Oração para abril

Bispo: “para o cristão, lutar pela igualdade não é optativo, é um imperativo”

Arcebispo de Porto Velho (RO) e padre da Diocese de Lorena (SP) comentam oração do Papa para este mês de abril

Julia Beck
Da redação

Foto: truthseeker08 por Pixabay

“Para o cristão, lutar pela igualdade não é optativo, é um imperativo.” É o que afirma o arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi. O prelado comenta a intenção de oração do Papa Francisco para o mês de abril: a necessidade de direitos humanos para todos.

Neste mês, o Pontífice pede aos católicos que rezem por quem arrisca a própria vida lutando para garantir igualdade para todos. Estes corajosos, opina o bispo, procuram sinal da ternura de Deus Pai para os mais pobres.

Padre Flávio José /Foto: Arquivo Pessoal – Padre Flávio

“Defender os direitos humanos é acreditar em uma sociedade justa para todos.” A declaração é do membro do clero da Diocese de Lorena, padre Flávio José Lima.

Para o presbítero, é preciso que todos ajudem a construir a utopia da civilização do amor.

Dignidade humana

Dom Roque explica qual a visão da Igreja sobre o ser humano. “Criado por Deus a sua imagem e resgatado pelo sangue de Jesus Cristo” (Sollicitudo Rei Socialis, n. 29), frisa. De acordo com o prelado, este é o fundamento da dignidade humana.

Toda a tradição cristã, esclarece o arcebispo, baseia-se na afirmação de que todo ser humano tem, desde o seio materno, uma dignidade imutável.

Visão integral

“Nessa mesma linha, a Doutrina Social da Igreja propõe, principalmente a partir do Vaticano II, uma visão integral da pessoa humana a partir dos princípios da solidariedade, subsidiariedade e do bem comum”, comenta.

Isto significa defender com convicção que a pessoa possui um valor transcendente. Este valor não é subordinado a um estado absolutista ou a qualquer outro fim, revela Dom Roque.

O Catecismo da Igreja Católica dirá sobre a dignidade da pessoa humana: “implica na busca do bem comum” (CIC, 1926). Segundo o bispo, “todos têm a mesma natureza e a mesma origem. Todos gozam, portanto, de igual dignidade”.

Discriminação deve ser eliminada

O arcebispo de Porto Velho reafirma sobre toda a espécie de discriminação relativa aos direitos fundamentais: deve ser “ultrapassada e eliminada como contrária ao desígnio de Deus” (CIC 1934-1935).

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Desigualdade

Padre Flávio reforça que, infelizmente, a humanidade não vive uma consciência total da partilha e do bem comum.

“A desigualdade gera fome, mortes, diferenças, conflitos sociais. Ela é um mal que precisa ser superado e vencido. Não é para que todos tenham a mesma coisa, mas para que se tenha uma divisão justa e igualitária”, explica.

“A desigualdade gera fome, mortes, diferenças, conflitos sociais. Ela é um mal que precisa ser superado e vencido. Não é para que todos tenham a mesma coisa, mas para que se tenha uma divisão justa e igualitária” – Padre Flávio José

Para o sacerdote, a desigualdade gera divisão, barreira e muros. “Devemos ser unidos e fraternos”.

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Dom Roque alerta para o fato de a sociedade assistir, todos os dias, às notícias gravíssimas. Informações sobre atentados contra os direitos fundamentais dos seres humanos. “É impossível que ela fique imune a tudo isso”, garante.

Luta por igualdade

“A luta pela igualdade para a Igreja é questão de fidelidade ao Evangelho”, aponta Dom Roque. O prelado destaca que toda forma de desigualdade econômica e social provocam escândalos. Estas desigualdades são também obstáculos à justiça social. Barreiras à equidade e à dignidade da pessoa humana. Elas ferem diretamente a Deus.

“Por isso, a busca por igualdade exige esforços de toda a Igreja e sociedade para reduzir as desigualdades sociais e econômicas”, ressalta.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Para Dom Roque, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi fundamental, Ela estabelece os direitos essenciais à liberdade e à igualdade.

