Espírito Santo

Entenda como RCC leva fiéis a experimentarem "autêntico Pentecostes”

Coordenadora do Charis Brasil e coordenadora da formação da RCC Brasil refletem sobre dons, carismas, “novo Pentecostes” e batismo no Espírito Santo 

Julia Beck
Da redação

O fundador da Comunidade Canção Nova, Monsenhor Jonas Abib, foi um dos grandes precursores da RCC no Brasil /Foto: Wesley Almeida

A Solenidade de Pentecostes não apenas tem uma ligação com a Renovação Carismática Católica (RCC), mas a define. É o que afirma a coordenadora do Serviço Internacional para a Renovação Carismática Católica – Charis Brasil, Katia Roldi Zavaris.

Criado pelo Papa Francisco em 2019, o Charis une todas as expressões carismáticas que surgiram a partir do grande derramamento do Espírito Santo em 1967, em Pittsburgh, na Pensilvânia, no conhecido “Final de Semana de Duquesne” – quando, pela primeira vez, de forma registrada, leigos católicos relataram a experiência do batismo no Espírito Santo.

O início da RCC é marcado também por outros dois fatos relevantes: as cartas da fundadora da Congregação das Oblatas do Espírito Santo, Santa Elena Guerra, endereçadas ao Papa Leão XIII por volta de 1886 pedindo uma maior devoção à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade; e a pronúncia do Veni Creator Spiritus, em 1901, pelo mesmo Pontífice, consagrando o século XX ao Divino Espírito Santo.

Katia Roldi Zavaris, coordenadora do Charis Brasil/ Foto: Arquivo Pessoal – Kátia

Katia enfatiza que o “Final de Semana de Duquesne” é tido como uma “atualização de Pentecostes”, já que, a partir disso, no exercício e no crescimento da Renovação Carismática Católica, surgiram várias expressões, dentre elas grupos de oração, novas comunidades e institutos religiosos.

Pentecostes, afirma a coordenadora nacional do Charis, é o grande encontro, o grande momento, a grande festa para toda a Igreja e, de modo muito especial, para todos os carismáticos.

“A nossa missão é, como o Papa Francisco nos pediu, levar o batismo no Espírito Santo a toda a Igreja. Essa é a nossa missão, batizar no Espírito Santo, levar as pessoas a terem a experiência de um autêntico Pentecostes”, frisa.

Dons e carismas do Espírito Santo

Pelo poder do Espírito Santo, “os filhos de Deus podem dar fruto”, frisa o Catecismo da Igreja Católica. “Aquele que nos enxertou na verdadeira vida nos fará produzir o fruto Espírito que é ‘amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, lealdade, mansidão, domínio próprio’” (n. 736). Os dons, lembra a coordenadora da comissão de formação da RCC Brasil, são para edificação do corpo de Cristo, que é a Igreja.

“A RCC, dotada de dons e carismas, assim como está no seu nome, se coloca a serviço dos irmãos, para que eles possam viver essa experiência transformadora com a pessoa do Espírito Santo”, frisa a coordenadora da comissão de formação da RCC Brasil, Daiana Bellei Rehbein.

Assim como os dons, os carismas “são graças do Espírito Santo”. O Catecismo da Igreja Católica acrescenta que os carismas, “direta ou indiretamente, têm utilidade eclesial, pois são ordenados à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo” (n. 799) e nenhum deles “dispensa da reverência e da submissão aos Pastores da Igreja” (n. 801).

Daiana recorda uma fala de São João Paulo II, em abril de 1998, à RCC na Itália: “Como não dar graças pelos preciosos frutos espirituais que a Renovação gerou na vida da Igreja e de tantas pessoas? Quantos fiéis leigos – homens e mulheres, jovens, adultos e anciãos – puderam experimentar, na própria vida, o maravilhoso poder do Espírito e de seus dons! Quantas pessoas redescobriram a fé, o gosto da oração, a força e a beleza da Palavra de Deus, traduzindo tudo isso num generoso serviço à missão da Igreja! Quantas vidas mudaram de maneira radical!”.

Neste mesmo raciocínio, Katia Roldi retoma a missão do Charis, proposta pelo Papa Francisco, de ser uma “corrente de graça” – indicação feita pelo Cardeal Leo Joseph Suenens, que teve papel fundamental no Concílio Vaticano II e foi o primeiro diretor espiritual da RCC.

