Em junho, conta de luz passa para a bandeira vermelha 2; com a alta, economista reafirma necessidade de gestão financeira e hábito de poupar
Julia Beck
Da redação
Além do cenário de alta no preço da gasolina, o brasileiro terá uma alta na conta de luz, que nesse mês de junho passa para a bandeira tarifária vermelha no patamar 2, o maior entre as faixas tarifárias. Diante do cenário de alta, o economista Humberto Felipe reforça a necessidade de uma administração consciente do dinheiro, com ênfase no hábito de poupar.
Segundo o economista, a gestão financeira é importante e acaba impactando a economia como um todo, uma vez que a economia de um país é o conjunto da economia de cada pessoa. E ele destaca que o planejamento é algo relativamente simples de se fazer. “É fazer contas de adição, subtração, usar um papel ou aplicativo e colocar o que ganha e o que gasta. Não tem outra forma”, afirmou Felipe.
Para o controle de gastos, o economista recomenda que 30% da renda familiar seja dedicada para os gastos com moradia, 20% com alimentação, 20% com educação e o restante com a poupança e demais prioridades.
Mesmo com a recomendação, Felipe ressalta que as porcentagens de controle de gastos podem variar. “Cada família tem uma característica diferente, um tamanho diferente e também uma renda diferente”.
Sobre o aumento da conta de luz, o economista dá dicas de como poupar gastos maiores. “Aquelas dicas clássicas que são: apagar as luzes — porque muitas vezes temos o hábito de não apagar a luz —, trocar as lâmpadas por lâmpadas mais econômicas, ter cuidado com o ferro de passar roupa — é um eletrodoméstico que tem um consumo muito alto —, e sobre o chuveiro elétrico, tomar banhos menos quentes — é até bom para a saúde”.
A importância de poupar
Segundo o especialista, guardar dinheiro é uma das maiores dificuldades encontradas pelos brasileiros ao administrarem a renda mensal. Douglas Teixeira, auxiliar de estoque de 26 anos, se identifica com a realidade e reconhece a falta de hábito de poupar suas finanças. “A minha dificuldade para estabelecer esse hábito eu acho que está no meu gosto por gastar e a minha falta de habilidade ao lidar com dinheiro. Quando recebo meu salário geralmente eu pago as minhas contas e já faço novas contas”, comentou.
Os reflexos negativos da falta deste hábito surge, de acordo com Douglas, sempre diante de uma necessidade, como uma doença, um novo projeto ou até mesmo em um momento de instabilidade econômica, como a vivida atualmente no país. “Eu acho que poupar dinheiro é fundamental principalmente neste período que estamos vivendo de grande inflação. Os produtos sobem de preço diariamente, o etanol, a gasolina e o diesel tem sofrido grandes variações, então poupar dinheiro para ter uma instabilidade financeira é muito importante”, reconhece.
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“A questão de poupar é que nós não sabemos o que vai acontecer amanhã”, foi o alerta do economista que Taynara Villela, estudante de Direito de 21 anos, sentiu na pele ao precisar auxiliar a avó em um momento de enfermidade. Segundo a jovem, que não tinha o hábito de guardar parte de suas economias, não só nos momentos de necessidade foi possível ver pontos positivos da iniciativa, como também no cotidiano. “Hoje não tenho mais contas, não preciso mais ficar preocupada como será no próximo mês”, contou.
A ideia de começar a guardar dinheiro surgiu, segundo a estudante, após uma mudança de emprego. “Saí do meu emprego e comecei a fazer estágio. Foi quando me vi em uma situação que precisava diminuir os gastos, já que ia ganhar menos. Não ia poder sair gastando e comprando tudo”, relembra. Para Taynara, que chegou a ter altos gastos mensais, ter metas a motiva a poupar. “O que me motivou a guardar foi porque eu queria muito comprar um celular, então foi uma meta, e percebi que isso me incentiva a guardar”, refletiu a estudante, que afirmou que a próxima iniciativa será abir uma conta poupança para administrar melhor seu dinheiro.
Consciente dos seus gastos, Fátima Oliveira, aposentada de 61 anos, conta que desde muito nova já poupava todo mês um valor, ainda que pequeno, de seu orçamento. A iniciativa rendeu a Fátima a oportunidade de pagar seus estudos sem dívidas. O hábito positivo é posto em prática até os dias atuais e recebe o total apoio do marido, que incentiva o controle dos gastos. “Quando me casei, colocava em um caderno todas as despesas e até hoje só gasto dentro do que posso”, relata a aposentada.
Taynara conta que guardar pela primeira vez foi o mais difícil, mas depois se tornou algo natural, embora exija persistência. “Neste momento difícil que estamos enfrentando no nosso país, devemos ser coerentes e não consumistas compulsivos. Quem nunca poupou deve criar este hábito e tomar gosto pelo poupar, nem que seja uma porcentagem pequena do salário”, aconselha.
Por fim, o economista ressalta: “A reserva não é para ficar rico, a reserva é um colchão para amortecer situações difíceis”.