Francisco recebeu a delegação da Caritas Internacional nesta quinta-feira, 11; convite é para que todo cristão viva a caridade, acolhendo o amor de Deus
Vatican News
A audiência com o Papa Francisco na manhã desta quinta-feira, 11, na Sala Clementina, no Vaticano, marcou a abertura da 22ª Assembleia Geral da Caritas Internacional que termina na próxima terça-feira, 16, em Roma, e reúne cerca de 400 delegados que trabalham em organizações humanitárias de 200 países – inclusive representantes provenientes do Brasil.
Em discurso entregue aos presentes, o Pontífice saudou membros do Conselho e funcionários da confederação católica, criada para dar expressão à comunhão eclesial – uma vocação que a distingue de outras entidades que atuam no âmbito social – e um meio de mediação para se chegar às Igrejas particulares através do “exercício da caridade”.
Formar pessoas competentes
Francisco deu indicações para essa tarefa, tais como, “anunciar o Evangelho com as boas obras”, não apenas com estratégias que se mostrem bem-sucedidas, mas com projetos contínuos de conversão missionária: “quem trabalha na Caritas é chamado a testemunhar esse amor diante do mundo. Sejam discípulos missionários, sigam Cristo!”, disse o Papa. Ele recomendou também a unidade da confederação diante da diversidade de tantas identidades, promovendo o crescimento e não a divisão; assim como o acompanhamento de perto das Igrejas locais no compromisso ativo com a caridade pastoral:
“Cuidem para formar pessoas competentes capazes de levar a mensagem da Igreja para a vida política e social. O desafio de um laicato consciente e maduro é mais relevante do que nunca, porque a presença delas se estende em todas as áreas que tocam diretamente a vida dos pobres. São elas que podem expressar, com liberdade criativa, o coração materno e a solicitude da Igreja pela justiça social, comprometendo-se com a árdua tarefa de mudar as estruturas sociais injustas e promover a felicidade da pessoa humana.”
O retorno às origens da caridade e da Caritas
As indicações do Papa, porém, foram precedidas por um retorno tanto às origens da confederação, quando citou Pio XII e João Paulo II, quanto às origens e à importância de uma atividade social e de caridade – onde sempre encontramos Cristo que se oferece por todos, que ama por primeiro sem pedir nada em troca. Francisco procurou encorajar esse compromisso, “com abertura de coração e esperança renovada”, ao sugerir a releitura da Exortação Apostólica Amoris Letitia e também o chamado “Hino à Caridade” do Apóstolo Paulo (cf. 1 Cor 12, 31-13, 13) para compreender que a caridade é “o caminho mais sublime” para conhecer Deus e compreender os fundamentos da vida cristã:
“Mesmo as ações mais extraordinárias, a generosidade mais heroica, até mesmo a distribuição de todos os bens para dá-los aos famintos (1 Cor 13,3), sem caridade não valem nada. Sem a confissão de fé em Deus Pai, que é o princípio de todo o bem; sem a experiência de amizade com Cristo, que mostrou ao mundo a face do amor trinitário; sem a orientação do Espírito, que dirige a história da humanidade para a posse da vida plena (Jo 10,10), nada mais resta do que a aparência. Não mais o bem, mas apenas uma aparência do bem.”
Retribuir o amor de Deus
“Podemos retribuir o amor que Deus tem por nós ao nos tornarmos seu sinal e instrumento para os outros”, destacou o Pontífice: “não há melhor maneira de mostrar a Deus que entendemos o significado da Eucaristia do que entregando aos outros aquilo que nós recebemos”. “É a caridade que nos torna quem somos”, acolhendo o amor de Deus.
O Pontífice frisou que o amor faz abrir os olhos, ampliar o olhar, permite reconhecer no estranho que cruza o caminho o rosto de um irmão, com um nome, uma história, um drama ao qual não se deve ficar indiferente.
“À luz do amor de Deus, a fisionomia do outro emerge das sombras, sai da insignificância e adquire valor, relevância. As necessidades do próximo nos questionam, nos incomodam, nos provocam o desafio da responsabilidade. E é sempre à luz do amor que encontramos a força e a coragem para responder ao mal que oprime o outro, para responder em primeira pessoa, colocando a nossa cara, o nosso coração, arregaçando as mangas”, disse.
Como viver a caridade?
Assim, para saber se um cristão vive a caridade, aprofundou o Papa, basta perceber “se ele está disposto a ajudar de bom grado, com um sorriso nos lábios, sem resmungar e se irritar”. E Francisco vai além: para viver a caridade é preciso dar espaço ao outro, aceitando com flexibilidade o que é diferente e encontrando um ponto de encontro ou uma forma de mediação – sem alimentar a inveja. Enfim, o Pontífice dá o caminho para um cristão viver imerso na caridade e no amor de Deus:
“Ele não se vangloria nem se ensoberbece, porque tem o senso de proporção, e não sente prazer em se colocar acima do próximo, mas se aproxima do outro com respeito e bondade, com gentileza e ternura, levando em conta suas fragilidades. Ele cultiva a humildade em si mesmo, ‘porque para poder compreender, desculpar e servir os outros de coração, é indispensável curar o orgulho’ (AL 98). Ele não busca o próprio interesse, mas se compromete em promover o bem do outro e apoiá-lo em seus esforços para alcançá-lo. Não leva em conta o mal recebido, nem propaga por meio de fofocas o que foi cometido por outros, mas com discrição e no silêncio confia tudo a Deus, sem dar margem a julgamentos.”