Em setembro, a Igreja celebra o mês da Bíblia; o bispo referencial da CNBB apresenta orientações para as reflexões deste ano
Da redação, com CNBB
Nesta terça-feira, 1º, teve início o Mês da Bíblia 2020. Celebrar a Palavra de Deus no mês de setembro é uma tradição que teve início na Arquidiocese de Belo Horizonte, em 1971, e se expandiu para todo o país.
Este ano, a Igreja no Brasil vai aprofundar o livro de Deuteronômio e o lema “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11) para animar a realização de atividades em torno da bíblia nos próximos dias.
Em uma live realizada pela Edições CNBB, em preparação ao Mês da Bíblia, o bispo de Luziânia (GO), Dom Waldemar Passini e membro da Comissão Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), retomou a história e a origem do mês no Brasil e apresentou as orientações da Comissão Bíblico Catequética da CNBB para este ano levando-se em conta o contexto do novo coronavírus.
Orientações pastorais no contexto da pandemia
O bispo de Luziânia, que também é mestre em ciências bíblicas, disse que a Igreja no Brasil e a Comissão Bíblico-Catequética da CNBB estão num tempo de adaptação. “Estamos acompanhando os dramas e as tragédias das pessoas e de seus familiares e também de coisas que afetam a vida de nossas comunidades, cidades, país e mundo”, disse.
Dom Waldemar disse que a Igreja, por ser encarnada nas diferentes realidades, não pode ficar alheia ao avanço do novo coronavírus. Contudo, o bispo de Luziânia disse que isso não significa que ela deve permanecer parada e se ausentar da reflexão, da oração e dos encontros. Ele reforçou, por outro lado, que são necessárias adaptações. “Esse ano, diante dessa realidade, imagino que o lugar da oração e reflexão da família já conquistou espaço. Para o Mês da Bíblia, a prioridade deve ser a Palavra de Deus”, disse.
A sugestão da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB é que a oração, a reflexão e os estudos sejam feitos em família sobre o Livro do Deuteronômio, tendo o cuidado de adaptar a reflexão às diferentes idades. O material também, como sugestão da Comissão da CNBB, poderá ser estudado em grupos de convivência que tenham uma espiritualidade bíblica (amigos, colegas de trabalho, círculos bíblicos entre outros). Uma outra sugestão é fazer encontros à distância pelas plataformas que permitem reuniões on-line. Encontros como este, sugeriu Dom Waldemar, podem ser organizados pelas comunidades e paróquias.
Como método, Dom Waldemar deu duas orientações: ater-se à leitura contínua do texto proposto, o que ajuda a entender o contexto no qual está inserida a história e a oração com o mesmo. Uma opção, aponta, é fazer a leitura orante com os textos bíblicos sugeridos. Momentos importantes, reforçou Dom Waldemar, são as celebrações da Palavra e as homilias, onde os ministros leigos e ordenados poderão aprofundar a Palavra de Deus.
História do Mês da Bíblia
Dom Waldemar Passini, bispo de Luziânia (GO), falou sobre origem da celebração do Mês da Bíblia, um evento que é específico da Igreja no Brasil. Segundo ele, a semana tem origem com o Domingo da Bíblia, cujo início no Brasil se deu a partir da 1ª Semana Bíblica Nacional, em 1947. “A partir desta data, começou-se a celebrar o Domingo da Bíblia, sempre no último domingo do mês de setembro. Neste o mês, dia 30, comemora-se também o dia de São Jerônimo, um grande conhecedor da Bíblia, exegeta e tradutor da Bíblia para o latim, a vulgata”, disse.
Depois do “Domingo da Bíblia”, Dom Waldemar lembrou que se passou a celebrar o Mês da Bíblia a partir de uma iniciativa pioneira da arquidiocese de Belo Horizonte (MG), que se expandiu para o regional Leste 2. Em 1976, a celebração do Mês da Bíblia foi assumida pela CNBB e em todo Brasil. “Inicialmente, fazia-se uma reflexão por temas, depois passou-se à aprofundar os livros da sagrada escritura”, disse.
Deuteronômio: o livro de estudo em 2020
O livro que será aprofundado este ano é o Deuteronômio. Segundo o bispo, trata-se de um livro de grande importância, citado várias vezes no Novo Testamento. “Nós precisamos, como sempre para o Antigo Testamento, termos a referência da leitura cristã. Lemos o Antigo Testamento como Palavra de Deus para nós, mas temos na mente e no coração o Evangelho de Jesus Cristo e a teologia do Novo Testamento para nós como um todo. Assim, vamos ao livro de Deuteronômio e vamos encontrá-lo tal como ele se apresenta”, disse.
O bispo de Luziânia disse que se trata de um texto de grande importância teológica, porque coloca em seu centro a Lei de Deus. Lei como núcleo primeiro dado a Moisés e que, depois de muito tempo, continua falando a seu povo, estimulando o culto a Deus, mais tarde reconhecido como único e promove relações de fraternidade entre irmãos e entre o povo de Israel.
“O texto nos é dado como último livro do Pentateuco pelo próprio Moisés. Aí nós encontramos a primeira referência clássica da revelação, sendo Moisés o grande mediador dessa revelação entre Deus e o povo que Ele escolheu. Mas temos também no livro a resposta que o povo eleito deve dar ao seu Deus: ‘a vivência dos mandamentos como resposta à escolha e aliança estabelecida por Deus com seu povo’”, explicou.
No núcleo do livro, entre os capítulos 12 ao 16, encontra-se o “Código Deuteronômio”, um conjunto de preceitos que vai do culto à relações sociais e familiares e a como lidar com a guerra e com o conflito nas cidades que Israel vai conquistando. “O livro chama a atenção sobre como usar a lei não apenas para ocupar a terra, mas também para permanecer nela e torná-la fecunda. É um texto forte que perpassa períodos distintos da história mas sempre com a mesma teologia: a resposta fiel ao Deus que elegeu Israel, Judá o seu povo“, apontou.