Em encontro com autoridades, corpo diplomático e sociedade civil da Turquia, Papa Leão XIV destaca papel essencial do país no presente e no futuro do Mediterrâneo e do mundo inteiro
Da redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: REUTERS/Yara Nardi
O Papa Leão XIV encontrou-se com as autoridades, o corpo diplomático e representantes da sociedade civil da Turquia, nesta quinta-feira, 27, durante a primeira viagem apostólica de seu Pontificado. O Pontífice chegou nesta manhã à Istambul, dando início a uma viagem cinco dias à Turquia e ao Líbano, por ocasião do aniversário de 1700 anos do Concílio de Niceia.
No encontro, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, foi o primeiro a discursar. Em seguida, o Papa falou aos presentes e destacou sua alegria por iniciar as viagens apostólicas de seu Pontificado visitando este país: “uma vez que esta terra está indissoluvelmente ligada às origens do cristianismo e hoje convida os filhos de Abraão e toda a humanidade a uma fraternidade que reconheça e valorize as diferenças”.
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Leão XIV destacou que a beleza natural da Turquia é um convite ao cuidado com a criação de Deus. Além disso, sua riqueza cultural, artística e espiritual lembra que “as grandes civilizações tomam forma no encontro entre gerações, tradições e ideias diferentes, nas quais o desenvolvimento e a sabedoria se unem”.
“É verdade que o nosso mundo está marcado por séculos de conflitos e que, à nossa volta, ele continua a ser desestabilizado por ambições e decisões que espezinham a justiça e a paz. No entanto, diante dos desafios que nos interpelam, ser um povo com uma grande história representa um dom e uma responsabilidade”, afirmou.
Pontes que unem diferentes almas
Comentando sobre o símbolo escolhido para sua viagem, a ponte que está sobre o Estreito de Dardanelos, o Papa destacou o papel essencial do país no presente e no futuro do Mediterrâneo e do mundo inteiro.
“Antes de unir a Ásia e a Europa, o Oriente e o Ocidente, essa ponte liga a Turquia a si mesma, compõe as suas partes e, assim, torna-a, de algum modo, a partir de dentro, um ponto de encontro de sensibilidades, cuja homogeneização representaria um empobrecimento. Com efeito, uma sociedade só está viva se for plural: são as pontes entre as suas diferentes almas que a tornam uma sociedade civil. Hoje em dia, as comunidades humanas estão cada vez mais polarizadas e dilaceradas por posições extremadas, que as fragmentam”.
E assegurou que também os cristãos, que são e se sentem parte da identidade turca, pretendem contribuir positivamente para unidade do país. Ele recordou que seu predecessor, o Papa Francisco, propôs a “cultura do encontro”, contrapondo à “globalização da indiferença”. E reforçou que a imagem da ponte também ajuda nessa compreensão.
“Ao revelar-se, Deus estabeleceu uma ponte entre o céu e a terra: fê-lo para que o nosso coração mudasse, tornando-se semelhante ao seu. É uma ponte suspensa, grandiosa, que quase desafia as leis da física: assim é o amor, que, além da dimensão íntima e privada, tem também a dimensão visível e pública”, disse.
Trabalhar juntos pela unidade
O Papa destacou ainda que, numa sociedade como a turca, onde a religião desempenha um papel visível, é fundamental honrar a dignidade e a liberdade de todos os filhos de Deus. “Todos somos filhos de Deus e isso tem consequências pessoais, sociais e políticas. Quem tem um coração dócil à vontade de Deus, promoverá sempre o bem comum e o respeito por todos”.
Ele afirmou que, atualmente, esse é um grande desafio, que deve remodelar as políticas locais e as relações internacionais, especialmente diante de uma evolução tecnológica que, caso contrário, poderia acentuar as injustiças, em vez de contribuir para superá-las.
“Na verdade, até mesmo as inteligências artificiais reproduzem as nossas preferências e aceleram os processos que, bem-vistos, não foram iniciados pelas máquinas, mas pela humanidade. Por isso, trabalhemos juntos para modificar a trajetória do desenvolvimento e para reparar os danos já causados à unidade da família humana”.
“Família humana”
O Papa disse que ao referir-se à “família humana” ele utilizou uma metáfora que nos convida a estabelecer uma ligação entre os destinos de todos e a experiência individual.
“Para cada um de nós, a família foi o primeiro núcleo da vida social, onde experimentamos que sem o outro não existe o ‘eu’. Mais do que noutros países, a família mantém uma grande importância na cultura turca e não faltam iniciativas para apoiar a sua centralidade. Na verdade, é no seu interior que amadurecem atitudes essenciais para a convivência civil e uma primeira e fundamental sensibilidade para com o bem comum. É claro que cada família também pode fechar-se em si mesma (…) No entanto, não é a partir de uma cultura individualista, nem do desprezo pelo matrimônio e pela fecundidade, que as pessoas podem obter maiores oportunidades de vida e felicidade. A este engano das economias consumistas, em que a solidão se torna negócio, é bom responder com uma cultura que valoriza os afetos e os laços. Só juntos nos tornamos autenticamente nós mesmos”.
O Pontífice afirmou que, mais do nunca, hoje precisamos de pessoas que promovam o diálogo e o pratiquem com firmeza e paciência.
“A Santa Sé, com a sua única força, que é espiritual e moral, deseja cooperar com todas as Nações que têm como objetivo o desenvolvimento integral de cada homem e de todos os homens e mulheres. Assim, caminhemos juntos na verdade e amizade, confiando humildemente na ajuda de Deus”, concluiu.




