Igreja na Alemanha

Cardeal Reinhard Marx publica carta de renúncia enviada ao Papa

Cardeal Marx quer deixar a liderança da arquidiocese de Munique e Frisinga por causa do escândalo de abuso de menores na Alemanha

Da Redação, com Vatican News

o cardeal reinhard marx

Cardeal Reinhard Marx / Foto: REUTERS/Michele Tantussi/File Photo

O Cardeal Reinhard Marx enviou uma carta ao Papa Francisco apresentando sua renúncia como arcebispo de Munique e Frisinga. A informação foi publicada no site da arquidiocese alemã nesta sexta-feira, 4, com autorização do Papa, segundo o comunicado. 

“O Papa Francisco informou ao cardeal Marx que esta carta agora poderia ser publicada e que o purpurado continuaria seu serviço episcopal até que uma decisão fosse tomada”, informa o comunicado da arquidiocese.

Com base nas investigações e relatórios dos últimos dez anos sobre a crise de abuso de menores na Alemanha, o cardeal menciona na carta “falha pessoal e erros administrativos”. Mas também fala de “falha institucional ou sistêmica”.

Segundo o cardeal, a crise que a Igreja alemã está atravessando é causada também por “fracasso pessoal”. “Parece-me – está é a minha impressão – que chegamos a um ‘beco sem saída’ que, porém, pode se tornar também um ponto de virada segundo minha esperança pascal”, ressalta.

Corresponsabilidade na crise do abuso

O cardeal explica que tomou a decisão de renunciar há cerca de um ano. “Nos últimos meses, eu refleti várias vezes sobre a renúncia, questionei-me e, na oração, procurei encontrar no diálogo espiritual, através do ‘discernimento espiritual’, a decisão certa a ser tomada”.

“Basicamente, para mim, trata-se de assumir a corresponsabilidade pela catástrofe dos abusos sexuais perpetrados pelos representantes da Igreja nas últimas décadas”.

Nos últimos meses, o próprio cardeal recorreu ao escritório Westpfahl Spilker Wastl, o mesmo escritório encarregado pela primeira investigação de casos de pedofilia na arquidiocese de Colônia. Ele foi redigir um relatório sobre os abusos na igreja de Munique e Fresinga, garantindo que ele não queria intervir para não influenciar os resultados finais.

No ano passado, o cardeal criou em sua diocese a fundação de utilidade pública “Spes et Salus”, encarregada de oferecer “cura e reconciliação” a todas as vítimas de violência sexual. O purpurado decidiu doar a maior parte de seu patrimônio privado à Fundação.

O cardeal também analisa, na carta, as mais recentes polêmicas e discussões. Em sua opinião, mostram que “alguns na Igreja não querem aceitar este aspecto da corresponsabilidade e com ele a concomitância da culpa da instituição”. Consequentemente, “assumem uma atitude hostil em relação a qualquer diálogo de reforma e renovação em relação à crise do abuso sexual”.

Uma reforma da Igreja

Segundo o purpurado, “há dois elementos que não se podem perder de vista: os erros imputáveis às pessoas e as falhas institucionais que apresentam à Igreja o desafio de mudança e reforma”.

Uma “virada” para sair da crise poderia ser, segundo o arcebispo, “apenas a do ‘caminho sinodal’, um caminho que realmente permite o ‘discernimento dos ânimos’”.

O purpurado recorda seus 42 anos como sacerdote e 25 como bispo, vinte dos quais ordinário de uma grande diocese. Justamente à luz de sua longa experiência, diz sentir dolorosamente o “quanto caiu a estima pelos bispos no meio eclesiástico e secular. De fato, provavelmente atingiu seu ponto mais baixo”.

Segundo o seu ponto de vista, “não basta responsabilizar-se e reagir apenas quando, com base em documentação diversa, é possível identificar os responsáveis com os seus erros e omissões, mas é necessário esclarecer que nós, como bispos, também assumamos a responsabilidade pela Igreja como um todo”.

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