A partir da união de todas as expressões e carismas nasceu a corrente de graça da RCC, uma identidade pautada pelo batismo no Espírito Santo ou efusão do Espírito Santo sobre cada um. “A partir dos carismas, oferecemos essa experiência transformadora”, ressalta Katia.

O que é o batismo no Espírito Santo?

Daiana Rehbein / Foto: Arquivo Pessoal

Daiana explica que o batismo no Espírito Santo é uma experiência transformadora de vida. “Ninguém fica igual, não tem um coração que permaneça igual a partir dessa experiência. O batismo no Espírito Santo não é um novo sacramento, mas um renovar da graça de Deus que já está em nós. Nós somos templo vivo, morada de Deus, morada do Espírito Santo. O batismo no Espírito Santo é como um mover dessa experiência que já está dentro de nós”, complementa.

Ser batizado no Espírito Santo é ser preenchido com o amor de Deus, prossegue Daiana. Ela destaca que essa experiência vem atualizar o batismo sacramental, recordando que é missão dessa corrente de graça contribuir para que todos tenham um encontro pessoal com Jesus.

Após o “Final de Semana de Duquesne”, o batismo no Espírito Santo se espalhou com rapidez por todo o mundo, contribuindo para a crescente devoção ao Espírito Santo, tanto propagada por Santa Elena Guerra.  

Novo Pentecostes

O Concílio Vaticano II é, frequentemente, referenciado como um “novo Pentecostes” para a Igreja Católica. Essa expressão destaca a renovação e o impulso espiritual que o concílio trouxe à Igreja, semelhante à descida do Espírito Santo sobre os apóstolos em Pentecostes.

E qual a relação entre o novo Pentecostes e a RCC? A coordenadora da comissão de formação da RCC Brasil explica que a RCC tem a graça de propagar o “Pentecostes”.

“Santa Elena Guerra nos ensinava que Pentecostes não terminou, que de fato é sempre Pentecostes. Ela dizia, em todos os lugares, basta clamar, basta os homens desejarem e ele virá”, aponta Daiana. Ela lembra que São João XXIII rezava pedindo o novo Pentecostes para a Igreja e a RCC é fruto dessa oração.

Foto: Bruno Marques

RCC no Brasil

Em agosto de 1969, em Campinas (SP), após a realização do retiro liderado pelo sacerdote jesuíta Haroldo Rahm com o tema “Experiência de Oração sobre a Pessoa e Obra do Espírito Santo”, o Brasil registrou o início da RCC.

Os jovens que participaram deste encontro e tiveram a experiência do batismo no Espírito se dividiram em pequenos núcleos, espalhando a RCC por todo o Vale do Paraíba, no interior do Estado de São Paulo. Assim nasceram os grupos de oração, reuniões pautadas no louvor, petição do Espírito Santo e meditação da Palavra de Deus. Os primeiros grupos tinham as reuniões nas casas das famílias dos pioneiros, como Laura Mendes da Silva. Agraciada com um dom extraordinário de cura, Tia Laura, como era conhecida, foi uma figura ímpar no cultivo das primeiras lideranças da RCC no Brasil.

As reuniões na casa de Tia Laura, em Lorena (SP), eram frequentadas pelo fundador da Comunidade Canção Nova, Padre Jonas Abib, pela cofundadora da comunidade, Luzia Santiago, e outros nomes de grande influência na divulgação dos carismas do Espírito Santo em terras brasileiras. Ao mesmo tempo, o já sacerdote Eduardo Dougherty iniciou um ministério missionário por todo o Brasil, realizando retiros de Experiência de Oração e divulgando os dons carismáticos, fundando centenas de grupos de oração.

Jubileu da Esperança

Juntamente com a Solenidade de Pentecostes, neste final de semana acontece o Jubileu dos Movimentos, Associações e novas Comunidades – evento ligado ao Charis, logo, também à RCC. A coordenadora nacional do Charis confirmou sua presença e destacou que o Jubileu é sempre um tempo de renovação.

“Reavivar a chama, recomeçar, permitir que o Espírito Santo faça tudo novo em nós. Penso que será uma grande renovação espiritual para as novas comunidades no Brasil e no mundo neste Ano Santo. (…) Será uma atualização de Pentecostes em nossas vidas, voltaremos com o nosso coração cheio de amor e ardor por Deus, pelos nossos irmãos e pela nossa missão”, complementa.

Por fim, Katia sublinha que o amor de Deus foi derramado pelo Espírito Santo, então a esperança (tema deste ano jubilar) não engana porque o amor de Deus foi derramado.

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