Seis anos após o assassinato do padre Jacques Hamel, quatro cúmplices do crime foram a júri em Paris nesta segunda-feira, 14
Da redação, com Vatican News
O julgamento dos quatro supostos cúmplices do assassinato hediondo do padre Jacques Hamel começou em Paris nesta segunda-feira, 14. O arcebispo de Rouen, Dominique Lebrun, espera que este julgamento lance luz sobre um dos ataques jihadistas mais horríveis que ocorreram na França nos últimos anos e que estimulará as relações fraternas entre muçulmanos e cristãos na França.
A garganta do padre francês de 85 anos foi cortada com uma faca enquanto ele estava no altar celebrando a missa em 26 de julho de 2016, em sua igreja em Saint-Etienne-du-Rouvray, um subúrbio de Rouen, no noroeste da França. O assassinato de Hamel ocorreu enquanto o país enfrentava uma onda sem precedentes de ataques terroristas jihadistas que começaram com o massacre no jornal satírico Charlie Hebdo em Paris em janeiro de 2015 e que já custou mais de 250 vidas.
Quatro supostos cúmplices
Os assassinos, ambos cidadãos franceses, Adel Kermiche e Abdel-Malik Petitjean, também feriram gravemente um dos fiéis que fizeram refém. Ambos foram mortos a tiros pela polícia quando tentavam deixar a igreja. Em um vídeo, a dupla alegava ser membro do chamado Estado Islâmico (ISIL) em retaliação à luta da França contra jihadistas na Síria e no Iraque.
Aparecendo no Tribunal de Assize em Paris, hoje, estavam três supostos cúmplices, Jean-Philippe Jean Louis, Farid Khelil e Yassine Sebaihia, pertencentes à comitiva dos agressores. De acordo com a promotoria, eles sabiam e apoiavam o plano dos agressores. Os réus, no entanto, negaram as acusações, com seus advogados os chamando de “bodes expiatórios”. Um quarto réu, Rachid Kassim, um recrutador francês do EIIL que é considerado a mente por trás do ataque, acredita-se ter sido morto em um ataque aéreo da coalizão no Iraque e está sendo julgado à revelia, uma vez que a morte não foi confirmada.
Expectativas do julgamento
Falando ao Vatican News, o arcebispo Lebrun relatou suas expectativas e as das vítimas, dizendo que também esperava que as audiências ajudassem a explicar as razões por trás do ataque a um padre idoso durante a celebração da missa. O religioso disse ainda que o julgamento representa um passo muito importante no processo de luto das famílias e também um lembrete de que além da justiça humana, existe a justiça da Misericórdia de Deus.
O prelado francês explicou que a comunidade local de Saint-Etienne-du-Rouvray e as pessoas na França carregam sua memória em seus corações com muitos peregrinos que vêm rezar em sua igreja e em seu túmulo.
Diálogo fraterno com os muçulmanos
Questionado acerca das relações com a comunidade muçulmana local após o assassinato do padre Hamel, o arcebispo Lebrun disse que seu martírio ofereceu uma oportunidade para aprofundar essas relações e estimulou a refletir juntos sobre a violência na religião, a fraternidade universal e a convivência apesar das diferenças.
“Precisamos do diálogo para descobrir como podemos viver juntos e promover a mensagem de fraternidade universal de Jesus”, ponderou o arcebispo.
O processo de beatificação
Logo após o assassinato do padre Hamel, o Papa Francisco autorizou a Igreja na França a abrir o processo de beatificação, o primeiro passo para a santidade, dizendo que ele era um “mártir”.
Falando durante a Santa Missa em seu sufrágio na capela da Domus Sanctae Marthae em 14 de setembro de 2016, o Papa recordou que o sacerdote teve a garganta cortada próximo à Cruz, precisamente enquanto celebrava o sacrifício da Cruz de Cristo. “Este é o fio satânico da perseguição”, disse. “Ele deu a vida por nós, deu a vida para não negar Jesus. Ele deu sua vida no mesmo sacrifício de Jesus no altar, e dali acusou o autor da perseguição: ‘Vá embora, Satanás!’”.
A fase diocesana do processo de beatificação foi concluída em março de 2019 e os documentos estão sendo examinados pela Congregação Vaticana para as Causas dos Santos, que vai apurar sua morte como “in odium fidei”, por ódio à fé.