Discurso do Papa em encontro com jovens no México

Discurso do Papa Francisco às Comunidades Evangélicas

VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO MÉXICO
Encontro com os jovens
Estádio “José María Morelos y Pavón”
Terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Queridos jovens, boa tarde!

Quando cheguei a esta terra, fui recebido com boas-vindas calorosas, podendo assim constatar algo que já intuíra há tempos: a vitalidade, a alegria, o espírito festoso do povo mexicano. Agora mesmo, depois de vos ouvir e sobretudo depois de vos ver, constato de novo outra certeza, algo que disse ao Presidente da nação, na minha primeira saudação: um dos maiores tesouros desta terra mexicana tem um rosto jovem, são os seus jovens. É verdade! Sois vós a riqueza desta terra. Eu não disse a esperança desta terra, mas a sua riqueza.

Não se pode viver a esperança, pressentir o amanhã, se antes a pessoa não consegue estimar-se, se não consegue sentir que a sua vida, as suas mãos, a sua história têm valor. A esperança nasce, quando se pode experimentar que nem tudo está perdido, mas para isso é necessário exercitar-se começando «por casa», começando por si mesmo. Nem tudo está perdido. Não estou perdido, valho… e muito! A principal ameaça à esperança são os discursos que te desvalorizam, fazem sentir-te um ser de segunda classe. A principal ameaça à esperança é quando sentes que não interessas a ninguém, ou que te puseram de lado. A principal ameaça à esperança é quando sentes que tanto vale estares como não estares. Isto mata, isto aniquila-nos e é porta de entrada para tanta amargura. A principal ameaça à esperança é fazer-te crer que começas a valer qualquer coisa, quando te mascaras com roupas de marca, do último grito da moda, ou que ganhas prestígio, te tornas importante por teres dinheiro, mas, no fundo do teu coração, não crês ser digno de carinho, digno de amor. A principal ameaça é quando uma pessoa sente que tudo aquilo de que precisa é ter dinheiro para comprar tudo, inclusive o carinho dos outros. A principal ameaça é crer que, pelo facto de ter um grande «carro», és feliz.

Vós sois a riqueza do México, vós sois a riqueza da Igreja. Compreendo que muitas vezes se torna difícil sentir-se tal riqueza, quando estamos continuamente sujeitos à perda de amigos ou familiares nas mãos do narcotráfico, das drogas, de organizações criminosas que semeiam o terror. É difícil sentir-se a riqueza duma nação, quando não se tem oportunidades de trabalho digno, possibilidades de estudo e formação, quando não se sentem reconhecidos os direitos levando-vos a situações extremas. É difícil sentir-se a riqueza dum lugar, quando, por serdes jovem, vos usam para fins mesquinhos, seduzindo-vos com promessas que, no fim, se revelam vãs.

Mas, apesar de tudo isto, não me cansarei de dizer: vós sois a riqueza do México.

Não penseis que vos digo isto, porque sou bom ou porque já vejo tudo claro! Não, queridos amigos, não é por isso. Digo-vos isto, e digo-o convencido, sabeis porquê? Porque, como vós, creio em Jesus Cristo. E é Ele que renova continuamente em mim a esperança, é Ele que renova continuamente o meu olhar. É Ele que me convida continuamente a converter o coração. Sim, meus amigos! Digo-vos isto, porque em Jesus encontrei Aquele que é capaz de estimular o melhor de mim mesmo. E é graças a Ele que podemos abrir caminho; é graças a Ele que sempre podemos recomeçar; é graças a Ele que podemos ganhar coragem para dizer: não é verdade que a única forma possível de viver, de poder ser jovem seja deixar a vida nas mãos do narcotráfico ou de todos aqueles que a única coisa que fazem é semear destruição e morte. É graças a Ele que podemos dizer que não é verdade que a única forma que os jovens têm de viver aqui seja na pobreza e na marginalização: marginalização de oportunidades, marginalização de espaços, marginalização da formação e educação, marginalização da esperança. Jesus Cristo é Aquele que desmente todas as tentativas de vos tornar inúteis, ou meros mercenários de ambições alheias.

Pedistes-me uma palavra de esperança… A que tenho para vos dar, chama-se Jesus Cristo. Quando tudo vos parecer pesado, quando parecer que o mundo vos cai em cima, abraçai-vos à sua cruz, abraçai-vos a Ele e, por favor, nunca largueis a sua mão; por favor, nunca vos afasteis d’Ele. Com efeito, juntamente com Ele é possível viver plenamente, juntamente com Ele é possível crer que vale a pena dar o melhor de vós mesmos, ser fermento, sal e luz no meio dos vossos amigos, no vosso bairro, na vossa comunidade. Por isso, queridos amigos, em nome de Jesus peço que não vos deixeis excluir, não vos deixeis desvalorizar, não vos deixeis tratar como mercadoria. Claro, é provável que não tenhais à porta o último modelo de carro, que não tenhais a carteira cheia de dinheiro, mas tereis algo que ninguém vos poderá jamais roubar: a experiência de vos sentirdes amados, abraçados e acompanhados; a experiência de vos sentirdes família, de vos sentirdes comunidade.

Hoje o Senhor continua a chamar-vos, continua a convocar-vos como fez com o índio Juan Diego. Convida-vos a construir um santuário; um santuário que não é um lugar físico, mas uma comunidade: um santuário chamado paróquia, um santuário chamado nação. A comunidade, a família, o sentir-vos cidadãos são alguns dos principais antídotos contra tudo o que nos ameaça, porque nos faz sentir parte desta grande família de Deus. E não para nos refugiarmos, não para nos fecharmos; antes, pelo contrário, para sairmos a convidar outros, para sairmos a anunciar a outros que ser jovem no México é a maior riqueza e, por conseguinte, não pode ser sacrificada.

Jesus nunca nos convidaria para ser sicários, mas chama-nos discípulos. Nunca nos mandaria à morte, mas tudo n’Ele é convite à vida: uma vida em família, uma vida em comunidade; uma família e uma comunidade a favor da sociedade.

Vós sois a riqueza deste país e, quando tiverdes dúvidas sobre isto, olhai para Jesus Cristo, Aquele que desmente todas as tentativas de vos tornar inúteis ou meros mercenários de ambições alheias.

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