Leão XIV enviou mensagem à 44ª Conferência da FAO na qual denuncia uso da fome como arma de guerra e exorta ações concretas em favor dos necessitados
Da Redação, com Vatican News

Criança recolhe restos de comida distribuída em Gaza, em 27 de junho de 2025 / Foto: Abdalhkem Abu Riash/Anadolu via Reuters Connect
A Santa Sé divulgou, nesta segunda-feira, 30, a mensagem enviada pelo Papa Leão XIV à 44ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, que celebra seu 80º aniversário.
O Pontífice escreve que a Igreja incentiva todas as iniciativas para acabar com o escândalo da fome no mundo, tomando para si o sentimento e a preocupação de Jesus em alimentar a multidão no relato bíblico da multiplicação dos pães (Mt 14,13-21). “O verdadeiro milagre realizado por Cristo foi mostrar que a chave para vencer a fome está mais na partilha do que na acumulação gananciosa”, afirma.
Neste contexto, o Santo Padre alerta que a segurança alimentar mundial segue se deteriorando, o que torna cada vez mais improvável a concretização do objetivo “Fome Zero” da Agenda 2030. Ele lamenta por todas as pessoas que padecem, observando que, apesar da terra ser capaz de produzir alimentos suficientes para todos os seres humanos, muitos pobres ainda carecem de comida.
Leão XIV também denuncia o uso crescente da fome como instrumento de guerra. “Matar de fome a população é uma forma muito barata de fazer guerra”, escreve, acrescentando que “hoje, quando a maioria dos conflitos não é travada por exércitos regulares, mas por grupos de civis armados com poucos recursos, queimar plantações, roubar gado, bloquear a ajuda humanitária são táticas cada vez mais utilizadas por aqueles que pretendem controlar populações inteiras e indefesas”.
Ações concretas
O Papa também critica em sua mensagem a lógica que permite que, enquanto “os civis emagrecem pela miséria, as elites políticas engordam com a corrupção e a impunidade”. Diante disso, faz um apelo contundente: “é hora de o mundo adotar limites claros, reconhecíveis e consensuais para sancionar esses abusos e perseguir seus autores e executores”.
O Pontífice insiste na urgência de abandonar as promessas vazias, afirmando que “adiar uma solução para esse cenário dilacerante não ajudará; ao contrário, as angústias e os sofrimentos dos necessitados continuarão a se acumular. Portanto, é imperativo passar das palavras às ações, encerrando de vez a era dos slogans e das promessas enganadoras”.
Diante disso, o Santo Padre observa que a responsabilidade é intergeracional, ou seja, será necessário prestar contas às futuras gerações, que herdarão uma carga de injustiças e desigualdades se não houver uma mudança de postura.
Crise climática
Ao abordar a estreita relação entre crise climática, sistemas alimentares e desigualdade social, Leão XIV explica que os sistemas alimentares têm grande influência sobre as mudanças climáticas e vice-versa. Assim, destaca que, sem uma ação climática decidida e coordenada, não será possível garantir alimentos para uma população mundial em crescimento.
O Papa, então, propõe um modelo de desenvolvimento que una ecologia integral e justiça social. “Não basta produzir alimentos; também é fundamental garantir que os sistemas alimentares sejam sustentáveis e proporcionem dietas saudáveis e acessíveis para todos”, sinaliza.
O Pontífice também chama a atenção para a contradição ética que permeia o cenário atual, no qual recursos financeiros e tecnologias inovadoras, que deveriam ser destinados à erradicação da pobreza e da fome no mundo, são desviados para a fabricação e o comércio de armas.
Da mesma forma, denuncia a crescente polarização internacional, que, segundo o Santo Padre, “fomenta ideologias questionáveis, enquanto as relações humanas esfriam, o que deteriora a comunhão, afasta a fraternidade e destrói a amizade social”.
Santa Sé à disposição
Leão XIV conclui sua mensagem com um apelo à comunidade internacional. “Jamais foi tão urgente como agora que nos tornemos artesãos da paz, trabalhando para isso em prol do bem comum — do que beneficia a todos e não apenas a alguns poucos, que, aliás, são quase sempre os mesmos”, expressa.
Por fim, o Papa assegura que a Santa Sé estará sempre a serviço da concórdia entre os povos e não se cansará de cooperar para o bem comum da família das nações, especialmente em favor dos seres humanos mais provados e das regiões mais remotas, que não conseguem se erguer de sua miséria devido à indiferença.