Sacerdotes comentam intenção de oração do Papa para janeiro; “Fraternidade precisa acontecer no mundo”, reiteram
Julia Beck
Da redação
No mês que antecede a celebração, pela primeira vez, do Dia Internacional da Fraternidade Humana, em 4 de fevereiro (data instituída pela ONU em dezembro passado), a Igreja Católica reza, a convite do Papa Francisco, pela fraternidade. Em seu pedido de oração para o mês de janeiro, divulgado no início desta semana, o Santo Padre afirmou:
“Ao rezar a Deus seguindo Jesus, unimo-nos como irmãos àqueles que rezam seguindo outras culturas, outras tradições e outras crenças. Somos irmãos que rezam. A fraternidade leva-nos a abrirmo-nos ao Pai de todos e a ver no outro um irmão, uma irmã, para partilhar a vida ou para se apoiar mutuamente, para amar, para conhecer”.
A fraternidade humana tornou-se um apelo particular do pontificado de Francisco, tendo uma grande marca no dia 4 de fevereiro de 2019, quando o Pontífice e o Grão Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb assinaram, em Abu Dhabi, o histórico “Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum“. O documento conjunto é considerado um marco nas relações e convida todas as pessoas, que trazem no coração a fé em Deus e a fé na fraternidade humana, a unir-se e trabalhar em conjunto.
O subsecretário de pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e assessor da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso, padre Marcus Barbosa Guimarães, afirma que a Igreja no Brasil se mostrou feliz com a intenção do Papa para este mês de janeiro. Para o sacerdote, a fraternidade humana precisa ser uma meta.
O missionário da Comunidade Canção Nova padre Márcio Leandro destaca que, ao incentivar a oração pela fraternidade humana, o Santo Padre mostrou o valor que tem a comunhão, a unidade. “Todos são filhos e filhas de Deus, e por isso a fraternidade precisa acontecer no mundo, na Igreja. Onde tiver pessoas, essa fraternidade precisa acontecer”.
A oração como caminho de esperança
Sobre a oração como um caminho para alcançar uma graça ou um pedido, no caso uma intenção do Papa, padre Márcio explica: “Quando rezamos – que quer dizer a elevação da alma a Deus – e nos relacionamos com Deus, temos a oportunidade de abrir o nosso coração para um relacionamento com o outro. A oração ajuda a nos abrir para o outro”.
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“Uma vez que estou em comunhão e unidade com Deus, também consigo viver a união e a comunhão com o outro, e aí a fraternidade humana acontece” – Padre Márcio Leandro
A oração é essencial, complementa padre Marcus. O sacerdote frisa que a fraternidade é, primeiramente, um dom e, na oração, deve-se pedi-lo. “Também ela é compromisso: abrindo-nos ao Pai de todos, ajuda-nos à conversão interior que se desdobra concretamente em gestos e atitudes de partilha de vida, de amor, solidariedade, de cuidado, capazes de curar os laços feridos de comunhão e fraternidade entre nós!”.
“Frattelli Futti” como um meio de aprofundar a intenção de oração do Papa
A leitura da encíclica Fratelli Tutti é recomendada por ambos os sacerdotes para um maior aprofundamento do tema “fraternidade humana”. O texto foi assinado e publicado pelo Papa, em outubro de 2020, como forma de indicar caminhos em direção à fraternidade e à amizade social. O assessor da CNBB explica que sua leitura é indicada não só neste mês, mas em toda a caminhada de fé.
“A Encíclica Fratelli Tutti é um texto marcante, corajoso, que a todos compromete na transformação do mundo. Ela não é uma teoria. É uma visão aplicada à realidade concreta. Ou seguimos o caminho da fraternidade ou estaremos todos contra todos, lembra o Papa Francisco”.
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O sacerdote da Canção Nova explica que a encíclica do Pontífice ensina que viver o amor é ultrapassar as barreiras geográficas, de espaço, e ir até o outro, chegar até o outro. “Ela também nos ajuda a entender que a comunhão, a unidade e a fraternidade passam pela consciência de que somos filhos e filhas de Deus. Essa filiação mostra que temos o mesmo Pai, e isso faz com que vivamos essa fraternidade”.
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A Fratelli Tutti, pontua padre Márcio, valoriza e destaca a pessoa humana, além de frisar que o amor, a simplicidade e a alegria do viver em comunidade levam à fraternidade e à amizade social. O sacerdote comenta que só é possível compreender a fraternidade humana através do amor e da oração.
“A Fratelli Tutti é um presente! Ela precisa ser mais e mais divulgada, lida, estudada, rezada, aplicada” – Padre Marcus Barbosa
Reconhecer no outro um irmão
Outro passo indicado pelo Papa Francisco para viver a fraternidade é reconhecer no outro um irmão. Para o assessor da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da CNBB, a própria fé, acolhida e vivida, dá este reconhecimento.
“É a nossa fé que nos oferece o necessário entusiasmo para que nos empenhemos, sem reservas e sem medo, por uma sociedade onde todos têm lugar, independente de religiões, culturas, tradições e crenças. O caminho da fé nos obriga a construir o caminho da fraternidade e da paz. Sentirmo-nos irmãos uns dos outros.
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Amar a Deus e ao próximo
Amar/adorar a Deus e amar ao próximo são pontos essenciais destacados pelo Papa Francisco, comenta padre Márcio.
“Uma vez que adoramos a Deus de todo o nosso coração, com toda a nossa mente, com tudo que temos e somos, nós reconhecemos o nosso nada e o tudo que é Deus. A partir dessa conclusão, também nos abrimos ao amor ao próximo, porque amar a Deus também nos impulsiona a amar o próximo”, sublinha o sacerdote da Canção Nova.
Padre Marcus afirma que é preciso concentrar-se neste essencial. “Perdemo-nos em coisas periféricas que só nos levam a discussões, competições, rivalidades, polarizações, violências e guerras. Para nossa conversão, o ponto de partida deve ser o olhar de Deus que olha com o coração, que ama, que nos presenteia com seu amor. E daí olhar cada pessoa como filho amado de Deus”.
“A experiência do amor é tão fundamental que o Papa Francisco a chama, na Fratelli Tutti, de “verdade transcendente”: verdade mais forte que pode fundar a verdadeira fraternidade” – Padre Marcus Barbosa
Construir um futuro juntos, para termos um futuro
Segundo padre Márcio, o Papa quando diz: “ou construímos um futuro juntos, ou não haverá futuro”, faz um apelo para viver no presente a construção de pontes. “As religiões devem buscar essa construção de pontes e jamais a divisão. Precisamos partir daquilo que nos une para que haja diálogo e respeito”.
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As diferenças, reafirma o sacerdote, não podem causar divisão nem distanciamentos, é preciso viver a realidade da comunhão para que a fraternidade humana possa acontecer. “Construir o futuro juntos é andar de mãos dadas por aquilo que somos, irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai. O amor deve nos levar a construir um futuro mais digno, de paz e respeito entre os povos”.