“A luta pela igualdade para a Igreja é questão de fidelidade ao Evangelho” – Dom Roque Paloschi

O documento surgiu no contexto da Segunda Guerra Mundial. Ele é importante para a sociedade, prossegue o prelado, pois influencia políticas de combate ao que fere esses direitos.

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A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada na assembleia da ONU no dia 10 de dezembro de 1948.

Dom Roque Paloschi /Foto: Arquidiocese de Porto Velho

“São mais de 70 anos. No entanto, recorda-nos Francisco, ainda hoje acontecem muitas violações. Para o Papa e, consequentemente, para toda a Igreja Católica, é dever trazer à memória dos homens de boa vontade esses direitos”, afirma.

Igreja: defensora e propagadora dos direitos humanos

A Igreja defende e propaga os direitos humanos, revela o arcebispo de Porto Velho. Segundo o bispo, há a convicção de que o próprio Criador lhe confiou a defesa e promoção da dignidade transcendente da pessoa humana.

 “Também tem consciência de que a justiça social só pode ser alcançada por meio do reconhecimento e respeito a esta dignidade”, frisa.

Segundo Padre Flávio, a Igreja observa os passos de Jesus em sua vida pastoral e missionária. O sacerdote sublinha que Ele buscou por justiça e igualdade. Desse modo, a Igreja também buscará sempre o que é justo para todos.

História

Na história da Igreja, Dom Roque recorda situações e documentos que confirmam a posição favorável da instituição em favor dos direitos humanos.

O bispo cita, na época da colonização das Américas, Bartolomeu de Las Casas. Ele defendeu os direitos dos indígenas. Francisco de Vitória também é lembrado. Ele é considerado o “pai” das Declarações dos direitos do homem. Francisco de Vitória elaborou um conjunto de princípios para colocar fim às discriminações contra os povos indígenas.

O Papa Gregório XVI também é comentado. Segundo Dom Roque, foi ele quem promulgou a Bula In Supremo Apostolatus (1839) condenando a escravidão dos negros.

Foi Pio XII, continua o arcebispo, que através de uma mensagem radiofônica de natal foi o primeiro a elaborar uma lista de direitos humanos. Papa João XIII lançou sua encíclica Pacem in Terris. O documento faz uma menção positiva a este documento.

Papa São João XXIII, na Mater et Magistra evidencia o fato de que a sociedade se tornou cada vez mais complexa. Esta complexidade, segundo o Pontífice, coloca em questão a transcendência das pessoas. Ela também ameaça subordiná-las à dinâmica das organizações sociais.

“Nesse contexto, a resposta às reivindicações da dignidade humana está claramente ligada à proteção do bem comum de todas as pessoas. Isso sem falar nos documentos dos pontificados do Papa São João Paulo II, Bento VI e, atualmente, Francisco”, sublinha Dom Roque.

Fratelli Tutti

Na Fratelli Tutti, o prelado afirma que o Papa alerta para os sinais de regressão com o reacender de conflitos anacrônicos que se consideravam superados e o surgimento de nacionalismos fechados, ressentidos e violentos.

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“São muitos documentos que poderíamos citar, mas, ressalto aqui, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja que, em 2004 o Pontifício Conselho “Justiça e Paz” publicou, por encargo de João Paulo II. Este documento reúne de modo sintético e completo o ensinamento social da Igreja Católica”.

Exortação da Igreja

O pessimismo estéril de que não há nada a fazer, o silêncio diante das injustiças e a inércia se tornam pecado de omissão, alerta o bispo.

“A Igreja convoca todas e todos os cristãos e toda a sociedade a assumir essa causa porque acredita que o princípio da solidariedade, também enunciado sob o nome de amizade social, como nos fala Papa Francisco na Fratelli Tutti, é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã, e dela depende, em parte, a paz do mundo”, conclui.

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