Arcebispo emérito de Aparecida (SP) relembra os temas que estão no centro do pontificado de Francisco
Julia Beck
Da redação
Papa Francisco após o anúncio de sua eleição ao mundo /Foto: REUTERS/Osservatore Romano – Vatican Media
Francisco, o nome inédito escolhido pelo atual Papa é como um programa de seu pontificado. É o que afirma o arcebispo emérito de Aparecida (SP), Cardeal Raymundo Damasceno, em sua reflexão acerca dos 10 anos do magistério do Papa Francisco, completos nesta segunda-feira, 13.
“São Francisco é justamente o padroeiro da ecologia. Ele é aquele que nos deu um grande testemunho da pobreza evangélica. O santo veio de família rica e se despojou disso tudo para viver a pobreza. (…) O Papa Francisco tem mostrado, desde o início, com a escolha do seu nome – uma novidade -, o seguimento dos passos de São Francisco”, indica.
O purpurado já representou o Papa Francisco em algumas importantes ocasiões – como presidente da celebração de beatificação da mártir brasileira Isabel Cristina, em dezembro passado; e como enviado especial para a celebração do Centenário da Coroação da “Virgem del Rosário de Chiquinquirá”, na Colômbia, em julho de 2019,
Para o cardeal é importante lembrar o que testemunham as pessoas acerca do episcopado do Cardeal Jorge Mário Berglio em Buenos Aires: um bispo preocupado com os mais pobres. “Ele percorria e visitava os bairros de ônibus e metrô. Sempre teve uma vida sóbria”, acrescenta.
Documento de Aparecida
Outro ponto importante evidenciado por Dom Damasceno é a presença viva do Documento de Aparecida no pontificado de Francisco – texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que aconteceu em maio de 2007.
O cardeal recorda que o Papa Francisco, na época arcebispo de Buenos Aires, foi presidente da Comissão de Redação do documento.
“Eleito Papa, ele retomou esse documento e o enriqueceu com o seu magistério e autoridade de Papa”, disse. “O texto continua marcando o pontificado de Francisco e inspira o seu trabalho pastoral”.
Evangelii Gaudium
Dom Damasceno cita também a primeira Exortação Apostólica do Santo Padre, a Evangelii Gaudium, considerada o programa de pontificado de Francisco. Segundo o cardeal, ela é marcada pela dimensão fundamental da Igreja, que é a evangelização.
“O grande acento da evangelização do Papa Francisco, nessa exortação apostólica, é justamente a evangelização, o anúncio do evangelho. Um anúncio com alegria (…). Evangelho quer dizer ‘boa notícia’, é uma notícia que causa alegria tanto naquele que anuncia, quanto naquele que recebe”, reflete.
Ação missionária
O Papa Francisco reforça que tudo deve estar a serviço da missão: as estruturas materiais, comunidades, recursos humanos e financeiros, comenta o purpurado. Dom Damasceno afirma que a Igreja é, por natureza, missionária, por isso o Pontífice pede que tudo que não ajude no cumprimento dessa missão seja extinto.
A reforma da Cúria Romana, segundo o arcebispo emérito de Aparecida, também foi impactada pelo impulso dado pelo Santo Padre na ação missionária da Igreja.
Igreja em saída
Ao comentar sobre a missionariedade da Igreja, Dom Damasceno ressalta o termo “Igreja em saída”, cunhado por Francisco em seu pontificado. O purpurado lembra que os papas anteriores também falavam da missão evangelizadora da Igreja, o que demonstra uma atenção e cuidado no cumprimento do mandato missionário que Jesus deu aos seus apóstolos.
“Na mesma linha, o Papa Francisco continua com essa preocupação de uma igreja missionária, evangelizadora e que ganhou essa nova expressão, ‘Igreja em saída’”, enfatiza. O cardeal explica que uma Igreja que sai não pode ser autor referencial, ela deve ir ao encontro das pessoas nas periferias. “Não se trata apenas de um sair geográfico”, alerta.
Dimensão social e o diálogo pela paz
“A dimensão social é parte integrante da evangelização”, acentua Dom Damasceno. O bispo realça que o pontificado de Francisco tem destacado esse aspecto. “O anúncio do Evangelho implica na preocupação em levar as pessoas a uma vida cada vez mais digna, promovendo seus direitos”.
Ainda sobre a dimensão social, o cardeal reforça que é possível ver o esforço do Papa em relação à paz. “É preciso aprender a viver em um mundo plural, vier em comunhão, união até mesmo nas diferenças”.
Misericórdia
O purpurado afirma que além da missionariedade, evangelização, dimensão social e diálogo, outra questão que está no centro da mensagem do Papa Francisco é a misericórdia.
“Ele [Santo Padre] proclamou o Ano da Misericórdia e sempre se refere a este tema, e a Jesus, como a expressão da misericórdia e do amor do Pai com toda a humanidade”, opina. Segundo Dom Damasceno, a misericórdia difundida por Francisco também se traduz na preocupação com os mais pobres, necessitados, migrantes e refugiados.
Confira com mais detalhes as reflexões do cardeal no vídeo a seguir:
Notícias Relacionadas
Papa Francisco: o Papa do qual a Igreja precisa, frisa sacerdote
10 anos de pontificado: um Papa atento às dores do mundo, diz cardeal
A sinodalidade no centro do ministério do Papa Francisco
"Cultura do encontro" de Francisco é uma oposição à exclusão, diz padre
A Igreja é casa para todos, reitera Papa Francisco em entrevista
