O cardeal Malcolm Ranjith, o ex-presidente do país, as unidades de inteligência e a polícia tinham informações prévias sobre os iminentes atentados suicidas terroristas em três igrejas e três hotéis no Sri Lanka
Da redação, com Vatican News
O cardeal Malcolm Ranjith, do Sri Lanka, alega que o governo está encobrindo as investigações sobre os atentados da Páscoa de três anos atrás, a fim de proteger os cérebros por trás dos ataques. Como as recomendações da Comissão Presidencial de Inquérito sobre os ataques terroristas do Domingo de Páscoa não estão sendo implementadas para proteger os verdadeiros culpados e o religioso está levando o caso à comunidade internacional.
Quase 270 pessoas foram mortas, incluindo pelo menos 45 estrangeiros e cerca de 500 ficaram feridas, quando 3 igrejas e 3 hotéis de luxo foram atingidos em uma série de ataques suicidas terroristas islâmicos coordenados em 21 de abril de 2019.
A maior parte das vítimas se encontravam na Igreja Católica de São Sebastião, no subúrbio de Negombo, que pertence à Arquidiocese de Colombo do cardeal Ranjit, onde 113 fiéis morreram. As outras igrejas atingidas foram o Santuário de Santo Antônio em Kochchikade, também da Arquidiocese de Colombo, e a Igreja Evangélica Zion de Batticaloa, na costa leste.
Promessa falha
Em uma cerimônia na quinta-feira, 21, na Igreja de São Sebastião para marcar o terceiro aniversário dos atentados, o cardeal Ranjith fez um discurso contundente, culpando o presidente Gotabaya Rajapaksa e seu governo por não cumprir a promessa de conceder justiça às vítimas e limpar o país de “todos os elementos do terror”.
O presidente em exercício que fez campanha com a promessa de investigar o ataque esqueceu todas essas promessas, varreu as conclusões da comissão para debaixo do tapete, tentou esconder os fatos”, disse o cardeal Ranjith. Condenando o encobrimento, alertou que “todos os responsáveis por isso sofrerão as consequências de suas ações em breve”.
Cobertura
“O povo tem dúvidas se o atual governo está protegendo o ex-presidente por medo de que seu envolvimento no ataque da Páscoa possa ser revelado”, disse o cardeal. Ele disse ainda que o ex-presidente, as unidades de inteligência e a polícia ocultaram detalhes dos ataques iminentes apesar de terem conhecimento prévio e, portanto, não conseguiram garantir a segurança pública.
Dom Ranjith alegou ainda que o ataque foi usado por um candidato à eleição presidencial para angariar apoio na questão da segurança nacional.
“Suspeitamos que o atual regime continue a atrasar a implementação das recomendações feitas pela Comissão Presidencial que investigou o ataque do domingo de Páscoa, incluindo a tomada de medidas contra o ex-presidente Maithripala Sirisena, porque tal ação pode resultar em mais divulgações.”
O cardeal Ranjith disse que a liberdade do ex-inspetor-geral da polícia (IGP) Pujith Jayasundara e do ex-secretário de Defesa Hemasiri Fernando, que reconheceu publicamente que sabiam do ataque, foi um insulto aos mortos e feridos no ataque.
“O atual IGP, que promoveu certos policiais apesar das recomendações da Comissão Presidencial para realizar investigações disciplinares, também é responsável pelo derramamento de sangue de pessoas inocentes que morreram no ataque de Páscoa”, disse o cardeal Ranjith.
Um julgamento de 25 homens acusados de planejar os atentados começou em novembro do ano passado, mas foi adiado em janeiro para dar tempo para que as acusações fossem traduzidas para o idioma tâmil, que a maioria dos suspeitos fala.
O desafio do cardeal
Durante uma recente visita à Europa, o Cardeal Ranjith se encontrou o Papa Francisco em 28 de fevereiro no Vaticano e o atualizou sobre a situação no Sri Lanka.
O cardel disse a repórteres que explicou ao Papa que não descansará em sua busca por justiça e verdade. “O Papa tem sido uma grande fonte de inspiração e esperança para nós. Ele sempre me disse para seguir em frente e lutar com as pessoas para conseguir justiça para elas. Esse é o desafio que tenho”, afirmou.
Mais tarde, Dom Ranjith informou Michelle Bachelet, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra, na Suíça, a respeito dos acontecimentos em seu país. Ele também se dirigiu ao Conselho de Direitos Humanos, oportunidade em que levantou a questão da investigação falha sobre os atentados.