as redes sociais ajudaram a manter o grupo unido. “Estivemos juntos virtualmente na Páscoa, rezamos algumas vezes o terço e não podíamos deixar de fazer a novena, mesmo que virtualmente.”

Além do grupo dos pais (que inclui a família inteira), há a novena das crianças, com reflexões voltadas para os menores. “Acho que a criança é uma esponja, absorve tudo o que ensinamos, então o momento para ensinarmos sobre as coisas de Deus é agora, para que os ensinamentos criem raízes e se tornem jovens e adultos com o olhar sempre voltado para Deus.”

Patrícia e o esposo têm dois filhos. Os quatro participam juntos da novena, e quando o pai está viajando a trabalho, participa on-line. Ela conta que a novena pelas telas é um desafio: “Temos que trocar os beijos e abraços por um tímido “oi” no computador; trocar a cantoria dos jovens por algumas músicas pré-gravadas; e a confraternização com um delicioso lanche preparado pela família anfitriã do dia depois da novena é substituída pela promessa de nos aglomerarmos assim que pudermos. Mas o propósito central é atingido: em meio a uma pandemia que nos distancia, mantemo-nos unidos e contribuímos para que a fé uns dos outros não se apague.”

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