Os 13 relatórios indicam, em sua maioria, a manutenção da “atual disciplina” da Igreja e convidam os católicos em segunda união a “abster-se” da comunhão
Da redação, com Agência Ecclesia
O acesso à comunhão aos casais que estão em segunda união é um dos temas que divide os últimos 13 relatórios dos grupos de trabalho do Sínodo dos Bispos sobre a família, que decorre no Vaticano.
Os textos em cinco línguas, divulgados nesta quarta-feira, 21, pela sala de imprensa da Santa Sé, têm várias referências favoráveis à manutenção da “atual disciplina” e convidam os católicos em segunda união a abster-se da comunhão.
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O tema, no entanto, não gerou unanimidade, falando-se mesmo em “perigo de confusão”, e alguns participantes sugerem ao Papa que crie uma “comissão” – um gesto que poderia estar associado ao Jubileu da Misericórdia – para estudar “com maior precisão teológica” uma questão para a qual, alertam outros, não se procuram soluções “universais”.
Sem qualquer pedido de mudança imediata, um dos grupos contesta as “formas de exclusão litúrgica, educativa e pastoral”, que ainda existem em relação aos divorciados. Em várias passagens é referida a necessidade de promover percursos de discernimento, no foro íntimo, sobre cada situação.
Um dos relatórios fala do “pouco entusiasmo” com que foi recebida a proposta da “via penitencial” para os recasados e afirma-se que, em defesa da indissolubilidade do casamento, a referência nesse campo continuam a ser as formas de participação enunciadas pelo Papa São João Paulo II na exortação ‘Familiaris Consortio’ (n.º 84), que exclui o acesso à comunhão.
O primeiro dos dois grupos com membros de língua castelhana e portuguesa, por sua vez, defende que é preciso ouvir as “tantas pessoas que sofrem e gritam, pedindo para participar o mais plenamente possível na vida da Igreja”.
De acordo com o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, mais de 500 propostas foram entregues à comissão responsável pela elaboração do relatório final.
O encontro com os jornalistas contou com a presença do cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique (Alemanha), que valorizou o trabalho realizado no grupo germânico, com a presença de responsáveis como os cardeais Muller, Kasper, Koch ou Schonborn.
O responsável admitiu o desconforto do grupo perante as críticas de quem falava num confronto entre ‘kasperianos’ e ‘ratzingerianos’. “No Sínodo, não estamos numa batalha”, sustentou.
Para o arcebispo de Munique, a maior parte das pessoas concorda com que é proposto pela Doutrina da Igreja sobre a família e o casamento e não compete aos bispos “dizer que este sonho não é possível”.
“O vosso sonho está correto, mas, quando falham, ficamos convosco, estamos juntos”, acrescentou.
Nesse sentido, defendeu que acompanhar quem falha e dizer-lhe que pertence à Igreja não é destruir a indissolubilidade nem o desejo de casar”, mas “o contrário”.
O cardeal Sturla Berhouet, arcebispo de Montevideu (Uruguai), disse por sua vez que há necessidade de “acompanhar” as situações que não são as desejáveis, “muitas vezes carregadas de dor”.
Já o arcebispo de Armagh (Irlanda), D. Eamon Martin, disse que o Sínodo tem sido uma experiência de “abrir um espaço, às vezes pouco confortável”, para aprofundar o “entendimento do ensinamento da Igreja” sobre a família.
Os relatórios dos grupos de trabalho abordaram questões como a nulidade matrimonial, a educação sexual e a ideologia do gênero, a castidade, a paternidade responsável, a crise dos refugiados e a perseguição religiosa.
Os vários textos concordam com a necessidade de aprofundar a preparação para o casamento e o acompanhamento da vida conjugal, a começar pela catequese e a pastoral juvenil, continuando nos primeiros anos de matrimônio.
A questão da homossexualidade teve pouca atenção, com sugestões de que fosse realçado o ensinamento da Igreja de que “as uniões do mesmo sexo não são de forma alguma equivalentes ao casamento”.