Em discurso, Papa pede que povo de Madagascar lute contra a corrupção

Francisco ainda salientou preocupação com a natureza e com a distribuição de renda entre os mais pobres

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco no encontro com Andry Rajoelina, presidente de Madagascar / Foto: Vatican Media

O Santo Padre se encontra em Madagascar, segunda etapa da sua 31ª Viagem Apostólica, após ter visitado, por três dias, Moçambique. O dia do Santo Padre teve início com a celebração da Santa Missa, em privado, na Nunciatura Apostólica em Antananarivo, capital de Madagascar.

A seguir, o Papa se transferiu, de automóvel, ao Palácio Presidencial, a quase 20 quilômetros, para uma Visita de Cortesia ao Presidente malgaxe, Andry Rajoelina. Depois, no vizinho Centro de Cerimônias, manteve um encontro com as Autoridades, civis e religiosas, representantes da Sociedade Civil e de algumas Confissões Religiosas e o Corpo Diplomático.

Após a saudação do Presidente da República, Francisco pronunciou seu discurso, citando, inicialmente, o preâmbulo da Constituição do país, onde se destaca um dos valores fundamentais da cultura malgaxe: o fiha-vanana, que evoca o espírito de partilha, ajuda mútua e solidariedade, mas, também a importância dos laços familiares, da amizade e da benevolência entre os homens e para com a natureza. E o Papa continuou:

“Assim se revelam a ‘alma’ do seu povo e os traços peculiares, que o caracterizam, constituem e lhe permitem resistir, corajosa e abnegadamente, às múltiplas contrariedades e dificuldades que tem de enfrentar diariamente. Devemos reconhecer, valorizar e apreciar esta terra abençoada, pela sua beleza e inestimável riqueza natural, mas também a sua ‘alma’, que dá a força para se comprometer com a aina, a vida”.

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Depois da independência, explicou o Papa, esta nação aspira à estabilidade e à paz, implementando uma alternância democrática positiva, que testemunha respeito pela complementaridade dos estilos e projetos. Isto demonstra que “a política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, quando é vivida como serviço à coletividade humana”.

Por isso, completou Francisco, a função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para os que têm a missão de servir e proteger os seus compatriotas, especialmente os mais vulneráveis, e promover as condições para um desenvolvimento digno e justo, envolvendo todos os atores da sociedade civil. E exortou:

“Nesta perspectiva, encorajo-os a lutar, vigorosa e decididamente, contra todas as formas endêmicas de corrupção e especulação, que aumentam a disparidade social, e a enfrentar as situações de grande precariedade e exclusão, que geram sempre condições de pobreza desumana”.

Daí, afirmou o Papa, a necessidade de se estabelecer mediações estruturais, que possam garantir uma melhor distribuição da renda e a promoção integral de todos, especialmente os mais pobres. Tal promoção não se pode limitar a uma mera assistência, mas requer uma participação plena na construção do futuro do país.

Mas, recordou Francisco, não se pode falar de desenvolvimento integral sem prestar atenção e cuidar da nossa Casa Comum. Não se trata apenas de buscar instrumentos para preservar os recursos naturais, mas soluções integrais para a única e complexa crise socio-ambiental. A propósito, o Papa recordou:

“A linda ilha de Madagascar é rica de biodiversidade vegetal e animal, uma riqueza ameaçada pelo excessivo desflorestamento, em proveito de poucos. A sua degradação compromete o futuro do país e da nossa Casa Comum”.

As florestas, ainda existentes, acrescentou o Papa, estão ameaçadas pelos incêndios, a caça furtiva, a derrubada desenfreada de madeiras preciosas, o contrabando e as exportações ilegais. Por isso, é preciso criar condições para respeitar o meio ambiente e ajudar as pessoas a sair da pobreza. Por isso, afirmou:

“Não pode haver verdadeira abordagem ecológica nem uma ação concreta de salvaguarda do meio ambiente sem uma justiça social, que garanta o direito ao destino comum dos bens da terra às gerações atuais e às futuras. Todos nós devemos nos comprometer neste caminho, inclusive a comunidade internacional”.

A globalização econômica, cujas limitações são cada vez mais evidentes, frisou Francisco, não deveria levar a uma uniformização cultural. O próprio povo deve assumir, aos poucos, seu controle, tornando-se artífice do seu destino.

O Santo Padre concluiu seu discurso, citando a Beata Vitória Rasoa-manarivo, beatificada por São João Paulo II, em sua visita ao país há trinta anos. Seu testemunho de amor pela sua terra e suas tradições, o serviço aos mais pobres, como sinal da sua fé em Cristo, indicam-nos o caminho que devemos percorrer. Por fim, o Papa referiu-se à obra da Igreja católica no país:

“Desejo reafirmar a vontade e a disponibilidade da Igreja Católica em Madagascar de contribuir, em diálogo permanente com os cristãos das outras confissões e religiões e com a sociedade civil, para o advento de uma verdadeira fraternidade, que valorize a promoção e o desenvolvimento humano integral de todos, sem nenhuma exceção e exclusão”.

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