O Secretário de Estado do Vaticano apresentou “Contra a Guerra: A Coragem de Construir a Paz”, uma antologia do Papa Francisco de discursos e apelos do Sato Padre contra a guerra
Da redação, com Vatican News
“Há necessidade, hoje, de uma nova Conferência de Helsinque”, disse o Cardeal Pietro Parolin, lembrando o evento de 1975 que marcou um passo fundamental para conter a Guerra Fria. Seria uma forma, explicou, de acabar com o horror do atual conflito na Ucrânia, um verdadeiro “sacrilégio” que continua sendo perpetrado.
As palavras do secretário de Estado do Vaticano vieram quando o cardeal apresentou o volume “Contra a guerra: a coragem de construir a paz”, uma antologia de discursos e apelos do Papa Francisco contra a guerra e a favor do desarmamento e do diálogo. Romano Prodi, ex-primeiro-ministro italiano, também foi palestrante na apresentação do livro na Universidade Lumsa de Roma na manhã desta sexta-feira, 29.
Tragédia na Ucrânia
Enquanto Parolin sobre o livro do Santo Padre, no qual enfatiza sua posição de “não à guerra”, expressado desde o início do seu pontificado e ainda mais desde o dia 24 de fevereiro.
Parolin destacou a necessidade de uma “mentalidade de paz” para se opor ao “padrão de guerra”. “Diante da tragédia que vemos acontecer na Ucrânia, diante dos milhares de mortos, civis mortos, cidades destruídas e milhões de refugiados – mulheres, idosos e crianças — forçados a deixar suas casas, não podemos reagir conforme o que o Papa chama de padrão de guerra”.
O ‘espírito’ de Aldo Moro
Em seu discurso, repleto de citações do Catecismo e da Constituição italiana, além do legado de personalidades católicas italianas como Giorgio La Pira e Don Milani, o cardeal pediu que se recuperasse um “espírito”: o de Aldo Moro, então primeiro-ministro italiano que liderou 35 estados, há 47 anos, a assinar os Acordos de Helsinque na capital finlandesa para ir “além da lógica dos blocos opostos”.
“Durante essa Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa, Oriente e Ocidente se uniram no caminho da détente”, disse ele, lembrando o “papel desempenhado então pela Santa Sé e pela delegação chefiada pelo futuro Cardeal Agostino Casaroli”.
Mantendo a memória desse evento histórico, o Cardeal continuou: “A paz é do interesse dos povos, a segurança internacional é do interesse de todos”.
Armas: uma resposta fraca
“Limitar-nos às armas representa uma resposta fraca. Sim, as armas são uma resposta fraca, não uma resposta forte!”, disse o Cardeal Secretário de Estado. “Uma resposta forte é uma resposta que empreende — tentando envolver a todos — iniciativas de acordo com o padrão de paz, ou seja, iniciativas para fazer cessar a luta, chegar a uma solução negociada, pensar qual será o futuro possível da convivência em nosso Velho Continente”.
Mais deve ser feito pela paz
O cardeal Parolin também se dirigiu à comunidade internacional, dizendo que “tem a obrigação de não continuar a guerra, mas de implementar todas as iniciativas políticas e diplomáticas possíveis para alcançar um cessar-fogo e uma paz justa”.
Ele disse que a paz deve ser justa e, acima de tudo, “duradouro” e “não pode ser confiada apenas às deliberações do agressor e do agredido”.
“Temos o dever de fazer mais pela paz”.
Nova Declaração de Helsinque
O Cardeal Secretário de Estado apelou ao diálogo para criar um novo equilíbrio de paz e segurança.
“Hoje precisamos de uma nova Conferência de Helsinque”, afirmou. Esta é uma proposta feita há três dias pelo presidente italiano, Sergio Mattarella, perante a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. É uma proposta que vai ao encontro do desejo do Papa de superar aquele espírito “cainista” que nos impede de trabalharmos juntos, como irmãos.
Apelos do Papa Francisco
Detendo-se nos reiterados apelos do Papa, o cardeal advertiu contra o risco de considerá-los “como algo devido”, de tomá-los como certos.
Isso, disse ele, seria “uma maneira desencantada de ver o magistério do Papa” e cavaria “um abismo cada vez maior, entre suas palavras e a realidade dos fatos”, e significaria perder de vista o fato de que a mensagem de paz e não-violência do Papa reside no Evangelho, onde o Cristo crucificado “enfrentou a morte injusta sem reagir”.