Vaticano

Realidade é antídoto para muitas "doenças", diz Papa aos jornalistas

Ao entregar as insígnias da Grã-Cruz da Ordem Pia a dois jornalistas vaticanistas, o Papa falou sobre a “missão” dos jornalistas, caracterizando-a com três verbos: escutar, aprofundar e contar

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante discurso/ Foto: Reprodução Vatican Media

Na manhã deste sábado, 13, o Papa Francisco entregou as insígnias de ‘Dama’ e ‘Cavaleiro’ da Grã-Cruz da Ordem Pia a dois jornalistas vaticanistas. Foram eles: a senhora Valentina Alazraki e o senhor Philip Pullella. Há muitos anos, eles acompanham decanos das notícias sobre os Papas e a Igreja.

Francisco iniciou o momento saudando-os como “companheiros de viagem”. Isso devido aos inúmeros encontros no decorrer dos anos nos aviões, celebrações e encontros com peregrinos.

“A senhora Valentina Alazraki, que na sua primeira viagem – disse o Papa -, muito jovem, embarcou no avião que levou São João Paulo II a Puebla, em 1979; e o senhor Phil Pullella, também um veterano e conhecido protagonista das informações do Vaticano. Quantas experiências compartilhadas, quantas viagens, quantos eventos!”

Leia mais
.: No Dia do Jornalista, profissionais contam como o Papa os inspira

Em seguida, disse: “Com a menção honrosa dada a Valentina e Phil, hoje, quero, de alguma forma, prestar homenagem a toda a sua comunidade de trabalho”, que considero precioso. “O jornalismo – continuou –  não acontece escolhendo uma profissão, mas embarcando em uma missão, como um médico, que estuda e trabalha para que, no mundo, o mal seja curado.”

“A missão do jornalista é explicar o mundo, torná-lo menos obscuro, fazer com que as pessoas tenham menos medo e possam olhar para os outros com maior consciência e também com mais confiança. É uma missão difícil. É por isso que encorajo vocês a preservar e cultivar esse sentido de missão que está na origem de sua escolha. Faço-o com três verbos que acredito caracterizarem o bom jornalismo: escutar, aprofundar e contar”.

Leia mais
.: Papa pede a jornalistas que haja espaço para divulgar as boas notícias

Escutar

Escutar é um verbo que, segundo o Santo Padre, diz respeito aos jornalistas, mas também a todos como Igreja, em todos os momentos e especialmente agora que o processo sinodal já começou. “Para um jornalista, escutar significa ter a paciência de encontrar-se frente a frente com as pessoas a serem entrevistadas, os protagonistas das histórias que estão sendo contadas, as fontes das quais receber as notícias”, diz.

“Escutar sempre anda de mãos dadas com ver, com estar presente: certas nuances, sensações, descrições bem fundamentadas só podem ser transmitidas aos leitores, ouvintes e espectadores se o jornalista tiver escutado e visto por si mesmo”.

Leia mais
.: Papa pede aos jornalistas: comunicação para construir e não destruir

Aprofundar

Aprofundar, o segundo verbo, continua Francisco, é uma consequência de escutar e ver. Cada notícia, cada fato de que falamos, cada realidade que descrevemos precisa ser investigada.

“Numa época em que milhões de informações estão disponíveis na web e quando muitas pessoas obtêm suas informações e formam suas opiniões nas redes sociais, onde infelizmente, às vezes, prevalece a lógica da simplificação e da contraposição, a contribuição mais importante que o bom jornalismo pode dar é a de um aprofundamento.”

Contar

Por fim, explica o Papa, o terceiro verbo, contar. “Não preciso explicá-lo a vocês, que se tornaram jornalistas justamente porque são curiosos sobre a realidade e apaixonados por contá-la. “Contar significa não se colocar em primeiro plano, nem se colocar como juiz, mas se deixar impressionar e, às vezes, sofrer pelas histórias que encontramos, a fim de poder contá-las com humildade a nossos leitores”.

Leia também
.: “Caridade, amor e fraternidade são o caminho”, diz Papa aos jornalistas

“A realidade é um grande antídoto para muitas ‘doenças’. A realidade, o que acontece, as vidas e os testemunhos das pessoas, são o que merece ser contado.”

Neste ponto, Francisco acrescentou seu agradecimento aos jornalistas que contam a verdade também “pelo que nos dizem sobre o que está errado na Igreja, por nos ajudar a não esconder debaixo do tapete e pela voz que vocês deram às vítimas de abusos”.

A Igreja não é uma empresa

Por fim, o Papa disse: “Lembrem-se também que a Igreja não é uma organização política com esquerdas e direitas como nos parlamentos. Não é uma grande empresa multinacional dirigida por executivos que estudam como vender melhor o seu produto. A Igreja não se constrói com base em seu próprio projeto, não tira de si mesma a força para seguir adiante, e não vive de estratégias de marketing”.

A Igreja, frisa o Pontífice, é formada por homens e mulheres pecadores como todos os demais. Ela nasceu e existe para refletir à luz de um Outro, à luz de Jesus, assim como a lua faz com o sol. A Igreja existe para levar a palavra de Jesus ao mundo. Para tornar possível, hoje, um encontro com o Jesus vivo. Ela tornou-se um veículo para seu abraço de misericórdia oferecido a todos.

Leia também
.: “Dar voz a quem não tem”, pede Papa a jornalistas católicos
.: Após audiência, Papa pede que jornalistas tenham responsabilidade

“Obrigado, queridos amigos, por este encontro. Obrigado e parabéns aos nossos dois ‘decanos’, que hoje se tornam ‘Dama’ e ‘Cavaleiro’ da Grande Cruz da Ordem Piano. Obrigado a todos vocês pelo trabalho que fazem. Obrigado por sua busca da verdade, porque somente a verdade nos liberta”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo