País com minoria católica, a Mongólia abriga também o cardeal mais jovem do colégio cardinalício da Igreja, Dom Giorgio Marengo, com apenas 49 anos
Thiago Coutinho
Da redação
A partir desta quinta-feira, 31, até a próxima segunda-feira, 4, tem início a próxima viagem apostólica do Papa Francisco desta vez feita à Mongólia —, a primeira vez que um Papa vai ao país asiático. De acordo com o programa divulgado pela Santa Sé, haverá quatro discursos proferidos pelo Papa e uma homilia.
Mas para falar sobre o país e suas origens é necessário recordar uma figura mitológica: Gengis Khan, fundador do império mongol. “Assim como todos os imperadores, e essa é uma característica deste modelo que é o império, ele fez uso da violência e coerção social como mecanismo de controle social”, explica João Jardim, geógrafo, pedagogo e gestor educacional.
Khan, porém, deixou também contribuições à Mongólia. “Certamente, foi o vasto território conquistado pelo Império Mongol, território este que começava do Mar da China e ia até as montanhas do Cáucaso”, recorda. Khan nasceu em 1160 e morreu em 1227. “Pode haver alguma variação nestas datas, uma vez que os mongóis não dominavam a escrita. Não se sabe exatamente estas datas, mas é isto que a literatura nos apresenta”, reitera Jardim.
O Império Mongol entra em declínio a partir do século 14 devido ao crescimento do Império Chinês.
Influência russa
Pulando para 1924, a Mongólia se torna uma república socialista — muito influenciada pela Revolução Russa Bolchevique. “O grande objetivo deste alinhamento com a Rússia à época era impedir os ataques do império japonês, que, de alguma maneira, queria impedir o crescimento da Rússia e de sua aliança com a Mongólia”, destaca Jardim.
A aliança entre as duas nações dura até meados de 1991, após a dissolução da União Soviética em 1991. “Mas, desde a década de 1970, a União Soviética já dando sinais de que não tinha conseguido seu modelo social e econômico como o capitalismo, diminui sua influência até que a dissolução ocorreu numa tríade: a queda do Muro de Berlim, as medidas de aberturas econômicas e políticas e o fim da União Soviética”.
Hoje em dia, a Mongólia adotou o semipresidencialismo.
Economia
Atualmente, a economia mongol gira em torno de três atividades: mineração, pecuária (setor primário da economia) e comércio internacional. “Especialmente destes produtos extraídos do setor primário”, diz Jardim. “Em termos de indústria, não há grandes destaques, até porque o país conta com algumas condições naturais que dificultam este tipo de atividade”.
Curiosidade: trata-se do segundo país com menor densidade demográfica do mundo. “Aquela relação entre quantidade de habitantes e espaço”, explica o geógrafo. “São apenas dois habitantes por quilômetro quadrado. Muito em virtude do Deserto de Golbi, um dos mais secos do mundo, o que dificulta o povoamento da região”.
Nômades
A cultura da Mongólia é muito rica e centrada nos costumes nômades — estilo de vida em que as pessoas não possuem habitação fixa. Os mongóis, segundo Jardim, viviam em clãs, que são comunidades de caça e coleta, há muito tempo, desde o século 6 a.C. “Atualmente, esses nômades chegam a mudar quatro vezes por ano e costumam levar seu animal de criação”, especifica.
Atualmente, segundo o geógrafo, um em cada quatro habitantes na Mongólia, ou 25% deles, vivem de forma nômade. “As condições naturais, climáticas, hidrográficas ou de relevo acabam facilitando este processo do nomadismo, uma vez que os meio de reprodução agrícola são complexos em virtude do clima semiárido e da ausência de chuva na maior parte da Mongólia”, acrescenta.
A Igreja Católica na Mongólia
A Mongólia é um país de minoria católica — apenas 1,3% da população professa a fé cristã frente aos 51,7% budistas. A Igreja está presente no país há apenas três décadas, já que as relações com a Santa Sé começaram apenas em 1992, um ano após a dissolução da União Soviética e a saída do país do bloco socialista.
“Recentemente, foi criado o Cardeal Giorgio Marengo [o mais jovem cardeal do colégio cardinalício, com 49 anos] e representa uma tentativa do Papa Francisco de redistribuir o colégio e contemplar regiões sem muitos cardeais. Vimos muito isto na América Latina, África e, agora, na Ásia. Acredito que quando o Papa nomeia um cardeal para continuar com a história da Igreja Católica na Mongólia, dá um sinal de que a Igreja precisar estar e ser em missão e, portanto, precisa alcançar irmãos e irmãs que não tiveram contato com a Igreja”, finaliza.
De acordo com o calendário divulgado pela Santa Sé, o Santo Padre partirá ao país asiático em 31 de agosto, às 18h30 (horário local), do Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci – Roma/Fiumicino com destino a Ulan Bator. Ele chegará no dia seguinte, 1º de setembro, às 10h (horário local), ao “Chinggis Khaan” Aeroporto Internacional da capital, onde será realizada a recepção oficial.
O lema desta jornada de Francisco à Ásia será “Esperar juntos” — uma maneira de sublinhar a importância da colaboração bilateral entre Santa Sé e Mongólia.