amizade entre os povos

Papa pede gestos concretos para uma cultura de paz e reconciliação

Francisco enviou uma mensagem por ocasião da 44ª edição do “Encontro para a amizade entre os povos”; tradicional “Meeting de Rimini”, na Itália, terá início neste domingo, 20

Da redação, com Vatican News

Foto: Fabio Pignata/IPA/Sipa/ USA via Reuters

“Não permaneçam surdos diante do grito que se eleva a Deus a partir deste nosso mundo. Os discursos não são suficientes, o que é necessário são ‘gestos concretos’ e ‘escolhas compartilhadas’”. É o que pede o Papa Francisco aos organizadores e participantes da 44ª edição do “Encontro para a amizade entre os povos”.

A mensagem do Santo Padre, assinada pelo cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, foi divulgada nesta sexta-feira, 18, e enviada ao bispo de Rimini, Dom Nicolò Anselmi. Esse tradicional “Meeting de Rimini”, na Itália, terá início no próximo domingo, 20, com a Santa Missa presidida pelo arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Cardeal Matteo Zuppi.

Neste ano, o tema central do Encontro é “A existência humana é uma amizade inesgotável”.

Tema “ousado”

No texto, o Pontífice ressalta que, infelizmente, a guerra e as divisões semeiam nos corações ressentimentos e medo, e o outro, que é diferente, muitas vezes, é visto como um rival.

A comunicação global e generalizada – continua o Papa na mensagem – “faz com que essa atitude generalizada se torne uma mentalidade”, e que “as diferenças apareçam como sintomas de hostilidade e ocorra uma espécie de epidemia de inimizade”.

Nesse contexto, Francisco afirma que o título do encontro parece ousado: “A existência humana é uma amizade inesgotável”. Ousado, prossegue, porque vai claramente contra a tendência, em uma época marcada pelo individualismo e pela indiferença, que geram solidão e muitas formas de descarte.

É uma situação da qual é impossível sair com as próprias forças, explica o Santo Padre. Segundo ele, a humanidade sempre experimentou isso: ninguém pode se salvar sozinho. É por isso que, em um momento preciso da história, o Papa pontua que Deus tomou a iniciativa: “Ele nos envia seu Filho, ele o doa, o entrega, o compartilha, para que possamos aprender o caminho da fraternidade, o caminho do dom”.

Para Francisco é definitivamente um novo horizonte, é uma nova palavra para tantas situações de exclusão, de desintegração, de fechamento, de isolamento.

Exaltar o valor da verdadeira amizade

Dirigindo-se aos jovens, o Pontífice exalta o valor da verdadeira amizade, que alarga o coração: “Os amigos fiéis […] são um reflexo do afeto do Senhor, da sua consolação e da sua presença amorosa. Ter amigos nos ensina a nos abrir, a compreender, a cuidar dos outros, a sair de nosso conforto e isolamento, a compartilhar a vida” (Christus vivit, 151).

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Citando ainda uma reflexão de Dom Giussani, o Papa recorda que “a verdadeira natureza da amizade é viver livremente juntos para o destino. Não pode haver amizade entre nós, não podemos nos chamar de amigos, se não amarmos o destino do outro acima de todas as coisas, além de qualquer ganho”.

A atitude de abertura ao outro como irmão é uma das marcas do pontificado de Francisco, de seu testemunho e de seu magistério: “O amor ao outro pelo que ele é nos impele a buscar o melhor para a sua vida. Somente cultivando esse modo de se relacionar, tornaremos possível a amizade social que não exclui ninguém”.

É precisamente a amizade social, que o Santo Padre continua a recomendar como a única chance, mesmo nas situações mais dramáticas – mesmo diante da guerra – “quando é genuína […] dentro de uma sociedade, é uma condição de possibilidade para a verdadeira abertura universal”.

Lei estabelecida por Jesus

O Papa reforça que a lei da amizade foi estabelecida por Jesus com as seguintes palavras: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. É por isso que Francisco pede os cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade que não fiquem surdos diante do grito que se eleva a Deus deste mundo.

Os discursos não são suficientes, sublinha o Pontífice, mas são necessários “gestos concretos” e “escolhas compartilhadas” para construir uma cultura de paz, reconciliação na família, com amigos ou vizinhos. “Rezar por aqueles que nos feriram, reconhecer e ajudar os necessitados, levar uma palavra de paz à escola, à universidade ou à vida social, ungir com proximidade alguém que se sente só…”, pontua.

O caminho da amizade é, de acordo com o Santo Padre, o que todos podem percorrer e a Igreja não se cansa de incentivar as pessoas a percorrê-lo, praticando quase obstinadamente essa suprema virtude humana e cristã.

Disponibilidade para uma amizade inesgotável

Nesta hora conturbada da história, o Papa encoraja para que nunca falte a disponibilidade para uma “amizade inesgotável” – fundada em Cristo e sobre a rocha de Pedro -, pronta para captar o bem que qualquer pessoa pode trazer à vida de todos, porque “as outras culturas não são inimigas contra os quais se defender, mas são reflexos diferentes da riqueza inesgotável da vida humana”.

Em seguida, Francisco cita o Papa Bento XVI: “o encontro de culturas é possível porque o homem, apesar de todas as diferenças em sua história e criações comunitárias, é um idêntico e único ser. Esse ser único que é o homem, na profundidade de sua existência, é interceptado pela própria verdade”.

Por fim, o Pontífice deseja que o Encontro para a Amizade entre os Povos continue a promover a cultura do encontro, aberta a todos, sem excluir ninguém,  e que cada um dos participantes aprenda um pouco a se aproximar dos outros à maneira de Jesus.

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