Enquanto o Haiti continua a enfrentar uma crise política, econômica e social, os bispos do país enviaram uma mensagem em que clamam que as gangues cessem imediatamente a violência
Da redação, com Vatican News
Em uma mensagem de Natal encerrando sua recente assembleia geral, a Conferência dos Bispos Católicos do Haiti (CEH) voltou a exortar as gangues criminosas a pararem com sua “loucura assassina de ódio e de desprezo pela vida”, enquanto exortou as autoridades civis locais a restaurar o Estado de Direito para garantir um futuro melhor para as novas gerações.
Uma crise multicamada
Esta não é a primeira vez que os bispos haitianos denunciaram a turbulência política, econômica, social e humanitária na nação insular que continua a alimentar o crime de gangues.
O Haiti, uma das nações mais pobres do mundo, há anos enfrenta uma economia em queda livre, instabilidade política e insegurança crescente.
Leia mais
.: Haiti: Papa condena violência como meio de resolver crises e conflitos
A situação piorou desde o assassinato do presidente Jovenel Moise, em 7 de julho de 2021, e do novo terremoto devastador que se seguiu em agosto daquele ano.
Desde então, assassinatos relacionados a gangues, guerras territoriais, extorsões e sequestros aumentaram ainda mais, também visando a Igreja Católica, uma instituição que há muito é um pilar da sociedade haitiana, com vários religiosos sequestrados para resgate.
Nos últimos meses, o país também assistiu a um ressurgimento da cólera, resultante do acesso limitado a cuidados de saúde e serviços essenciais, incluindo água, alimentos, saneamento e serviços de abastecimento.
Necessidade de investir em paz e segurança
Em sua mensagem, os bispos haitianos pedem urgentemente às gangues que abandonem “a lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. Em vez de uma guerra fratricida”, dizem eles, “devemos investir na paz e no amor, na reorganização de nossas infraestruturas, sistemas de saúde e educação, bem como na mudança de nossas mentalidades”.
A mensagem destaca ainda a necessidade de reconstruir as instituições civis, especialmente o sistema judicial, “para travar a cultura da impunidade que é a causa lógica da perpetuação da corrupção e da violência no país, de forma a garantir um futuro melhor para as gerações vindouras.”
Os bispos apontam ainda a necessidade urgente de prestar um apoio eficaz à Polícia Nacional para ajudar a combater o flagelo da criminalidade e criar um clima propício à normalização das condições de vida no país.
“O restabelecimento de um clima de segurança no país continua a ser uma das condições necessárias para a retoma das atividades econômicas, culturais e sociais e para a organização de eleições democráticas e transparentes.”
Migração forçada de haitianos
Eles ainda chamam a atenção para o fato de que a “situação insuportável” que o país vive está forçando um número crescente de haitianos a buscar refúgio em outros países onde, observam, “nem sempre são bem-vindos”.
Isso inclui a vizinha República Dominicana, onde imigrantes haitianos ilegais são frequentemente deportados impiedosamente para o Haiti pelas forças policiais locais, ou são explorados em plantações de cana-de-açúcar e forçados a viver em condições desumanas que violam seus direitos humanos básicos.
Os bispos haitianos estão atualmente discutindo o assunto com seus homólogos dominicanos. Na mensagem, eles incentivam as autoridades de ambos os países a fazerem um “gesto de apaziguamento” para amenizar as atuais tensões em suas relações migratórias.
Esperanças para o ano novo
Com a aproximação do Natal, os bispos convidam todos os haitianos a praticar “os valores do respeito mútuo, da justiça, da concórdia, da fraternidade e da solidariedade” que podem ajudar a construir “o novo Haiti pelo qual todos anseiam”.
Concluindo, os bispos do Haiti expressam a esperança de que o Natal e o Ano Novo tragam justiça, paz e respeito à vida no país.