Padre e religiosa que trabalham em missão na Mongólia falam sobre a simplicidade da evangelização, que é lançada no dia a dia como uma semente, que um dia dará seus frutos
Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Cristiane Monteiro
A Mongólia é um dos países com menor número de católicos, 1.394 pessoas professam a fé católica, segundo a última estatística divulgada pela Santa Sé nesta terça-feira, 29. O número representa aproximadamente 0,04% dos cerca de 3,384 milhões de habitantes do país. Isso porque o catolicismo viveu um renascimento no país há apenas 30 anos.
As raízes da Igreja católica na Mongólia são antigas, dos séculos XIII e XIV, mas o catolicismo foi suprimido com a implantação do regime comunista no país. E foi apenas em 1992 que a Mongólia se tornou independente e os mongóis puderam praticar livremente sua fé.
A partir daí, o primeiro presidente da Mongólia pediu ajuda a outros países, inclusive ao Vaticano. Foi então, que a Santa Sé, ao verificar a ligação dos missionários da Congregação do Imaculado Coração de Maria (CICM) com a evangelização no país, no século passado, pediu o envio de novos missionários CICM para o local.
“E assim, imediatamente o Vaticano convocou o nosso Superior Geral para enviar missionários à Mongólia. Esta Missão na Mongólia foi até agora confiada aos Missionários do CICM”, conta o padre Ronald Magbanua, CICM, que vive no país asiático há 21 anos.
Ele relata que, na congregação CICM, geralmente os novos pedidos de missão são atendidos por missionários que estão em locais próximos da nova missão. “A Mongólia está localizada na Ásia. Os países próximos são China, Hong Kong, Taiwan, Singapura, Japão. E assim [diante da necessidade da missão na Mongólia] os membros da equipe foram retirados de Hong Kong, Taiwan e Japão. Eles eram o Padre Gilberto Sales, Padre Robert Goosens e Padre Wens Padilla (que mais tarde se tornou o primeiro bispo da Mongólia)”, explica padre Ronald.
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Em 2022, a Igreja Católica na Mongólia completou 30 anos desse renascimento. Ao longo deste período, foram chegando muitas outras congregações.
O carisma do CICM diz de anunciar o Evangelho principalmente onde ele não é conhecido e vivido. “Os Missionários do CICM são como os ‘fuzileiros navais’ da Missão da Igreja Católica. Trabalhamos duro para estabelecer a missão. Nós lançamos as bases”, afirma padre Ronald.
Ele recorda que, quando chegou à Mongólia, não havia igrejas, apenas poucos convertidos e poucos missionários. “Depois de 30 anos, agora é totalmente diferente. Agora, temos cerca de 1.500 católicos batizados, 76 missionários, 8 igrejas paroquiais, escolas, jardins de infância, orfanatos, etc. É notável como Deus ajudou os missionários do CICM a estabelecer estas estruturas”, afirma.
Padre Ronald enfatiza que os missionários CICM entendem que a Mongólia é uma missão confiada à sua congregação e por isso nunca a abandonarão. “É muito inspirador termos chegado a esta altura. Mas não vamos parar por aqui; pelo contrário, trabalharemos mais arduamente em conjunto com outras congregações para o bem da Missão”.
Uma evangelização simples
Irmã Maria Esperanza Becerra, missionária da Consolata, está atualmente na missão na Mongólia. Ela conta que o carisma de sua congregação é a missão Ad Gentes: “Nosso carisma específico é o povo, ir aonde Jesus ainda não é conhecido. Por isso, procuramos ir ao encontro primeiro de tudo com o conhecimento, com fraternidade e amizade”.
A religiosa explica que a evangelização na Mongólia é muito simples, mas há duas realidades, a vivida na capital e a das aldeias. Ela diz que, na capital Ulaanbaatar, há duas igrejas, uma no norte e outra no sul da cidade. E há as outras igrejas que estão espalhadas no interior. Prioriza-se a Missa pela manhã. “Tem rosário, tem adoração, tem missa e depois tomamos chá e cada um vai fazer o seu trabalho”, conta.
Já são 30 anos de evangelização. Irmã Esperanza afirma que é pouco tempo para uma Igreja e para uma história com Jesus. “As pessoas que se converteram e que estão conhecendo Jesus estão aos poucos assumindo esses novos valores evangélicos. (…) o grande desafio é manter-se nessa luz do Evangelho para ser forte”.
Ela conta que há uma formação catequética das pessoas que querem aprofundar a fé, da qual participam crianças e adultos, que querem conhecer a Igreja em nível cultural. “Posso dizer que fazer a escolha do Cristianismo já começa com a preparação”.
Irmã Esperanza afirma que é um caminho lento e lindo, mas que exige perseverança, paciência e acreditar sempre.
“Uma coisa interessante que se fala aqui na Mongólia é que nós, como missionários, queremos sussurrar o Evangelho ao povo e fazer isso é entrar em relação de proximidade com o outro. Podemos aprender desta aproximação com tanto respeito que a Igreja está fazendo aqui, esperando lentamente que esta semente do Evangelho caia aqui e dela possa nascer uma bela árvore, um belo fruto, uma bela flor (…) Todos somos chamados a nos aproximarmos do outro com tanto respeito para dizer as coisas maravilhosas (…). Recordar, de uma certa maneira, Jesus: como se aproximava do outro para ajudá-lo, dizer-lhe o quanto Deus o queria bem, e dizê-lo com delicadeza, sem impor”.
A religiosa destaca que a evangelização na Mongólia requer discrição e contar com a graça de Deus. “Este é um critério para proclamar o Evangelho hoje não só aqui, mas em tantos outros contextos no mundo inteiro”, indica.
Visita do Papa
O pais vive a expectativa da chegada do Papa Francisco, entre os dias 31 de agosto e 4 de setembro. Um motivo de grande alegria para os católicos mongóis, afirma Irmã Esperanza.
“A Igreja na Mongólia está se preparando com alegria porque foi também o presidente a convidá-lo e isso é belo. A Igreja, o cardeal, o acolhem, mas também o presidente e com ele, o povo. Há uma grande expectativa. Vejo que o povo mongol é muito simples e vê o Papa Francisco assim, como um ‘santo’, uma pessoa sublime. E isso é belo, vamos escutá-lo, há tanta curiosidade. (…) E como diz o lema da viagem — esperar juntos —, estamos ‘esperando juntos’. Isso é belo: não só a Igreja, mas juntos, com o povo, e isso é bonito porque é um raio de luz que se abre também nas consciências, nas mentes”.
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A religiosa recorda que será a primeira vez que um Papa visita a Mongólia, um país grande em extensão, mas de poucas pessoas e com uma Igreja que é uma “pequena semente para o mundo”. “Somos uma ‘Igreja criança’ – 30 anos – e somos menos de 1500 cristãos, digamos. Então é um sinal visível do amor de Deus se olhamos pela perspectiva da fé. É maravilhoso, é uma graça”.
Ela destaca que o Papa Francisco prefere as periferias. “Nós somos uma periferia (risos), tanta gente não sabe onde está a Mongólia! Estamos entre dois grandes – entre a Rússia e a China. Mas é um encorajamento a sua presença para nós, como missionários, para o povo mongol, para a Igreja na Mongólia, um encorajamento para a Ásia, porque de um pequeno ponto a luz brilha”.