MÊS DA BÍBLIA

Evangelho de São João é marcado por cristologia elevada, indicam padres

Segundo estudiosos, textos escritos pelo discípulo amado têm vivacidade de narrativa e enfatizam muito mais a divindade de Jesus do que as suas características humanas

Laura Lo Monaco
Da Redação 

St John the Evangelist. Vladimir Borovikovsky, 1804–1809

Em setembro a Igreja celebra o mês da Bíblia, tempo de recordar a sacralidade da Palavra de Deus e a sua importância na vida dos cristãos. Uma das partes mais importantes das Sagradas Escrituras são os livros dos quatro evangelistas e o livro dos Atos dos Apóstolos, que narram a vida de Jesus. 

São João é um dos evangelistas e narra os feitos de Jesus de maneira diferente do Evangelho de Mateus, Marcos e Lucas, que são chamados de sinóticos. Segundo o mestre em Ciências Bíblicas e Arqueologia; e membro da Comunidade Canção Nova, padre Antonio Xavier Batista, uma das particularidades deste Evangelho é a cristologia elevada, no qual se enfatiza muito mais a divindade de Jesus do que as suas características humanas. 

“O próprio Jesus fala muito sobre si, que é diferente dos outros, onde em Marcos inclusive existe um certo segredo sobre a pessoa de Jesus. No Evangelho de João, vemos isso pelo uso da expressão ‘eu sou’ (Jo 6,35), ‘eu sou o pão da vida’ (Jo 8,12), ‘eu sou a luz do mundo’ (Jo 10,11) e assim por diante”, ressalta. 

Dualismo ético

Padre Antônio Xavier / Foto: Canção Nova

O Evangelho de São João também é marcado por um dualismo ético. De acordo com o sacerdote, aparecem sempre textos que confrontam luz e trevas, vida e morte, verdade e mentira, mundo e céu. “Essas expressões têm sempre em vista estabelecer que, a partir do momento que alguém tem contato com Jesus, a pessoa dá uma resposta. O critério do juízo no Evangelho é esse, a resposta. É necessário responder. Quem responde ‘sim’ vai para o lado da luz. Quem responde ‘não’, O ignora, permanece então nas trevas”, afirma. 

O sacerdote também ressalta outra característica própria dos escritos de São João: “ao invés de milagres, ele utiliza a palavra ‘sinal’ para indicar que todos os feitos de Jesus, realizados de maneira miraculosa, tendem a apontar para a sua identidade”. O Evangelho de São João também é mais detalhista que os demais. “O texto contém discursos que são muito longos e diálogos que são bem profundos, que sempre tendem a revelar Jesus e a sua missão ou a missão dos próprios apóstolos”. 

Em relação à forma como foi organizado, uma das particularidades deste Evangelho é o fato de ser o único que começa com um prólogo, que já dá o sentido de tudo aquilo que vai ser visto dentro daquele livro.  

Cronologia e local de composição 

Segundo o mestre em Teologia Bíblica e membro da Comunidade Canção Nova, padre Ademir Pereira da Costa, o Evangelho de João chegou à sua redação final entre o ano 80 e o ano 100 d.C. “Neste período, o judaísmo entrou em conflito com as comunidades cristãs primitivas, após o Concílio de Jamnia, causando a separação da comunidade primitiva com as sinagogas. O Evangelho de João nasce nesse contexto”, afirma.  

Padre Ademir Pereira / Foto: Canção Nova

A composição deste Evangelho foi feita na cidade de Éfeso, onde João e a Virgem Maria foram morar logo depois da ressurreição de Jesus e onde hoje existe uma basílica dedicada a São João. Padre Ademir Costa sublinha que o Evangelho de São João não nasceu de um dia para o outro. “A redação do Evangelho passou por um longo processo, é um Evangelho que contém uma longa trajetória da comunidade joanina”. 

João, o discípulo amado

João era um pescador que se tornou discípulo após o chamado de Jesus. Junto com seu irmão, Tiago, eles foram testemunhas especiais, chamados junto com Pedro para estarem presentes em eventos importantes, como no momento da transfiguração e, portanto, são discípulos que se destacam no meio dos outros. 

Padre Xavier afirma: “Durante a segunda parte do Evangelho de São João, nós o vemos ali sendo apresentado com o título de discípulo amado, exatamente por estar mais próximo de Jesus”. O mestre em Ciências Bíblicas compartilha que Jesus permite essa proximidade a João ao ponto dele tocar o peito de Jesus com a sua cabeça, e de, na última ceia, ser o único discípulo que, quando interroga Jesus, recebe de verdade uma resposta de quem seria aquele que iria trair o Mestre. 

Após a ressurreição de Jesus, João recebeu, assim como aos pés da cruz, Maria como sendo a sua mãe e ele como sendo filho dela. Padre Antonio Xavier afirma que a vida do discípulo amado vai ser desenvolvida não mais na região da Palestina, mas na cidade de Éfeso, onde vai ter a oportunidade de fazer grandes missões e escrever livros que são importantíssimos como o Evangelho e as suas cartas.  

Foto: Laura Lo Monaco

Padre Antonio Xavier complementa que em João 28 é narrado que, depois de Maria Madalena anunciar que o túmulo está vazio, ele é o primeiro a chegar no local e o faz muito rápido, trazendo a ideia de que o amor faz as pessoas caminharem com velocidade. “O título de discípulo amado também refere-se a uma espécie de autorreferência humilde da parte do próprio discípulo – que foi chamado entre os primeiros e que esteve presente ali nos momentos mais importantes da vida de Jesus, que recebeu Maria, mas que em algum momento se projeta para ser aquele que está mais à frente”. 

João foi o discípulo que viveu por mais tempo e foi o último a morrer, por volta do ano 96, 97 d. C. A tradição conta que tentaram martirizá-lo, mas ele acabou não morrendo e depois morreu pacificamente na cidade de Éfeso. 

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