São José o carpinteiro

Papa na catequese: o trabalho é uma unção de dignidade

Papa volta a destacar o valor do trabalho, lembrando que “ganhar o pão” é algo que traz dignidade e deve ser para todos

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco na catequese desta quarta-feira, 12 / Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

“São José o carpinteiro” foi o tema da catequese do Papa Francisco nesta quarta-feira, 12. Seguindo o ciclo de reflexões sobre o pai adotivo de Jesus, Francisco destacou hoje o aspecto do trabalho, trazendo a ligação que este tem com a dignidade humana.

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“Carpinteiro” ou “marceneiro” era uma qualificação genérica, lembrou o Papa. Indicava tanto os artesãos da madeira como os trabalhadores que se ocupavam de atividades relacionadas com a construção. Um trabalho bastante duro e que, do ponto de vista econômico, não garantia grandes ganhos.

Jesus adolescente “aprendeu esta profissão com o pai”. E quando se tornou adulto e começou a pregar, explicou Francisco, as pessoas se escandalizavam com ele, porque era filho de um carpinteiro, mas falava como um doutor da lei.

Exploração e desemprego

Segundo o Papa, este dado biográfico de José e Jesus faz pensar na situação de todos os trabalhadores do mundo. Em especial, o Papa citou os que trabalham em minas e em fábricas e os que são explorados através do trabalho não declarado, ou recebem salário de contrabando, sem segurança, sem nada.

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“Pensemos nas vítimas do trabalho, que ultimamente foram muitas na Itália; nas crianças que são obrigadas a trabalhar – é terrível que uma criança na idade de brincar seja obrigada a trabalhar como um adulto! Pensemos naqueles que vasculham os lixos em busca de algo útil para baratear. Todas essas pessoas são nossos irmãos e irmãs que ganham a vida assim. Não lhes dão dignidade! Pensemos nisso. Isso acontece hoje no mundo”.

O Papa recordou também aqueles que “estão desempregados”, que procuram emprego, mas falta trabalho. Pessoas que se sentem feridas “na sua dignidade porque não conseguem encontrar um emprego” e ao voltarem para casa, sem encontrar trabalho, passam na Caritas para pegarem um pouco de pão.

“O que lhe dá dignidade não é levar o pão para casa. Você pode pegar o pão na Caritas, isso não lhe dá dignidade, mas o que dá dignidade é ganhar o pão. Se não damos ao nosso povo, aos nossos homens e mulheres a capacidade de ganhar o pão, isso é uma injustiça social naquele local, naquela nação, naquele continente. Os governantes devem dar a todos a possibilidade de ganhar o pão, pois ganhar o pão dá dignidade. O trabalho é uma unção de dignidade. Isso é importante”.

A perda do trabalho na pandemia

Francisco também mencionou os muitos jovens, pais e mães que vivem o drama de não ter um emprego que lhes permita viver serenamente. Apenas vivem o dia. Muitas vezes, observou o Pontífice, a procura de um trabalho torna-se tão dramática que são levados ao ponto de perderem toda a esperança e o desejo de vida.

“Nestes tempos de pandemia, muitas pessoas perderam os empregos e algumas, esmagadas por um fardo insuportável, chegaram ao ponto de cometer suicídio. Gostaria hoje de lembrar cada um deles e as suas famílias.

A seguir, o Papa pediu aos fiéis para fazerem um minuto de silêncio a fim de recordar as pessoas desesperadas porque não encontram trabalho.

Caminho de santificação

Segundo o Pontífice, não se leva suficientemente em conta o fato de o trabalho ser uma componente essencial da vida humana, e também do caminho da santificação. Ele destacou que o trabalho não é apenas um meio de ganhar a vida, mas é também um lugar onde nos expressamos, onde nos sentimos úteis e aprendemos a grande lição da realidade. E isso ajuda a vida espiritual a não se tornar espiritualismo.

“Infelizmente, porém, o trabalho com frequência é refém da injustiça social e, em vez de ser um meio de humanização, torna-se uma periferia existencial”, frisou.

O Papa colocou, então, alguns questionamentos: “Muitas vezes, eu me pergunto: com que espírito fazemos o nosso trabalho diário? Como lidamos com a fadiga? Vemos a nossa atividade ligada apenas ao nosso destino ou também ao destino dos outros? Com efeito, o trabalho é um modo de expressar a nossa personalidade, que é relacional por natureza. E o trabalho também é uma forma de expressar nossa criatividade: cada um trabalha à sua maneira, com seu próprio estilo; o mesmo trabalho, mas com um estilo diferente”.

E por fim, Francisco lembrou que o próprio Jesus trabalhou e aprendeu esta arte com São José. “Hoje, devemos perguntar-nos o que podemos fazer para recuperar o valor do trabalho; e que contribuição podemos, como Igreja, oferecer para que ele possa ser resgatado da lógica do mero lucro e possa ser vivido como direito e dever fundamental da pessoa, que exprime e incrementa a sua dignidade”, concluiu.

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