Mais de seis anos após os atentados de domingo de Páscoa, a Igreja do Sri Lanka pede que o governo nomeie um procurador especial para garantir justiça às vítimas
Da redação, com Vatican News

Padre Rohan Silva durante um dos seus apelos por justiça após os atentados de Domingo de Páscoa no Sri Lanka / Foto: Reprodução
O dia 21 de outubro marca 78 meses desde os atentados de domingo de Páscoa, que devastaram a comunidade cristã do Sri Lanka e abalaram profundamente a nação. Quase sete anos depois, a Igreja Católica continua a clamar por justiça, instando o governo a nomear um promotor especial para supervisionar o que descreve como uma investigação há muito tempo paralisada e politicamente sensível.
Em entrevista ao Vatican News, o Padre Rohan Silva, OMI, Diretor Executivo do Centro para a Sociedade e a Religião (CSR) em Colombo, expressou a frustração da Igreja com a lentidão do inquérito e sua determinação em manter a atenção pública focada na necessidade de verdade e responsabilização.
“Temos exigido constantemente essa nomeação”, disse o Padre Silva, “porque o Ministério Público, que atualmente cuida do caso, não tem agido com a celeridade necessária. Um promotor especial ajudaria a garantir que as acusações sejam apresentadas e que a justiça não seja adiada indefinidamente.”
Uma tragédia que marcou uma nação
Em 21 de abril de 2019, o Sri Lanka foi atingido por uma série de atentados suicidas coordenados contra igrejas e hotéis lotados de fiéis e visitantes na manhã do domingo de Páscoa. Os ataques atingiram o Santuário de Santo Antônio em Colombo, a Igreja de São Sebastião em Negombo e a Igreja de Sião em Batticaloa, além de três hotéis de luxo na capital.
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Mais de 260 pessoas foram mortas, incluindo dezenas de crianças e mais de 40 estrangeiros. Centenas ficaram feridas. As explosões foram posteriormente reivindicadas por um grupo extremista local inspirado pelo chamado Estado Islâmico (ISIS).
Os ataques estiveram entre os atos de terrorismo mais mortais da história recente do Sul da Ásia e deixaram profundas feridas psicológicas, espirituais e sociais que continuam a marcar a sociedade cingalesa.
“As famílias das vítimas, a Igreja e toda a nação merecem respostas”, disse o Padre Silva. “Justiça adiada por tantos anos é justiça negada.”
Esperança em um novo clima político
Um novo governo assumiu o poder no Sri Lanka há um ano, prometendo reabrir investigações que haviam sido paralisadas em governos anteriores. O Padre Silva observou que essa mudança trouxe “uma dose de esperança” a um público cansado.
“Com o novo governo, tínhamos expectativas”, disse ele. “Eles prometeram revisitar o caso e iniciar novas investigações sobre questões que nunca foram devidamente abordadas antes.”
Entre essas questões estão as revelações veiculadas pela emissora britânica Channel 4, que alegavam ligações entre elementos do aparato de segurança do Sri Lanka e o grupo extremista responsável pelos ataques.
“Essas alegações foram discutidas no Parlamento”, explicou o Padre Silva, “mas nunca foram submetidas a uma investigação formal. Estamos satisfeitos que as investigações sobre algumas dessas questões tenham começado.”
O religioso disse que novas linhas de investigação estão se concentrando não apenas nos atentados em si, mas também em incidentes anteriores que podem ter sido usados para enganar os investigadores ou desviar a atenção dos verdadeiros perpetradores.
“Está ficando mais claro”, acrescentou o Padre Silva, “que pode ter havido tentativas de criar confusão e direcionar suspeitas para os grupos errados, como o LTTE”, embora esse movimento não esteja mais ativo como uma organização militar.
O apelo por um promotor especial
O Centro para a Sociedade e a Religião, juntamente com a Arquidiocese de Colombo e outras organizações da sociedade civil, tem pressionado pela nomeação de um promotor especial independente dedicado exclusivamente ao caso do Domingo de Páscoa.
“Esta é uma das nossas principais reivindicações”, disse padre Silva. “Acreditamos que um promotor independente aceleraria o processo e garantiria a imparcialidade, especialmente porque a Procuradoria-Geral da República também é responsável pela elaboração das acusações.”
O padre lembrou que o Cardeal Malcolm Ranjith, Arcebispo de Colombo, entregou pessoalmente uma carta ao Presidente reiterando esse pedido.
“Não se trata apenas do CSR”, enfatizou o Padre Silva. “A Igreja Católica, advogados, ativistas de direitos humanos — todos nós nos unimos nessa demanda. Tememos que, sem um promotor especial, os interrogatórios possam ocorrer, mas as acusações formais continuarão a ser adiadas.”
Todo mês, no dia 21, a CSR organiza uma coletiva de imprensa e uma manifestação pública, muitas vezes perto de uma das igrejas atacadas, para lembrar as autoridades de sua promessa de fazer justiça.
“Fazemos isso para manter a questão viva”, disse o Padre Silva. “As pessoas se reúnem com velas, fotos de seus entes queridos e uma mensagem simples: ‘Não esquecemos’.”