“Mexer nas brasas e retirar as cinzas a fim de que mostrem a força do calor do amor e do fogo abrasador da Igreja no Brasil”, enfatizou o presidente da CNBB para a Assembleia Geral que começou hoje
Ronnaldh Oliveira
Da Redação
No primeiro pronunciamento aberto da 59ª Assembleia Geral da Conferência Geral dos Bispos do Brasil, o presidente da entidade, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte (MG), falou sobre a motivação para esta edição do evento. Ele saudou os inúmeros bispos, presidentes dos organismos no povo de Deus, sacerdotes e demais profissionais da comunicação presentes na sala. Esta primeira etapa é realizada de forma virtual, de 25 a 29 de abril.
O arcebispo afirmou que “o que nos define como Igreja é o amor recebido do Pai, por meio de Jesus Cristo. Essa deve ser a nossa motivação diária: a proclamação do amor de Deus aos povos e não os aprisionamentos dos desafios inerentes da sociedade hoje.”
A Motivação eclesial para a Assembleia
Dom Walmor relembrou o Documento de Aparecida, que comemora este ano 15 anos, como motivação de pauta, e leu o seguinte trecho exortativo:
“Na América Latina e no Caribe, quando muitos de nossos povos se preparam para celebrar o bicentenário de sua independência, encontramo-nos diante do desafio de revitalizar nosso modo de ser católico e nossas opções pessoais pelo Senhor, para que a fé cristã se estabeleça mais profundamente no coração das pessoas e dos povos latino-americanos como acontecimento fundante e encontro vivificante com Cristo, manifestado como novidade de vida e de missão de todas as dimensões da existência pessoal e social.
Isto requer, a partir de nossa identidade católica, uma evangelização muito mais missionária, em diálogo com todos os cristãos e a serviço de todos os homens. Do contrário, “o rico tesouro do Continente Americano… seu patrimônio mais valioso: a fé no Deus de amor…” corre os riscos de seguir desgastando-se e diluindo-se de maneira crescente em diversos setores da população.
Hoje se considera escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte (cf. Dt 30.15). Caminhos de morte são os que levam a dilapidar os bens que recebemos de Deus através daqueles que nos precederam na fé. São caminhos que traçam uma cultura sem Deus e sem seus mandamentos ou inclusive contra Deus, animada pelos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero, a qual termina sendo uma cultura contra o ser humano e contra o bem dos povos latino-americanos.
Os caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos de vida eterna, são aqueles abertos pela fé que conduzem à “plenitude de vida que Cristo nos trouxe: com esta vida divina, também se desenvolve em plenitude a existência humana, em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural”. Essa é a vida que Deus nos participa por seu amor gratuito, porque “é o amor que dá a vida”.
Estes caminhos frutificam nos dons de verdade e de amor que nos foram dados em Cristo, na comunhão dos discípulos e missionários do Senhor, para que América Latina e Caribe sejam efetivamente um continente no qual a fé, a esperança e o amor renovem a vida das pessoas e transformem as culturas dos povos. (n.13)
Além da leitura do trecho, o arcebispo enfatizou ainda que se cada bispo, cada membro da Igreja não procurar o Senhor com perseverança, jamais chegarão à eternidade.
Pautas e Ano Jubilar
Dom Walmor recordou também a importância dessa 59ª Assembleia Geral, que está sendo realizada no ano jubilar dos 70 da CNBB. A entidade, durante todo esse tempo, vive em favor da evangelização na Igreja, no Brasil, sempre à favor da colegialidade episcopal, ressaltou.
O presidente da CNBB apontou qual é a principal pauta desses próximos dias: o caminho evangelizador que a Igreja já está percorrendo, na esperança pascal, com grandes riquezas e corajosos enfrentamentos dos desafios advindos dos tempos atuais e da complexa realidade contemporânea.
A riqueza trazida de cada bispo, partilhando de suas dioceses, de seu povo, trará a cada momento da Assembleia um verdadeiro espírito sinodal, de forma a reavivar o carisma, dom da graça de Deus.
O arcebispo concluiu afirmando que a 59ª Assembleia Geral é um oportuno momento de “mexer nas brasas e retirar as cinzas”, a fim de que mostrem a força do calor do amor e do fogo abrasador na Igreja no Brasil.
Palavra do Núncio
O núncio apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, expressou sua saudação fraterna e as orações do Papa Francisco para os momentos que se seguiam. Ele enfatizou o zeloso compromisso da Igreja em renovar-se nas pequenas e grandes circunstâncias. Frisou que essa renovação deve ser traduzida constantemente em gestos concretos.
“O cenário mundial levanta interrogatórios para curto, médio e longo prazo, cobrando um olhar atento da Igreja no momento presente”, afirmou Dom Giambattista.
Considerando o novo cenário da pandemia, que tem permitido, aos poucos, a volta ao cotidiano civil e eclesial, pediu que a Igreja esteja atenta a esse novo contexto. E exortou ao grande discernimento sob a graça para entender os passos da comunidade eclesial em nível nacional.