Presidente do Conselho Nacional do Laicato comenta a missão do cristão leigo; “Eu recebo muito mais do que ofereço”, testemunha fiel que há 15 anos vive o laicato
Jéssica Marçal
Da Redação
“Operários e operárias na messe”, cristãos leigos e leigas atendem prontamente ao chamado de levar ao mundo a mensagem do Evangelho. A Igreja reconhece essa vocação e dedicação e, no Brasil, a celebra de forma especial dentro do mês vocacional neste domingo, 23.
Muito mais que uma função ou serviço, essa vocação envolve uma verdadeira resposta apaixonada, uma dedicação que vai além do exercício de um ministério dentro da Igreja. Isso porque a primeira missão do cristão leigo é na família e na sociedade, aponta a presidente do Conselho Nacional do Laicato, Sônia Gomes de Oliveira.
Sônia destaca que, dentro da Igreja, o ministério já é exercido muito bem, através dos diversos trabalhos em pastorais, por exemplo. O grande desafio agora é saber definir que o campo específico de missão é “sair”, ir para o mundo levar esse testemunho. “Nós precisamos testemunhar Jesus Cristo nos vários ambientes em que a sociedade hoje está com a vida ferida, agredida, e essa missão é nossa”.
Segundo o assessor da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, padre Juarez Albino Destro, os cristãos leigos e leigas exercem na Igreja uma função específica e muito significativa. Junto aos ministros ordenados e aos religiosos, os leigos são “operários da messe”, ajudando a construir um mundo de justiça e paz, com mais vida para todos. “A vocação dos cristãos leigos e leigas é tão importante quanto as demais. Elas se complementam”, destaca.
Valéria Cristina do Nascimento sente esse reconhecimento e complementaridade. Exercendo o laicato há cerca de 15 anos, ela diz que o serviço do leigo na igreja é valorizado e percebido com muita importância e necessidade. “Em uma paróquia, por exemplo, o pároco sozinho não consegue alcançar a todos, o Evangelho não chega para os mais necessitados. Celebrar a vocação do leigo é enfatizar que todos fazem parte da igreja, é abraçar o povo e todos realmente se tornarem irmãos na fé, mostrar que todos somos importantes e necessários para a implantação e divulgação do Evangelho de Jesus Cristo”, afirma.
“A vocação dos cristãos leigos e leigas é tão importante quanto as demais. Elas se complementam”
Padre Juarez Albino
Essa valorização do leigo pôde ser expressa de forma especial há três anos, quando a Igreja no Brasil viveu o Ano do Laicato, iniciativa que veio somar a tantos documentos que a igreja tem sobre essa vocação. Segundo Sônia, isso foi muito importante para os cristãos leigos e leigas e abriu as portas para que muitos deles pudessem tomar conhecimento do seu papel. Mas não se deve parar por aí. “O mais bonito disso tudo é nos descobrirmos enquanto vocacionados, sujeitos da ação e do diálogo. A vivência da sinodalidade e do protagonismo. Muitos de nós precisamos avançar”.
A atuação do cristão leigo na pandemia
Com a pandemia do novo coronavírus, missas com a presença física de fiéis chegaram a ser suspensas (e retomadas já parcialmente em alguns locais, com as devidas normas de segurança sanitária). Neste tempo, além dos veículos de comunicação que fazem as habituais transmissões dessas celebrações, em muitas paróquias houve uma adaptação e mobilização, para transmitir também as missas pelas redes sociais, um trabalho das Pastorais da Comunicação.
“Celebrar a vocação do leigo é enfatizar que todos fazem parte da igreja, mostrar que todos somos importantes e necessários para a implantação e divulgação do Evangelho de Jesus Cristo”
Valeria Nascimento
Padre Juarez lembra que, em sua maioria, as várias pastorais das comunidades eclesiais são coordenadas e levadas adiante pelos cristãos leigos e leigas, e com muita eficiência. “Assim é a Igreja, Comunidade, onde o pouquinho de cada um vai somando e se tornando um grande ‘pão’, para depois ser partilhado com todos, produzindo frutos”.
Mas o esforço do cristão leigo nesse tempo de pandemia não para por aí. Sônia atenta ainda para as tantas famílias que fizeram a vivência da Palavra de Deus e mantiveram essa animação das comunidades quando não foi possível ir à Missa. Outro exemplo que, para Sônia, revela esse protagonismo do leigo nesse tempo de pandemia é a dimensão social. “Eu vejo que muitas dessas ações de chegar comida e roupa na casa do pobre, medicamento nas casas das pessoas mais simples, pessoas em situação de rua sendo alimentadas, isso graças ao protagonismo de milhares de cristãos leigos e leigas que assumiram essa missão e ainda estão assumindo”.
Os frutos de acolher o laicato
Abraçando a vocação, o cristão leigo se coloca à disposição para as necessidades de sua comunidade de fé, podendo atuar nas mais diversas atividades pastorais. Tudo isso de forma voluntária e tendo que conciliar com as outras dimensões da vida, como família e trabalho.
Valéria conta que nunca teve dificuldades nessa conciliação. “Há dias de correria, cansaço, mas é um desgaste diferente, que não tira nada da gente e sim acrescenta”.
Ela testemunha os frutos desse “sim”: o amadurecimento da fé, o reconhecimento do valor da vida e poder ver como é gratificante servir o próximo nas atividades pastorais. “Eu recebo muito mais do que ofereço, tenho plena consciência de que Deus foi me fazendo capaz de realizar cada uma das tarefas necessárias no momento”, afirma.
Sônia acrescenta que não tem explicação para um chamado. “A vocação não tem explicação, é como um olhar apaixonado, é como se fosse uma boa melodia que você ouve e diz ‘me encantei’. É o encantamento que a gente tem, a vocação não dá para explicar. Quando a gente, enquanto leigos e leigas, descobre e assume esse chamado, a gente vai de mãos vazias e essa que é a vivência do Evangelho”.
“Quando entendemos realmente que tudo que fizermos, tem que ser feito com amor, zelo e dedicação, sem esperar nada em troca, entendemos que ao estar a serviço da igreja, colaborar com as obras, ser missionários, a gente não precisa de recompensa”, conclui Valéria.