Em Paris para cúpula sobre o tema, presidente da Pontifícia Academia para a Vida comenta os desafios da inteligência artificial
Da Redação, com Vatican News
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Cúpula sobre IA em Paris / Foto: Reprodução Reuters
A humanização da tecnologia no uso da inteligência artificial é o desafio. Consideração do presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Vincenzo Paglia, que está em Paris para a Cúpula Mundial sobre IA que acontece nesta segunda e terça-feira, 10 e 11.
O evento reúne especialistas de várias partes do mundo no campo das novas tecnologias. Copresidido com a Índia, o encontro internacional quer definir as bases da governança global da Inteligência Artificial. Dom Paglia participa como porta-voz da perspectiva ética da Igreja sobre o assunto, em particular da reflexão sobre os limites muitas vezes confusos entre máquinas e seres humanos.
Em entrevista à mídia vaticana, Dom Paglia reconhece que as novas tecnologias, em particular aquelas que regulam a IA, têm feito um progresso gigante em apenas cinco anos. Antes para poucos especialistas, hoje o assunto é de domínio público e se tornou uma preocupação generalizada.
Governar e humanizar a técnica
O bispo enfatiza a necessidade de consciência em relação a esta nova fronteira, assim como aconteceu no passado sobre o tema do clima. “Tivemos que esperar anos para que o mundo se reunisse em Paris, para que os governos se reunissem, para estabelecer algumas regras sobre o clima. Hoje temos a urgência de ampliar a consciência sobre essa nova fronteira que pode transformar até o humano de forma radical”, alerta.
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Dom Paglia defende que a inteligência artificial é uma fronteira que precisa ser governada. “O grande desafio é de fato governar a tecnologia, humanizar a tecnologia, para evitar que a técnica governe o humano, ou seja, que tecnologizemos o humano.”
“Rome Call to IA Ethics”
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Foto: Userba011d64_201 GettyImages
Além do já extenso ensinamento do Papa sobre a Inteligência Artificial, há vários anos a Pontifícia Academia para a Vida vem refletindo sobre esta revolução tecnológica, cujas oportunidades, mas também riscos, são evidentes. Deste interesse, nasceu o “Rome Call to IA Ethics” (Apelo de Roma para a Ética na Inteligência Artificial – em tradução livre), um acordo firmado em Roma em 28 de fevereiro de 2020 sob a égide da Academia para a Vida, Microsoft, IBM, FAO e governo italiano. Em cinco anos, outros signatários aderiram ao texto.
Também o Papa Francisco interveio na ocasião da assinatura, recorda Dom Paglia. A carta foi desacelerada pela pandemia de covid-19, mas não parou, e se tornou um texto assinado por todas as religiões no ano passado em Hiroshima, por 200 universidades latinoamericanas, por outras universidades no mundo e grandes empresas.
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“O Rome Call é um documento promovido pela Santa Sé, mas é de quem o assina, porque quem o assina assume a ‘responsabilidade de…’. O Papa, com sua intervenção no G7 do ano passado em Bari falou do Rome Call como instrumento que pode favorecer, sobretudo para empresas e governos, novas regras e novas perspectivas para que a tecnologia esteja a serviço de todos e, sobretudo, do bem comum”.
Dom Paglia também menciona um novo texto da Santa Sé – a nota Antiqua et Nova – assinado pelos departamentos vaticanos para a Cultura e Educação e para a Doutrina da Fé. O documento divulgado em janeiro passado tem perspectiva educativa, sobretudo na formação dos mais jovens.
“Que a tecnologia esteja a serviço de um desenvolvimento humano que seja digno e igualitário para todos”
Dom Vincenzo Paglia
Cúpula em Paris: o papel da Europa
“Há o famoso ditado que diz que os Estados Unidos criam, a China copia e a Europa faz as regras”, menciona Dom Paglia para dizer do papel da Europa nessa discussão. Ele destaca o desafio imenso que há nisso porque os âmbitos de aplicação são gigantes: guerra, medicina, educação até o campo das grandes indústrias.
“Espero que Paris faça parte dessa grande mobilização porque todos juntos – as diferentes ciências, as diferentes instituições (incluindo a Igreja), as diferentes religiões – podemos caminhar em direção à humanização da tecnologia. Que a tecnologia esteja a serviço de um desenvolvimento humano que seja digno e igualitário para todos; um desequilíbrio tecnológico que afeta as raízes da sociedade pode criar conflitos talvez piores que os nucleares.”, afirma.
A atuação da Índia
Há um ano Dom Paglia esteve na Índia – país que copreside o encontro internacional – para falar sobre Inteligência Artificial; o episcopado indiano foi o primeiro a assinar o apelo de Roma. O bispo conta que percebe nos bispos indianos o sentido de urgência nessa questão.
“A mim impressionou, por exemplo, ver em Seatle um número notável de jovens engenheiros indianos. E a Conferência Episcopal sentiu a urgência de refletir sobre este novo horizonte, porque ele precisa ser compreendido mesmo que isso não seja fácil”.
Viajando por algumas partes da Índia, sobretudo Bangalore, Dom Paglia relata que notou quanta influência a IA teve na vida cotidiana das pessoas. E agora é um tema que está se espalhando por todas as nações e continentes. “A Europa tem uma grande responsabilidade pela sua tradição humanística de ajudar o mundo inteiro — Oriente e Ocidente — a redescobrir a centralidade da pessoa humana, mesmo neste mundo novo e altamente tecnológico.”