No Bahrein, Pontífice participou de um encontro ecumênico e oração pela paz; em seu discurso, ressaltou a unidade, a comunhão e o testemunho de vida para que a verdadeira ação ecumênica ocorra
Da Redação
Em seu discurso no encontro ecumênico de oração pela paz, no Bahrein, o Papa Francisco, diante de diversos líderes religiosos e civis, apontou a importância do olhar para a unidade na diversidade, o respeito às diferenças e a observância da coerência de vida como elementos concretos para se caminhar na conquista da paz.
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Trazendo a imagem bíblica de Pentecostes, o Pontífice recordou que, apesar daquele povo chegar em Jerusalém oriundo de diversas localidades, sentiram-se unidos num só Espírito. Acrescentou que hoje a variedade de origens e línguas não é um problema, mas um recurso.
“Irmãos, irmãs, isto é válido também para nós, porque, «num só Espírito, fomos todos batizados para formar um só corpo» (1 Cor 12, 13). Infelizmente, com as nossas dilacerações, ferimos o corpo santo do Senhor, mas o Espírito Santo, que une todos os membros, é maior do que as nossas divisões carnais. Por isso é justo afirmar que, quanto nos une, supera em muito quanto nos divide e que, quanto mais caminharmos segundo o Espírito, tanto mais seremos levados a desejar e, com a ajuda de Deus, a restabelecer a plena unidade entre nós”.
O Santo Padre, ainda meditando o texto de Pentecostes, trouxe à tona duas imagens: a unidade na diversidade e o testemunho de vida
A unidade na diversidade
Francisco lembrou que, em Pentecostes, os discípulos se encontravam reunidos no mesmo lugar e mesmo o Espírito ´pousando´ sobre cada um, escolhe o momento em que estão todos juntos. Podiam adorar a Deus e fazer bem ao próximo mesmo separadamente, mas é convergindo em unidade que se abrem de par em par as portas à obra de Deus.
“O povo cristão é chamado a reunir-se para que aconteçam as maravilhas de Deus. O fato de estar aqui no Bahrein como um pequeno rebanho de Cristo, disperso em vários lugares e confissões, ajuda a sentir a necessidade da unidade, da partilha da fé: assim como neste arquipélago não faltam ligações seguras entre as ilhas, assim aconteça também entre nós, para não estarmos isolados, mas em comunhão fraterna”.
Questionando os presentes, o Papa perguntou sobre o lugar do encontro, o cenáculo espiritual que pode aumentar a unidade dos povos, onde se dá a comunhão. “ É o louvor de Deus, que o Espírito suscita em todos. A oração de louvor não isola, nem nos fecha em nós mesmos e nas nossas necessidades, mas introduz nos no coração do Pai e, assim, nos liga a todos os irmãos e irmãs”.
O caminho de oração e de louvor
Sob o olhar da unidade e comunhão na diversidade, Francisco afirmou que a oração de louvor e adoração é a mais elevada, gratuita e incondicional atração da alegria do Espírito, que purifica o coração, reconstitui a harmonia e sanifica a unidade. “É o antídoto contra a tristeza, a tentação de nos deixarmos turbar pela nossa pequenez interior e pela insignificância exterior dos nossos números. Quem louva, não presta atenção à pequenez do rebanho, mas à beleza de sermos os pequeninos do Pai.”
Francisco disse que seria muito bom continuar a alimentar o louvor de Deus, para serem ainda mais sinais de unidade para todos os cristãos. “O Espírito não nos encerra na uniformidade, mas predispõe-nos para nos acolhermos nas diferenças. Isto acontece a quem vive segundo o Espírito: aprende a encontrar cada irmão e irmã na fé como parte do corpo a que pertence. Este é o espírito do caminho ecumênico”, sublinhou.
Viver o ecumenismo
O Santo Padre trouxe em seu discurso algumas perguntas acerca do ecumenismo, auxiliando os demais líderes em suas reflexões. “Eu, pastor, ministro, fiel, sou dócil à ação do Espírito? Vivo o ecumenismo como um peso, como um compromisso extra, como um dever institucional, ou então como o desejo veemente de Jesus de que nos tornemos um só, como uma missão que brota do Evangelho? Concretamente, que faço eu por aqueles irmãos e irmãs que acreditam em Cristo e não são dos meus?”
O Testemunho de vida
Por fim, Francisco trouxe à tona o elemento do testemunho de vida. Afirmou que o anúncio cristão não é tanto um discurso feito de palavras, mas um testemunho que deve se mostrar com os fatos, sendo a fé um dom a partilhar, não um privilégio que se há de reivindicar.
“Os cristãos habitam na terra, mas a sua cidade é o céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas pelo seu modo de vida superam as leis. Amam a todos : aqui está o distintivo cristão, a essência do testemunho. O fato de estar aqui, no Bahrein, permitiu a muitos de vocês voltar a descobrir e praticar a genuína simplicidade da caridade: penso na assistência aos irmãos e irmãs que chegam, numa presença cristã que com humildade quotidiana testemunham, nos locais de trabalho, compreensão e paciência, alegria e mansidão, benevolência e espírito de diálogo. Numa palavra: paz”.
Indagando sobre a temática do encontro de oração pela paz, o Papa novamente voltou-se para cada presente: “somos verdadeiramente pessoas de paz? Estamos possuídos pelo desejo de manifestar, por todo o lado e sem esperar nada em troca, a mansidão de Jesus? Fazemos nossas – trazendo-as no coração e à oração – as fadigas, as feridas e as desuniões que vemos à nossa volta?”.
Ao concluir, trouxe a certeza de que a unidade e o testemunho são coessenciais e que não se pode testemunhar verdadeiramente o Deus do amor se não estiverem unidos entre si, como Ele deseja. “Não se pode estar unido seguindo cada um por conta própria, sem se abrir ao testemunho, nem dilatar os confins dos próprios interesses e das próprias comunidades em nome do Espírito que abraça toda a língua e anseia por conquistar a cada um. Ele une e envia, reúne em comunhão e manda em missão.”