Membro da Comissão para a Tutela de Menores comenta plenária com o Papa Francisco concluída na última sexta-feira, 29
Ronnaldh Oliveira
Da redação
Na última sexta feira, 29, foi concluída no Vaticano mais uma plenária da Pontifícia Comissão para Proteção de Menores. O momento contou com a presença do Papa Francisco que reforçou o compromisso da Igreja em sanar essas as feridas dos abusos sexuais.
A comissão, composta por 18 membros (nove do antigo mandato e nove possíveis para a nova gestão), conta com a presença de um brasileiro, Nelson Giovanelli dos Santos. Desde 2018, ele compõe o conselho e leva a sua experiência junto dos jovens toxicodependentes atendidos pela Fazenda Esperança – instituição na qual é um dos fundadores, como um caminho efetivo e validado pela Igreja na escuta e acompanhamento das violências sexuais cometidas por alguns de seus membros.
Ainda no Vaticano, Nelson comentou sobre o encontro e os passos dados pela Igreja no Brasil.
Avanço a nível mundial
O brasileiro afirmou que um dos principais caminhos de combate à violência sexual seguido pela Igreja é o investimento na elaboração de Diretrizes em cada Conferência Episcopal, diocese, comunidade, congregação e associação.
Estas diretrizes, comentou Giovanelli, devem apontar como acolher as denúncias, além de medidas e comportamentos no trato com crianças e adolescentes.
“A prevenção tem sido um ponto muito concreto. (…) Com isso os índices têm caído. Nos EUA, onde houve uma grande explosão de casos há 20 anos, hoje, depois de muitas medidas, diminuiu tremendamente os casos”, disse.
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O membro da Comissão para Proteção de Menores destacou ainda que atualmente a Igreja realiza diversas formações para os seus membros em todos os níveis: clero, seminaristas, religiosos, catequistas e etc.
“Os seminários de formação têm se revelado um elemento de prevenção muito grande. O cuidado e a escuta das vítimas de abusos, como também os elementos de prevenção e acolhida fazem com que concretamente a prevenção ocorra.”
A última plenária no Vaticano
“Essa plenária que aconteceu semana passada, última do nosso mandato, foi definitivamente a tomada de consciência da mudança que o Papa Francisco provocou por meio da Constituição Apostólica Predicate Evangelli nos artigos 78 em diante. Lá se diz da Introdução da Comissão Pontifícia para a Tutela de Menores dentro da Cúria Romana, especificamente na Congregação da Doutrina da fé que agora será chamado de Dicastério da Doutrina da Fé”, ressaltou Giovannelli.
O Pontífice conduziu esse processo de mudança para dicastério porque gostaria que o órgão estivesse por dentro da estrutura da Igreja.
“A presença da Comissão neste dicastério vai permitir que o nosso trabalho represente um órgão de vigilância para que todos esses processos de prevenção de abusos sexuais dentro da Igreja sejam concretizados por meio desse setor específico”, afirmou.
A Independência da Comissão
O fato da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores estar na Cúria Romana não tira o seu caráter independente em auxiliar a Igreja e o Papa. Isso ocorre por meio de conselhos e sugestões das melhores práticas de prevenção e enfrentamento dos casos.
“Uma prova e um sinal concreto da dependência de nossa comissão é que a nomeação do presidente da Comissão é feita sempre pelo Santo Padre. Estaremos dentro da estrutura, mas permaneceremos autônomos na gestão e no trabalho que devemos desempenhar”, explicou o brasileiro.
Giovannelli sublinhou ser um passo muito importante para a Igreja. “Desde que a comissão foi criada em 2014, sua independência foi preservada para que o Papa pudesse receber de um órgão, com essa autonomia eclesial, as orientações das melhores práticas de enfrentamento dessas feridas.”
A prevenção no Brasil
Nelson foi nomeado pelo Papa Francisco em 2018 para compor a Comissão da Pontifícia para a Proteção de Menores. Ele foi incumbido de acompanhar e implementar grupos para a escuta das vítimas de abusos sexuais. A finalidade destas ações é fazer com que as vozes sejam ouvidas e integradas dentro da Igreja.
“Esse projeto consiste em criar um conselho consultivo de vítimas que, traduzindo para a nossa realidade latino-americana, tratou-se aqui no Brasil da união de experiências e testemunhos onde se pudesse fazer a Igreja em sua liderança ter consciência das graves consequências que esse delito pode trazer para o fiel, no comprometimento de sua fé, nas feridas, despertando assim essa escuta atenta e carinhosa por nossa parte, com a segurança necessária de que as medidas sejam tomadas e os delitos não aconteçam mais.”
Através dos seminários propostos no Brasil, permitiu-se elaborar uma espécie de escritório de trabalho com dupla partilha da CNBB e da CRB nacional. Deste caminhar conjunto, a Igreja fundou no dia 8 de dezembro de 2020 o Núcleo Lux Mundi. Ele surgiu a partir do Motu Próprio “Vós Sois a Luz do Mundo”.
O núcleo composto diretamente por três profissionais diretos, voluntários advogados, docentes, jornalistas, psicólogos entre outros, realiza formações, seminários e contatos com cada diocese a partir do que o Papa pediu em seu documento.
“A partir da criação desse órgão nacional, não se faz mais necessário que esperem eu chegar das reuniões aqui no Vaticano para implementarem algo. Eles fazem muita coisa e de forma muito profissional”, esclareceu.
O relatório anual
De acordo com Giovannelli, o relatório anual pedido pelo Papa Francisco e noticiado pelos meios de comunicação, na realidade foi uma sugestão da própria Comissão Pontifícia.
“Ele tem o intuito de apontar o que foi sendo realizado durante o ano, no sentido de proteger as crianças e adolescentes dentro da Igreja”, comentou.
O Brasil, explicou o membro da Comissão para a Proteção de Menores, tem uma vantagem de já possuir o escritório do Núcleo Lux Mundi.
“Aqui oferecemos uma estrutura mais organizada contendo todas as informações necessárias para que a Comissão Pontifícia apresente a Francisco o que está sendo feito”, contou.
A organização da Comissão
A Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores se organiza em três subgrupos. O primeiro visa o cuidado das vítimas. O segundo tem como foco a educação e formação, preocupando-se diretamente na criação de subsídios para a Igreja no sentido formativo e educativo. Já o terceiro se debruça sobre as Diretrizes, fornecendo para as comunidades elementos importantes das composições dos documentos elaborados para as dioceses, congregações, bem como os documentos que a própria Igreja lança por meio do Papa com a temática da proteção integral.
“A minha contribuição como leigo está muito ligada a minha experiência com a Fazenda da Esperança. Nestes quase 40 anos trabalhando com essa ferida da toxico-dependência e demais sofrimentos, estou acostumado a ajudar as mazelas humanas que provocam as dependências químicas”, afirmou Giovannelli.
Nelson partilha ainda que faz parte da constatação institucional da Fazenda que, em alguns lugares, 50% das pessoas – ou mais – entraram na dependência química por causa das feridas provocadas pelos abusos sexuais na sua infância e adolescência.
“O trabalho de escuta e acompanhamento da cura dessas feridas é algo que temos desenvolvido juntos por anos. A Igreja reconheceu por meio da comissão, em sua última plenária que podemos contribuir. A Fazenda da Esperança foi considerada um caminho pedagógico seguro para o enfrenetamento das violências”, concluiu.