Por ocasião do Domingo do Mar, cardeal agradece pelo trabalho daqueles que chama de “invisíveis”, marinheiros submetidos a duras condições de trabalho
Da Redação, com Vatican News
Neste segundo domingo de julho, 10, as comunidades cristãs celebram o Domingo do Mar. O prefeito do órgão vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny, emitiu mensagem em que recorda o trabalho essencial de mais de um milhão de marinheiros, que todos os dias transportam mercadorias em todo o mundo. O cardeal lança um apelo para que se melhorem as suas condições e acabem as formas de discriminação.
Czerny considera esses trabalhadores “invisíveis”, porque, embora “movimentem a economia mundial”, afetando diretamente o cotidiano de cada um de nós, enfrentam desafios para os quais não têm descanso e tratamento adequados. “Com a guerra na Ucrânia, os navios agora enfrentam a difícil tarefa de navegar por minas nos mares Negro e Azov. Muitos navios afundaram e muitas vidas humanas foram perdidas durante esta guerra injusta e imoral”, escreve.
Ele também se refere à pandemia que causou o bloqueio a bordo de mais de 400.000 marítimos, impossibilitados de deixar o navio ao final do contrato. “Eles continuaram trabalhando dia após dia, somando fadiga à fadiga”, observa. As tripulações que deveriam substituí-los, explica o cardeal, não conseguiram chegar aos navios, o que para alguns significou um desastre econômico, porque não conseguiram cuidar das necessidades diárias de seus entes queridos. “De qualquer forma, os marítimos não têm escolha”, afirmou Czerny.
Ganhos exorbitantes para as empresas, exploração dos trabalhadores
O cardeal observa que algumas companhias de navegação foram as únicas a lucrar economicamente com as crises que perturbaram a cadeia global de suprimentos. “É lamentável, para dizer o mínimo, que as empresas tenham compartilhado com os marinheiros apenas uma pequena fração dos ganhos exorbitantes de que usufruíram, ou os tenham gasto na melhoria das estruturas de bem-estar nos portos que podem desfrutar curto tempo em terra. As empresas recebem os ganhos, enquanto os marinheiros e suas famílias pagam o preço”.
Czerny diz que a duração forçada dos contratos causa um esgotamento físico e psicológico que pode levar ao erro humano com consequências perigosas, um aspecto subestimado. O apelo é, portanto, para não ignorar os marinheiros “porque dependemos deles” e também das suas condições de saúde mental, que devem ser asseguradas criando as condições adequadas de trabalho.
Discriminação injusta e imoral. A pandemia não pode ser desculpa
Czerny, neste ponto, lembra a Convenção do Trabalho Marítimo de 2006. O estabelecido exige que as empresas de navegação forneçam moradia decente e limpa, alimentos nutritivos, um ambiente de trabalho seguro, horas de trabalho adequadas e licença para desembarcar.
“A capacidade de deixar o navio e desembarcar, mesmo que por pouco tempo, é essencial para o bem-estar dos marinheiros.” Com o afrouxamento das restrições anti-Covid, a maioria das pessoas pode novamente se mover livremente. Mas não os marinheiros. “Esta é uma grave injustiça”, escreve Czerny, explicando que vários governos e companhias de navegação ainda se recusam a permitir o desembarque dos marinheiros com o insulto de que alguns deles podem desembarcar se tiverem a “cidadania certa”.
“Esta discriminação é tão injusta quanto imoral”, salienta o cardeal. “Todos devemos lembrar que a dignidade inata dos marítimos como seres humanos deve ser respeitada. Onde quer que estejam no mundo, devem ser tratados com igualdade, sem discriminação.” E acrescenta: “A pandemia não deve mais ser usada como desculpa para proibir a tripulação de desembarcar”.