Na catequese, Leão XIV refletiu sobre a revelação da traição de Judas, feita não para condenar, mas para ensinar que o amor sincero não oculta a verdade
Da Redação, com Vatican News

Foto: REUTERS/Yara Nardi
Com temperaturas durante a semana superando os 30 graus em Roma, a Audiência Geral desta quarta-feira, 13, foi transferida da Praça São Pedro para a Sala Paulo VI, no Vaticano, com capacidade para cerca de seis mil pessoas. Devido ao grande número de fiéis, eles foram divididos entre a Basílica de São Pedro e a Praça Petriano, que dá entrada à Sala Paulo VI.
Em sua primeira saudação multilíngue, o Papa Leão XIV afirmou: “Buongiorno a tutti! Bom dia! Buenos días!”. Em seguida, o Pontífice saudou os milhares de fiéis em inglês, espanhol e italiano. Ele também os agradeceu pela paciência diante da decisão de mudar o local da Catequese, para “proteger todos do sol e do calor extremo”.
Catequese
O Santo Padre deu sequência a etapa de meditações sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus, parte do ciclo de catequeses estabelecido no início do itinerário jubilar. Na catequese desta quarta-feira, 13, o Papa seguiu “os passos de Jesus nos últimos dias de sua vida”, com foco na “cena íntima, dramática, mas também profundamente verdadeira” do momento em que, durante a ceia pascal, Jesus revelou que um dos Doze estava prestes a traí-lo.
Leão XIV frisou que a revelação feita por Jesus não tinha a intenção de condenar ou humilhar, já que ele não apontou o culpado e nem sequer disse o nome de Judas: mas o fez para “salvar”, ensinando que o amor, quando é sincero, não pode ocultar a verdade.
“O Evangelho não nos ensina a negar o mal, mas a reconhecê-lo como uma oportunidade dolorosa para renascer”, continuou o Papa.
Caminho da Salvação
A reação dos discípulos não foi de raiva, mas de tristeza, constatou o Pontífice. “Uma dor silenciosa, feita de perguntas, de suspeitas, de vulnerabilidade. É uma dor que também nós conhecemos bem, quando a sombra da traição se insinua nos relacionamentos mais queridos”. E na possibilidade real de serem envolvidos, todos os discípulos começaram a se interrogar: “Acaso serei eu?” – reconhecendo a fragilidade do seu próprio amor.
“Caros amigos, esta pergunta — ‘Acaso serei eu?’ — está talvez entre as mais sinceras que podemos fazer a nós mesmos. Não é a pergunta do inocente, mas do discípulo que se descobre frágil. Não é o grito do culpado, mas o sussurro de quem, mesmo querendo amar, sabe que pode ferir. É nessa consciência que começa o caminho da salvação.”
Deus nunca abandona a mesa do amor
Deus, refletiu o Papa, “quando vê o mal, não se vinga, mas se entristece”. As duras palavras de Jesus – “Melhor seria que nunca tivesse nascido!” – referindo-se ao traidor, não são uma maldição ou condenação, mas um grito de dor. Com efeito, “se renegamos o Amor que nos gerou, perdemos o sentido da nossa vinda ao mundo e nos autoexcluímos da salvação”, frisou o Papa.
“Jesus não se escandaliza diante da nossa fragilidade e continua a confiar”, ponderou Leão XIV. “Ele sabe bem que nenhuma amizade está imune ao risco da traição”, tanto que sentou à mesa com os seus: “esta é a força silenciosa de Deus: não abandona nunca a mesa do amor, nem mesmo quando sabe que será deixado sozinho”.
“No fundo, esta é a esperança: saber que, ainda que possamos falhar, Deus nunca falha. Mesmo que possamos trair, Ele nunca deixa de nos amar. E se nos deixarmos alcançar por esse amor — humilde, ferido, mas sempre fiel — então podemos verdadeiramente renascer. E começar a viver não mais como traidores, mas como filhos sempre amados.”