O vice-decano do Colégio Cardinalício presidiu na Basílica de São Pedro as exéquias do idoso cardeal falecido no dia 29 de julho
Da redação, com Vatican News
“Deus teria muitos motivos para não falar mais ao seu povo, mas nunca se resignou!” A exclamação é de um mestre do espírito, um homem imbuído da sabedoria da Bíblia, sondada e literalmente “ruminada” por décadas para ser restituída na sua densidade.
A recordar a exclamação do cardeal Albert Vanhoye, falecido em 29 de julho, foi o cardeal Leonardo Sandri, que presidiu a Missa com o rito das Exéquias no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro, na manhã deste sábado, 31 de julho.
No fogo das Escrituras
Noventa e oito anos de vida e sessenta e sete do sacerdócio. Os números dão uma medida do homem “rigoroso e determinado” que aos dezoito anos atravessou “a pé a França então ocupada pelos nazistas, para entrar na Companhia de Jesus”. Logo ao iniciar sua homilia, o cardeal Sandri recordou deste episódio, sinal eloquente da fibra do futuro exegeta francês, tão apreciado por Bento XVI.
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A estrela-guia de sua vocação e de seu ministério sacerdotal foi a Sagrada Escritura e, em particular, o texto da Carta aos Hebreus, da qual era um exímio estudioso. “Ele nunca o tratou como um árido texto a ser dissecado e fragmentado, mas sempre foi capaz de captar a referência a Cristo por trás das estruturas e composição das passagens e pedia a graça para que fosse a experiência também de cada um de nós, atraídos não por uma glória distante, mas por aquela que nos introduz na comunhão com Deus”.
O escriba fiel
O cardeal Sandri usou palavras para expressar a “total dedicação” demonstrada pelo purpurado francês durante os anos da dignidade cardinalícia a que foi chamado pelo Papa emérito em 2006. Padre Albert se distinguiu por seu “sentir cum Ecclesia” e “ensinou-nos a retomar a linguagem sacerdotal em referência a Cristo”, alertando-nos contra um esvaziamento de aparências rituais e fazendo-nos apreender a radical novidade do sacerdócio do Novo Testamento”.
“A existência do biblista e cardeal Vanhoye — continuou o cardeal Sandri — pode ser comparada à do escriba que se tornou discípulo do Reino, capaz de extrair coisas antigas e novas de seu tesouro”, como por ocasião do Exercícios Espirituais pregados na Cúria em 2008.
As lições que permanecem
Naquela ocasião, recordou o cardeal celebrante, “fomos levados pela mão por um irmão de fé totalmente arrebatado pela Palavra que anunciava” e “quase antecipando” aquele Jubileu da Misericórdia que o Papa Francisco proclamaria alguns anos mais tarde, o cardeal Vanhoye nos deixou — destacou o cardeal Sandri — um ensinamento sobre a misericórdia, “o traço distintivo de Cristo”: não o “sentimento superficial de quem se comove facilmente”, mas a “capacidade adquirida pela experiência pessoal do sofrimento. É preciso passar pelas mesmas provações, pelos mesmos sofrimentos daqueles que se quer ajudar”. E “Cristo sabe se compadecer, porque foi provado em tudo como nós”.