TRABALHO MISSIONÁRIO

Missionária fala sobre trabalho humanitário na República do Congo

Trabalhadores humanitários foram obrigados a deixar a região muito tempo atrás, enquanto missionárias permaneceram porque o povo precisa da ajuda oferecida por elas

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco num encontro com 82 jesuítas que trabalham na República do Congo / Foto: Vatican Media/IPA/Sipa USA via Reuters Connect

Irmã Agnieszka viajou para a África há 20 anos. Lembrou-se de que já sentia sua vocação missionária quando estava no ensino médio. “Pode-se dizer que foram as missões que me levaram à Congregação das Irmãs dos Anjos”, confessou. Nos primeiros anos de sua vida religiosa, ensinou catecismo em escolas e cuidou de crianças e jovens. Ela recebeu permissão para ir para a África após professar os votos perpétuos.

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Primeiro, foi para Ruanda, depois se mudou para a República Democrática do Congo. Por uma década, administrou um hospital e centro de nutrição para crianças na vila de Ntamugenga.

A religiosa se refere a si mesma, brincando, como o homem da casa: suas ocupações incluem comprar torneiras para pias, sabão e remédios, pagar funcionários, consertar o telhado, encontrar panelas e colchões para refugiados e fazer viagens perigosas para Goma, a única cidade da região onde ela pode obter os remédios, alimentos e leite necessários para crianças que perderam a mãe.

Durante suas viagens, Irmã Agnieszka tem que passar por vários postos de controle que são dominados por rebeldes. Em quase todos eles tem que negociar para continuar fornecendo ajuda.

Matérias-primas manchadas de sangue

Os anos de trabalho da irmã Agnieszka em Quivu do Norte são marcados por repetidos conflitos, que, embora às vezes mais contidos, nunca terminam. “Enquanto as crianças testemunharem crimes e tiverem que interromper seus estudos, não haverá paz neste país”, disse a missionária, que se preocupa com o futuro da geração mais jovem.

A região está desestabilizada por mais de 100 grupos diferentes que tentam assumir o controle de depósitos de cobalto, coltan e nióbio, necessários para fabricar telefones celulares. Esses minerais são mais valiosos do que ouro e diamantes, que os rebeldes também estão saqueando. São os civis que mais sofrem e que nem veem as migalhas das riquezas da terra. As pessoas são forçadas a deixar suas casas e terras devido ao aumento da violência. Há mais de 5,6 milhões de deslocados internos no Congo.

A missão de paz da ONU, cujos custos por um ano excedem a renda nacional de todo o Congo, não consegue mudar a situação. Os missionários não interferem na política, mas tentam resolver a poderosa crise humanitária que está destruindo Quivu do Norte.

“Todos os dias, pessoas morrem de fome e das doenças mais comuns. Nossa presença dá esperança às pessoas e garante sua segurança. Elas nos chamam de ‘nossas irmãs’, o que significa que somos muito próximas delas”, disse a Irmã Agnieszka.

O mosteiro como um lugar de refúgio

As irmãs missionárias são um ponto de referência, especialmente para mulheres com filhos que, aos primeiros sinais de perigo, refugiam-se em seu mosteiro.

Durante os momentos tranquilos, Irmã Agnieszka compra combustível e tenta obter o máximo de assistência possível do exterior. Sua visão muitas vezes salvou vidas. “Em condições normais, obter assistência médica já é um milagre, mas quando a situação piora, torna-se impossível”, disse ela. Apesar do conflito, as Irmãs dos Anjos continuam a distribuir alimentos.

“Nesta parte da região, quase metade do número de crianças menores de cinco anos sofre de desnutrição aguda. Tuberculose e malária continuam sendo um grande desafio. Esta última é a doença que ainda mata mais”, confidenciou a Irmã Agnieszka.

Quando questionada sobre o sonho das missionárias, como muitos habitantes da região, ela disse: “paz duradoura. Esta terra é fértil e as pessoas poderiam viver aqui com segurança e dignidade”, disse ela.

No entanto, como se esta região não tivesse sofrido o suficiente, da vizinha Uganda, jihadistas ligados ao chamado Estado Islâmico estão começando a fazer sua presença ser sentida na região. Relatos de pessoas indefesas sendo massacradas e mulheres e crianças sendo estupradas estão aumentando.

A missionária relembrou o apelo do Papa Francisco para tirarmos nossas “mãos da África”. Ela enfatizou que a visita do Papa ao Congo foi uma oportunidade de lançar luz sobre este canto esquecido do mundo e fornecer a ele a ajuda humanitária de que necessita.

Junto com outras Irmãs dos Anjos, ela pede orações para que tenham força e saúde para continuar sua missão.

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