Na catequese desta quarta-feira, 15, Francisco afirmou: “São Paulo diz que a paz de Cristo é ‘fazer de dois, um’ para cancelar a inimizade e se reconciliar”
Da redação, com Vatican News
A catequese do Papa Francisco, desta quarta-feira, 15, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico por causa da pandemia de coronavírus foi dedicada à sétima Bem-aventurança: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. “Para entender essa bem-aventurança, é preciso explicar o significado da palavra ‘paz’, que pode ser mal entendido ou banalizado”, revelou o Pontífice.
Segundo Francisco, é preciso que homens e mulheres se orientem entre duas ideias de paz: a primeira é bíblica, onde aparece a bela palavra shalòm, que expressa abundância, prosperidade e bem-estar. “Quando em hebraico se deseja shalòm, deseja-se uma vida bela, plena e próspera, mas também de acordo com a verdade e a justiça, que serão cumpridas no Messias, príncipe da paz”, explicou.
“Depois, há outro sentido, mais difundido, em que a palavra “paz” é entendida como uma espécie de tranquilidade interior. Essa é uma ideia moderna, psicológica e mais subjetiva”, comentou o Papa, que acrescentou: “Acredita-se que a paz seja calma, harmonia, equilíbrio interior. Esse significado da palavra paz é incompleto e não pode ser absoluto, porque a inquietude na vida pode ser um momento importante de crescimento, enquanto pode acontecer que a tranquilidade interior corresponda a uma consciência domesticada e não a uma verdadeira redenção espiritual. Muitas vezes, o Senhor deve ser um ‘sinal de contradição’, abalando as nossas falsas seguranças, para nos levar à salvação”.
O Pontífice observou que o Senhor entende sua paz como diferente da paz humana, a do mundo, quando diz: “Eu deixo para vocês a paz, eu lhes dou a minha paz. A paz que eu dou para vocês não é a paz que o mundo dá”. O Santo Padre afirmou que os conflitos bélicos, as guerras, normalmente, terminam de duas maneiras: com a derrota de uma das duas partes ou com os tratados de paz.
“Só podemos esperar e rezar para que esse segundo caminho possa sempre ser seguido. No entanto, devemos considerar que a história é uma série infinita de tratados de paz desmentidos por guerras sucessivas ou pela metamorfose dessas mesmas guerras em outras maneiras ou em outros lugares. (…) Em nosso tempo, uma guerra ’em pedaços’ é travada em vários cenários e de maneiras diferentes. Devemos, pelo menos, suspeitar que, no contexto de uma globalização composta sobretudo de interesses econômicos, a ‘paz’ de alguns corresponde à ‘guerra’ de outros. Esta não é a paz de Cristo!”, alertou.
O Papa questionou: “Como o Senhor Jesus dá a sua paz?”. Respondeu: “São Paulo diz que a paz de Cristo é ‘fazer de dois, um’ para cancelar a inimizade e se reconciliar. E o caminho para realizar essa obra de paz é o seu corpo. De fato, ele reconcilia todas as coisas e dá a paz com o sangue de sua cruz.”
“A sétima bem-aventurança é a mais ativa, explicitamente operativa. A expressão verbal é análoga à usada no primeiro versículo da Bíblia para criação, e indica iniciativa e laboriosidade. O amor, por sua natureza, é criativo e busca a reconciliação a qualquer custo. Aqueles que aprenderam a arte da paz e a exercitam são chamados filhos de Deus, sabem que não há reconciliação sem o dom da vida, e que a paz sempre deve ser buscada. (…) Esta não é uma obra autônoma fruto das próprias capacidades. É uma manifestação da graça recebida de Cristo, que nos tornou filhos de Deus”.
Ao concluir sua catequese, o Pontífice disse que a verdadeira paz e o verdadeiro equilíbrio interior jorram da paz de Cristo. “[A paz] que vem de sua cruz e gera uma nova humanidade, encarnada numa infinita multidão de santos, santas, inventivos, criativos, que delinearam sempre novas maneiras de amar. Esta vida como filhos de Deus, que buscam e encontram seus irmãos pelo sangue de Cristo, é a verdadeira felicidade”.