Desde quinta-feira passada, bispo da Diocese de Matagalpa, norte da Nicarágua, está impedido por forças policiais de deixar o bispado
Da Redação, com Vatican News
A Conferência Episcopal da Nicarágua expressou sua fraternidade, amizade e comunhão episcopal com o bispo da diocese de Matagalpa (ao norte do país), Dom Rolando José Álvarez Lagos. Desde quinta-feira, 4, o bispo, junto com seis sacerdotes e seis leigos, está impedido de deixar o bispado, que está cercado por forças especiais da polícia.
A Polícia, chefiada por Francisco Díaz, cunhado do presidente Daniel Ortega, acusou “as altas autoridades da Igreja Católica” na província de Matagalpa, “encabeçadas” pelo bispo Álvarez, de aproveitarem-se de sua condição de liderança e de religiosos, para com o uso da mídia e redes sociais, tentar “organizar grupos violentos”.
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Segundo a Polícia, a alta hierarquia estaria “incitando” esses “grupos violentos” a “realizar atos de ódio contra a população, causando, dessa forma, um clima de ansiedade e desordem, alterando a paz e harmonia na comunidade, com o objetivo de desestabilizar o Estado da Nicarágua e atacar as autoridades constitucionais”.
A Polícia disse que “iniciou um processo de investigação, a fim de apurar a responsabilidade criminal das pessoas envolvidas na prática destes atos criminosos, de que foram informados o Ministério Público e o Judiciário”, e que “as pessoas sob investigação, (que não foram mencionadas) permanecerão em casa”.
Abertura à colaboração
Na nota divulgada neste domingo, 7, os bispos expressam “o sentir de nossa Igreja, que, por natureza, anuncia o Evangelho da Paz e está aberta à colaboração com todas as autoridades nacionais e internacionais para cuidar deste bem universal tão grande” (Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, 21 de dezembro de 2012).
A nota diz ainda: “e assim, juntos, construamos aquela Civilização do Amor, da qual sempre nos falou o Papa São João Paulo II”.
Às portas do Congresso Nacional Mariano, a Conferência Episcopal da Nicarágua convida o Santo Povo de Deus a elevar e oferecer orações e Rosários a Nossa Senhora Imaculada Conceição de Maria, padroeira da Nicarágua.
A nota é assinada pelas seguintes autoridades eclesiais: o presidente da Conferência Episcopal e bispo da Diocese de Jinotega, Dom Carlos Enrique Herrera Gutiérrez; o vice-presidente, Cardeal Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo da Arquidiocese de Manágua; o secretário-geral e bispo da Diocese de Granada, Dom Jorge Solórzano Pérez; o ecônomo geral e bispo da Diocese de Juigalpa, Dom Marcial Humberto Guzmán Saballos; o bispo da Diocese de León, Dom Sócrates René Sándigo Jirón; e Dom Isidoro del Carmen Mora Ortega, bispo da Diocese de Siuna.
Solidariedade
Também a Igreja Católica no México expressou, no domingo, sua solidariedade com a Igreja na Nicarágua, pelas intimidações e repressão de que são vítimas, especialmente bispos e sacerdotes.
A Conferência Episcopal da Costa Rica emitiu também uma declaração expressando solidariedade com Dom Rolando Alvarez, assim como “sacerdotes, consagrados e leigos diante da situação difícil que vivem e que se agrava a cada dia”.
Os bispos da Costa Rica pedem aos fiéis “que permaneçam, sob a proteção da Virgem Maria, em constante oração por nossos irmãos da Nicarágua”.
Já a Conferência Episcopal Boliviana (CEB) expressou sua solidariedade e proximidade à Igreja e ao povo nicaraguense, que, nos últimos dias, sofreu ataques das autoridades políticas. A CEB também pede para a Igreja não desistir do esforço de “construir um diálogo capaz de alcançar a unidade e a paz nesta terra nicaraguense”, fazendo orações pela Igreja, pelo povo e pelas autoridades políticas.
As relações entre a Igreja Católica e o governo do presidente da Nicarágua são historicamente tensas. O presidente Ortega qualificou de “terroristas” os bispos nicaraguenses que atuaram como mediadores de um diálogo nacional que buscava uma solução pacífica para a crise que o país vive desde abril de 2018.
Esta crise se acentuou após as polêmicas eleições de novembro passado, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, quarto consecutivo e segundo, juntamente com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais adversários na prisão.