Martírio

Diocese de Tete inicia processo de beatificação de dois padres jesuítas

Padre Sílvio Moreira e Padre João de Deus foram mortos em 1985, em Moçambique

Da redação, com Fundação AIS

Bispo de Tete conta sobre a vida e teestemunho dos padres Sílvio Alves Moreira e João de Deus./ Foto: Reprodução AIS

Neste sábado, 20, será iniciado o processo de beatificação e de canonização de dois missionários jesuítas assassinados durante a guerra civil em Moçambique.

Os dois sacerdotes, o português Sílvio Alves Moreira, e o moçambicano João de Deus foram mortos num cenário de muita violência na noite de 30 de outubro de 1985, na localidade de Champutera, Diocese de Tete.

O bispo, D. Diamantino Antunes, contextualiza para a Fundação AIS o incidente que agora vai ser estudado em toda a profundidade por uma equipe nomeada pelo prelado. 

“Tudo aconteceu da seguinte maneira: um grupo de homens armados naquela noite invadiram a casa onde residiam, arrastaram-nos para fora, levaram-nos para um lugar isolado, apertado e, com grande violência, mataram-nos a tiro e também usando armas brancas.”

Para o bispo de Tete, não restam muitas dúvidas de que “a razão pela qual foram mortos tem a ver com a sua ação pastoral” e isso irá agora ser avaliado com base no recolhimento de documentos e testemunhos. Diz ainda o prelado que ambos os sacerdotes jesuítas “eram pastores muito empenhados na defesa dos direitos humanos, da população e do anúncio do Evangelho no contexto muito difícil da revolução moçambicana de caráter marxista-leninista, e também no contexto da guerra civil”.

O fato de o país africano estar mergulhado numa guerra civil que opunha partidários do movimento Renamo e o exército, ajuda a qualificar o ataque aos dois missionários “Eles foram de fato homens de paz, de justiça e através das sua ação, da sua palavra, denunciavam os males da guerra e por isso pagaram o preço da sua ousadia e da sua coragem. Foram mortos de modo violento por razões que têm a ver com o seu agir pastoral. Há razões de fé, há razões também de justiça e de defesa da noção da paz”, explica D. Diamantino Antunes.

Para que o processo de beatificação e de canonização tenha início foi também muito importante a fama de martírio que os dois missionários receberam ao longo do tempo junto do povo moçambicano. “De fato, após a sua morte, foi crescendo, ao longo dos anos, a convicção de que são mártires, mártires da fé, mártires da esperança, e mártires da paz, porque optaram por ficar junto do povo num momento bastante difícil, quando lhes tinha sido proposto sair, ir para um lugar mais seguro, mas eles responderam que o pastor, que o bom pastor não abandona as suas ovelhas no perigo”, diz o bispo de Tete à Fundação AIS.

A fama de martírio de que fala D. Diamantino Antunes é particularmente sentida entre a comunidade cristã local. Para eles, mas também para aqueles que já ouviram falar do testemunho dos dois jesuítas, “há a convicção de que são mártires da fé”. “E isso é muito importante para se iniciar um processo”, acrescenta o prelado. 

“Se não houver fama de martírio e de santidade, uma causa de beatificação e de canonização não tem pés para andar. As provas que temos, os testemunhos que estamos a recolher e sobretudo a fama de martírio são a garantia de que é uma causa que terá muitas probabilidades de ter sucesso.”

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